Tácito Chimato
Cláudio Donizete, do ABC Paulista

Aconteceu na noite de quinta-feira, 3 de agosto, o ato denunciando a chacina em Guarujá, na Baixada Santista, litoral de São Paulo. O ataque, justificado como uma operação contra a morte do policial da ROTA, Patrick Reis, escalou ao longo da semana para uma matança indiscriminada, saltando incialmente do bairro Vila Baiana na periferia de Guarujá para os fundões de Santos. Ao que tudo indica, conforme denunciado em uma intervenção no ato, já ocorre também nas favelas de São Vicente e na Praia Grande.

A Operação Escudo não é um caso isolado, mas nesse momento se repete pelo Brasil inteiro. Importante lembrar que enquanto essa chacina segue na Baixada, 19 homens pretos tombaram na Bahia em ação da PM, em um estado governado pelo PT. Enquanto massacres estão acontecendo simultaneamente país afora, os ministérios e o governo Lula seguem inertes”, denunciou Dina Alves, advogada do Movimento Mães de Maio.

O que está acontecendo no Guarujá

Não restam dúvidas que a operação repete um padrão, onde a população pobre e preta paga indiscriminadamente com o próprio sangue (leia mais aqui). O Estado não quer justiça, mas sim vingança, respondendo desproporcionalmente e com requintes de crueldade. Há diversos relatos de tortura e execuções à queima roupa ao meio do dia em um cenário de terror.

Esse massacre não é isolado. Foi assim nos ataques do PCC, em 2006; na Chacina de Osasco e Barueri, em 2015; e no baile da DZ7, em Paraisópolis, em 2019. Mães e familiares das vítimas do último massacre da lista também prestaram solidariedade no ato.

Maria Cristina Quirino, mãe do Dennys Guilherme, um dos rapazes vítimas do ataque na D17 e integrante do movimento 9 de Paraísópolis, falou durante sua intervenção:
O que ocorre no Guarujá é a mesma situação que matou nossos filhos em Paraisópolis, pois lá também se chamava ‘operação’. A polícia cercou várias pessoas que estavam no baile com bombas de gás em uma viela estreita para simplesmente tentar matar todos. Isso tem a deliberação do Estado, e nós sabemos que o Estado é assassino.”

Quem é pobre sofre de maneira reversa, porque não tem direito a justiça. Nós temos que lutar por isso todos os dias da nossa vida, para provar a inocência dos nossos filhos e honrar suas memórias, porque o Estado os quer como bandidos”.

Eles tentam intimidar os movimentos, mas não tem arrego!

Como fica evidente nas falas, a Chacina do Guarujá expõe como genocídio racista faz parte de uma política do Estado brasileiro, que mata e reprime deliberadamente a classe trabalhadora preta e periférica em todo o país. Como foi lembrado no ato, independente do governo, seja de direita ou esquerda, essa política segue permanente com nossa classe.

Chamou a atenção no ato a presença ostensiva da Polícia Militar, que cercou uma área em frente ao prédio da Secretaria de Segurança Pública do Estado, colocando inclusive grades e realizando revistas nos participantes que chegaram pouco depois da hora marcada. Além disso, uma das falas foi interrompida pela lamentável presença do ex-deputado cassado Mamãe Falei, que se tornou inelegível após o vazamento de áudio alegando que refugiadas ucranianas são “fáceis porque são pobres”. Ao longo de seu lamentável show transmitido ao vivo – que inclusive o catapultou pelo Youtube em 2018 – a polícia mal moveu um dedo. Após ser expulso pelo conjunto do movimento, as organizações, temendo a segurança, interromperam o ato, encerrando-o na fala de Dina Alves.

O PSTU participa de diversas frentes de luta, seja em movimentos por moradia, estudantil, sindical, de solidariedade internacional, entre muitos outros. Por isso, podemos afirmar que tal ato não condiz com a realidade. Há uma clara tentativa de intimidar os lutadores e lutadoras que estão na linha de frente exigindo respostas não só por essa chacina, mas por toda a marcha fúnebre que prossegue contra nosso povo.

O uso de mais uma matança como peça de propaganda de um governo burguês como o de Tarcísio serve aos interesses da classe dominante, que se usa de uma suposta guerra às drogas para legitimar não só esse, mas diversos massacres ocorridos ao longo dos anos. Certamente a união de mães negras em fúria contra o Estado em conjunto com o movimento organizado é um obstáculo para esse feito, e agora o governo tenta silenciar o grito de indignação por justiça a todos e todas que tombaram e tombam nessa guerra.

Claúdio Donizete, do Quilombo Raça e Classe e do PSTU ABC, deu o recado:
Da nossa parte, não tem arrego. Seguiremos presentes nas atividades exigindo justiça pela Chacina do Guarujá. Essa operação é liderada por Tarcísio, que quer sangrar nosso povo. Mas também temos que cobrar efetivamente posições do governo Lula/Alckmin sobre esse fato e outros assassinatos que vem ocorrendo no país, como na Bahia, governada pelo PT”.

Para isso, precisamos organizar nossa classe para colocar todos e todas que defendem a vida dos trabalhadores e da juventude negra nas periferias. Só assim será possível avançar na luta pela desmilitarização da PM e por justiça a todos os familiares. Tarcísio, suas mãos estão sujas de sangue, junto com a burguesia e o capitalismo do Brasil e do mundo!”.