Roberto Aguiar, de Salvador (BA)
A água cristalina do Rio do Tapajós – o mais belo dos afluentes do Rio Amazonas – está ficando turva. O azul está sendo substituído pelo amarelo barrento. Tal mudança não é resultado de um fenômeno da natureza, mas da ação de garimpos ilegais em afluentes do Tapajós, dentre os quais os rios Jamanxim, o Crepori e o Cabitutu, conforme aponta a nota técnica divulgada, no último dia 24, pelo Projeto MapBiomas (Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil).
“O garimpo ilegal na Amazônia, tanto terrestre quanto em rios (com balsas) têm crescido nos últimos anos, e uma das regiões onde este crescimento foi mais expressivo é justamente na área do Tapajós, onde triplicou nos últimos 10 anos, crescendo uma área do tamanho da cidade de Porto Alegre“, diz a nota técnica.
Essa destruição da Amazônia, seja pela derrubada da floresta por madeireiros seja pela destruição da mata e dos rios por garimpeiros, é incentivada pelo governo Bolsonaro, que defende e aplica normas mais flexíveis, que favorecem a grilagem de terra e a mineração ilegal. Bolsonaro também impôs um corte brusco no orçamento dos órgãos de fiscalização, que passam um acelerado processo de sucateamento, o que impede que servidores exerçam suas funções e tarefas.
Essa postura do governo Bolsonaro passa a sensação de “liberou geral”, incentivando a ação dos grileiros e garimpeiros. O sentimento de impunidade tem levado a abertura de novas áreas de garimpos ilegais. Levantamento realizado pelo Greenpeace aponta que 73% das áreas abertas para mineração entre janeiro e setembro de 2021 incidiram sobre áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas). Somente nas Terras Indígenas Saí Cinza e Munduruku, região sudoeste do Pará, o aumento da extensão de rios impactados pelo garimpo nos últimos cinco anos foi de quase 2.300%.
Em defesa dos povos indígenas e ribeirinhos
Segundo estudo do Instituto Socioambiental, no médio Tapajós, desde 2019 é nítido o avanço do garimpo na região. Apenas na TI Munduruku, cresceu 363% nos últimos três anos. Agora, o impacto chega às populações ribeirinhas, que assim como as indígenas, têm o rio como sustento de vida.
Os sedimentos que tomam o rio Tapajós é visível em todo seu baixo curso até a foz, inclusive em Alter do Chão, balneário distante 37 km da zona urbana de Santarém, no oeste do Pará, considerado o “Caribe Amazônico”. A Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará) identificou níveis de mercúrio no sangue dos moradores de Alter do Chão, dez vezes acima do recomendado. Garimpeiros usam mercúrio para separar o ouro dos rejeitos.
Expulsão dos garimpeiros, já!
Movimentos sociais, associações e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém divulgaram um manifesto pedindo a expulsão dos garimpeiros que atuam nos afluentes do Tapajós.
“Como esconder que cerca de 3 mil garimpos estão funcionando diariamente em barrancos e leitos dos rios, despejando poluição dentro do rio?”, questiona a carta assinada pelos movimentos sociais.
Os garimpeiros ganharam força nos últimos anos, como consequência da negligência do poder público, que tem sido aliado dos destruidores da Amazônia. No último dia 24, duas aeronaves utilizadas em operações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) foram incendiadas em Manaus, capital do Amazonas. Uma ação criminosa dos garimpeiros.
É preciso enfrentar os garimpos, que enriquecem um punhado de corruptos a custo da morte dos povos indígenas e ribeirinhos e da destruição dos rios e da floresta. O mercúrio utilizado na obtenção do ouro envenena os peixes, que servem de base da alimentação dos habitantes da floresta e das cidades.
Chega de impunidade. Prisão e expropriação dos bens de todos os envolvidos na mineração ilegal. Por medidas de fiscalização e proteção eficazes, em defesa dos órgãos públicos. Fora Bolsonaro, inimigo da Amazônia e dos povos indígenas e ribeirinhos.
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