O novo acordo do governo brasileiro com o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um “empréstimo“ de 30 bilhões de dólares e a autorização de que o BC use mais 10 bilhões de dólares reservas do país para intervir no câmbio, rebaixando assim o piso da mesma para 5 bilhões. Um montante, portanto, de 40 bilhões de dólares. Claro, o troco dos 5 bihões que ficam nas reservas não resiste nem a um mês de ataque especulativo.
Pelo acordado, os 10 bilhões de dólares das reservas e mais 6 bilhões estarão disponíveis imediatamente, o restante estará disponível para o futuro governo.
O acordo, portanto, envolve o futuro presidente da República que sairá das urnas em outubro. Se este contar com a anuência dos principais candidatos – como parece contar – a declaração feita há algum tempo pelo mega-especulador George Soros de que quem elege o presidente do Brasil são os EUA não estará tão longe da verdade.
A política econômica do futuro governo – no essencial – já estará definida antes das eleições, seja quem for o eleito. E tal política será a continuidade piorada do reinado FHC-Malan-FMI. Porque os “empréstimos“ do FMI não são de graça. Pelo contrário, paga-se muito caro por eles. Em “troca“ do empréstimo, o país assume uma série de compromissos com os banqueiros e com o próprio Fundo.
Quando fechávamos esta edição, a “Carta de Intenções“ ou os compromissos assumidos em troca do empréstimo não haviam sido ainda inteiramente divulgados. “Apenas“ foi divulgada uma das exigências do FMI: o país tem que manter um superávit primário mínimo de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB)… até 2005!
Ou seja, além dos mais de 60% do Orçamento que o governo já destina ao pagamento da dívida pública, dos 40% que sobram ele deve “economizar“ um valor igual a 3,75% do PIB. Isso é uma montanha de dinheiro. Segundo dados do Boletim da Auditoria Cidadã da Dívida, só nos três primeiros meses de 2002 o governo Federal acumulou um “superávit primário“ (isto é, o desvio de recursos em dinheiro vivo do Orçamento para o pagamento de juros) de 18 bilhões de reais, mais do que foi gasto com todas as áreas sociais.
Pelas “Cartas de Intenções“ dos acordos anteriores dá para se ter uma idéia do “ajuste fiscal“ que será jogado nas costas do povo. Este é o terceiro acordo com o fundo em menos de quatro anos.
Nesse período, o que ocorreu foi um aumento extraordinário do desemprego, do arrocho salarial, corte de verbas sucessivas nas áreas sociais e nos investimentos, uma batelada de novas privatizações (Banespa e outras jóias da coroa). Pagamos mais de 350 bilhões de dólares de juros e parcelas, sendo que apenas neste ano estamos pagando 116 bilhões de reais de juros. E a dívida diminuiu com isso tudo? Não. Pelo contrário, cresceu e muito. A dívida consolidada da União passa de 1 trilhão de reais. A dívida interna total (incluindo estados e municípios) já ultrapassa 750 bilhões de reais. E a externa já ultrapassou os 208.978 bilhões de dólares.
Post author Mariúcha Fontana,
da redação
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