Ambulantes lutam pelo direito a trabalhar no Carnaval de Salvador | Foto: Reprodução imagens TV Bahia/Rede Globo
PSTU-BA

O Carnaval de Salvador é a maior festa de rua do planeta. Uma festa que nasceu com uma expressão popular, mas que se transformou em uma mercadoria pelo capitalismo, que hoje movimenta R$ 2 bilhões nos sete dias oficiais de folia. Isso sem contar todos os ensaios e festas, que começam junto com o verão e terminam no dia anterior ao início oficial da folia, o chamado pré-carnaval.

No meio dessa engrenagem financeira ganham dinheiro as cervejarias, que fecham acordos exclusivos de venda (esse ano será a Brahma/Ambev); os blocos de trios (aqueles que se consolidaram e permanecem, mesmo sendo hoje os trios pipocas, gratuitos ao povo, a maioria predominante); e o luxuosos camarotes. O último a ganhar alguma coisa para seu sustento e da família são ambulantes, em sua maioria mulheres negras, moradoras da periferia da capital baiana.

Nos últimos anos, a partir da definição de uma cervejaria exclusiva como patrocinadora e a única a ser vendida em todos os circuitos do carnaval – medida adotada ainda nos governos de ACM Neto (DEM), quando prefeito de Salvador – os vendedores ambulantes passaram a ser controlados. Tal controle, tem submetido esses trabalhadores às situações de humilhações para garantir o cadastramento para trabalhar no carnaval.

Isso tem ocorrido todos os anos. Os ambulantes dormem em filas, com chuva ou sol, para garantir a inscrição, já que o número de vagas é inferior ao número de trabalhadores que buscam se cadastrar. Pois Salvador é a capital do desemprego. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação na capital baiana chega a 17,9%, a maior entre as capitais brasileiras.

Guarda Municipal agiu de forma truculenta contra os ambulantes | Foto: Reprodução imagens TV Bahia/Rede Globo

Cadastramento on-line

Este ano, a situação piorou. A prefeitura de Salvador decidiu fazer o cadastramento on-line. Mas o sistema simplesmente não funcionou. Os trabalhadores foram para a frente da sede da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) exigir o cadastramento presencial. Com receio de não conseguir o cadastramento, trabalhadores dormiram na fila, desde a noite anterior.

A Guarda Municipal agiu de forma truculenta contra os trabalhadores, conforme imagens gravadas pelas equipes dos canais de televisão, que faziam a cobertura do protesto. Foram disparadas bombas de efeito moral, bala de borracha e spray de pimenta contra os trabalhadores. Uma trabalhadora teve a perna queimada coma explosão da bomba.

“É uma verdadeira humilhação. Todo ano é a mesma coisa. Temos que ficar na fila, passar por uma situação de penúria. Esse ano inventaram esse cadastro pela internet e a gente não consegue realizar. Queremos o cadastramento presencial”, exigia uma trabalhadora ambulante, ao vivo em entrevista à TV Bahia/Rede Globo.

Enquanto isso, o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), recebia a imprensa em um auditório confortável para anunciar a programação da festa. A jornalista Jéssica Senra, apresentadora do telejornal Bahia Meio Dia (TV Bahia/Rede Bahia), questionava o tratamento diferenciado. “Nós jornalistas também vamos trabalhar no Carnaval. Mas vejam a diferença de tratamento. É atendimento em auditório confortável, no ar condicionado. Aos ambulantes, é sol e chuva. Por que tamanha humilhação e diferença no tratamentos entre trabalhadores?”, destacou.

Pelo fim da máfia com as cervejarias

A prefeitura, até o momento, segue realizando o cadastramento on-line. Os trabalhadores ambulantes seguem mobilizados na porta da Semop.

É preciso emitir solidariedade e apoiar diretamente a luta dos trabalhadores ambulantes, pelo direito a trabalhar no carnaval.

Como parte desta luta, é preciso exigir o fim do acordo de exclusividade com as cervejarias. Chega de máfia e de acordos escusos à custa de uma festa que é do povo. Os ambulantes apontam o caminho, é preciso ir à luta!