"Lula, preste atenção solidariedade não é ocupação"
Diego Cruz

Direto de Salvador (BA)Terminou há pouco o ato em solidariedade ao povo haitiano no Fórum Social Mundia de Salvador. Cerca de 800 pessoas se reuniram na Praça Campo Grande, tradicional ponto de manifestações da cidade.

A manifestação reuniu diferentes setores dos movimentos sociais, como Conlutas, Intersindical, Consulta Popular, militantes sem-terra e sem-teto, militantes do PSTU e do PSOL e organizações do movimento negro, entre outros. A atividade foi um contraponto ao Fórum oficial não só politicamente, mas também à apatia que marca o evento governista.

Cantando palavras-de-ordem como “Também sou negro, estou aqui / solidariedade ao povo do Haiti”, os ativistas caminharam até a Praça Piedade, onde aconteceu a Revolta dos Malês, em 1835, uma das principais rebeliões negras do nosso país.

Reginaldo Rocha, do Quilombo Urbano do Maranhão, denunciou o governo Lula e sua política de ocupação. Ele condenou, também, o governo estadual de Roseana Sarney, que também colaborou com o envio de tropas ao Haiti. Reginaldo falou que a governadora “usa os bairros da periferia do Maranhão como laboratório para ocupar o Haiti”. Ele concluiu pedindo a liberdade ao povo do Haiti.

Representando a Conlutas, Luis Carlos Prates, o Mancha, ressaltou: “Conseguimos fazer aquilo que os governistas não conseguiram fazer, que é prestar solidariedade ativa ao Haiti” Ele também defendeu a campanha que vem sendo realizada pela Conlutas e chamou outras entidades a fazerem arrecadações financeiras para os trabalhadores haitianos, a exemplo dos sindicatos da Conlutas.

“Lula, preste atenção solidariedade não é ocupação”
Zé Maria de Almeida, pré-candidato à presidência pelo PSTU nas eleições deste ano, falou que “essa tragédia se somou a uma outra tragédia social, que é a dominação imperialista imposta há séculos ao Haiti, e essa tragédia é ainda mais nociva e vitima mais pessoas”.

O dirigente do PSTU fez uma denúncia contundente da política de ocupação do governo Lula: “Não é à toa que o Brasil não mandou mais 900 médicos para o Haiti, mas mandou mais 900 soldados. Sabemos que o que os soldados sabem fazer não é salvar vidas, mas tirar vidas de trabalhadores de todas as partes desse mundo”.

Sobre a campanha de solidariedade, Zé Maria disse que “é preciso mais do que nunca potencializar a solidariedade ativa aos trabalhadores do Haiti”. Ele lembrou que o PSTU, desde o início da ocupação, esta à frente da campanha pela retirada das tropas e em solidariedade ao povo do Haiti. Para ele, esta campanha da Conlutas é muito diferente da campanha oficial, realizada pelos governos e pela ONU, que, na prática, garante mais recursos para reprimir haitianos.

A violência aqui
Os manifestantes também aproveitaram para denunciar a violência contra os negros no Brasil, sobretudo na Bahia, um estado majoritariamente negro. Ana Vera, da Secretaria de Negros e Negras do PSTU, disse que “os negros em Salvador sofrem com o mesmo racismo, desemprego e violência que sofrem os trabalhadores do Haiti”.

A violência e o racismo, infelizmente, se provaram em frente aos ativistas. Quando o ato já estava encerrando, um policial baleou um guardador de carros, morador de rua do local. A vítima é conhecida como Lázaro e faz poesia e artesanato. Ele foi levado em ambulância. A população presente, revoltada, impediu que um policial acompanhasse.

Os militantes do PSTU permaneceram no local e protestaram contra a polícia. A intenção, agora, é entrar com uma denúncia junto ao Ministério Público e acompanhar o estado de saúde da vítima.

Atualizado em 30/1/2010, às 10h22