Imagine você recebendo em casa uma conta de gás com o valor de US$ 200 dólares algo em torno de R$800. É exatamente isso o que está acontecendo na Argentina. O fornecimento de gás é essencial na Argentina e garante o aquecimento das casas durante o inverno. O episódio acima aconteceu com um irmão de um argentino que vive há anos no Brasil. Mas é apenas um pequeno retrato da catástrofe econômica imposta à população pelo governo de Mauricio Macri.

A severa crise econômica é praticamente ignorada pela grande mídia brasileira. Sabe porquê?  Por aqui o presidente Maurício Macri é vendido pela grande mídia e a maioria dos candidatos à Presidência da República – de Bolsonaro, passando por Marina e Alckmin, até chegar em Amoedo – como um modelo do que o sistema financeiro e o liberalismo deveria fazer para “superar” a crise.

Macri entregou a Argentina ao FMI. Há alguns meses celebrou um acordo com o fundo, que “emprestou” US$ 50 bilhões em troca da soberania do país e do aprofundamento dos ataques aos direitos sociais e trabalhistas. O compromisso do governo com o fundo é diminuir os gastos do Estado com as áreas sociais, realizar uma reforma trabalhista para acabar com direitos e reduzir salários para os país poder ser “competitivo” no mercado capitalista mundial. Mas é preciso a esconder os resultados dessa política econômica, o alto índice de desemprego, aumento da fome e da pobreza.

A alta do dólar e a política energética fizeram com que os preços disparassem: o peso, moeda argentina, se desvalorizou em mais de 50% desde janeiro, enquanto aumenta a importação do petróleo que faz explodir o preço dos combustíveis. O resultado é que a inflação fechará perto de 40% em 2018.

O desemprego chegou algo em torno de 9%, e Macri ainda impôs “tarifaços” de 26% a 53% sobre as contas de eletricidade, gás e água. Mas, enquanto a crise social aumenta, as principais centrais sindicais, como a CGT peronista, celebraram um acordo que limita o reajuste anual de salários a 15%.

Diante da crise social, saques em supermercados começaram a ser registrados no país. Eles não são televisionados pela grande mídia brasileira, mas estão na Internet para todo mundo ver. São os “saqueos hambre de Macri” (Saques fome de Macri). Manifestações e panelaços também são realizados espontaneamente em todo o país.

Em 2018, a Argentina assistiu uma onda verde de protestos pela descriminalização do aborto. Milhares de mulheres e homens cercaram o Congresso do país para dizer que a mulher deve decidir sobre o seu próprio corpo. A Argentina também foi palco de uma das mais poderosas greves gerais da sua história, realizada em 25 de junho, que colocou Macri contra a parede.  Vale lembrar ainda a batalha contra a reforma da Previdência em Buenos Aires, em 18 de dezembro.

A luta contra Macri pode incendiar o país. Há um novo chamado para a greve geral nos dias 24 e 25 de setembro, o que é uma nova oportunidade para começar a construir um grande movimento, fazer assembleias, ir para outras fábricas e escolas, somar à disposição, organizar a mobilização e os piquetes.

Já aqui no Brasil, todo esse projeto aplicado por Macri é exatamente igual àquele defendido pela maioria dos candidatos à presidência: reforma trabalhista e previdenciária, privatizações, “choque de gestão”, tarifaços, pagamento da dívida e transferência de dinheiro público para empresários e banqueiro. Por isso, independente de quem saia vitorioso das eleições de outubro, o que sabemos é aonde essa história vai dar: a Argentina é o Brasil amanhã.