Foto: Anderson Riedel
Redação

Com o cínico discurso de proteger os empregos e a renda dos brasileiros, Bolsonaro não só vem transformando o país num grande cemitério a ceu aberto, como é responsável direto pelo aprofundamento da pobreza e da miséria. Ao mesmo tempo em que atua de forma deliberada para espalhar o vírus, não garante as condições mínimas para que haja distanciamento social, não protege os empregos, tampouco auxilia o pequeno negócio.

Melhor dizendo, não atua para proteger a renda dos trabalhadores. Já a sua está muito bem, obrigado. Medida baixada por Bolsonaro em abril autoriza aumento de até 69% do alto escalão do governo, furando o texto constitucional. A nova portaria da Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia já está em vigor. Antes, o teto incidia sobre toda a remuneração, e não podia ultrapassar o salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), de R$ 39.292,32. A canetada de Bolsonaro mudou a regra, e agora o teto vale para cada vencimento. Ou seja, conta-se o salário e uma eventual aposentadoria ou soldo de militar de forma separada, na prática dobrando o teto para R$ 78.586,64.

Bolsonaro, por exemplo, recebe R$ 30,9 mil pela função de presidente, mais R$ 10,7 mil da reserva do Exército. Antes ele recebia o teto do funcionalismo, tendo abatido o valor que excedia ao limite. Mas, com a sua própria portaria, passou a receber integralmente os vencimentos, no total de R$ 41,6 mil. Ministros-generais vão ter um salto ainda maior. O salário de Mourão passa de R$ 39,3 mil para R$ 63,5 mil. O do ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, foi também do teto para R$ 66,7 mil. O impacto da medida deve ser de R$ 66 milhões ao ano.

Enquanto isso, os servidores públicos, incluindo os que estão na linha de frente no combate à pandemia, têm seus vencimentos congelados, e o conjunto da população sofre com o desemprego em massa e uma forte queda na renda.

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Desemprego e pobreza para os trabalhadores

Enquanto a mamata rola solta em Brasília, na vida real de milhões de trabalhadores o que existe é desemprego e pobreza. Em 12 meses de pandemia foram extintos 7,8 milhões de postos de trabalho, segundo levantamento da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE divulgada no final de abril. Isso fez com que o índice de desemprego batesse o recorde da série histórica iniciada em 2012, de 14,4%, ou 14,4 milhões de desempregados. Lembrando que o critério para o desemprego (desocupação) do IBGE são as pessoas que buscam emprego e não encontram no momento da pesquisa, ou seja, o número real é bem superior a isso.

Já pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), também divulgada no final de abril, dá conta de que 46% dos trabalhadores perderam parte ou totalmente sua renda durante a pandemia. 32% tiveram redução e 14% viram a renda acabar por completo.

Mas até quem conseguiu manter sua renda nesse período sentiu o peso da inflação, com as despesas mais básicas tendo um aumento 30% maior que a inflação geral em 2020. São gastos com alimentação, energia elétrica ou gás de cozinha e combustível, que subiram bem mais que os 4,5% da inflação oficial, o IPCA. Só a alimentação teve aumento de 18,16%, a energia quase 10%, e o gás junto com combustível, 21,65%.

A alta dos medicamentos autorizada pelo governo também fustiga a renda do povo. O aumento autorizado pela Anvisa agora em abril foi de mais de 10%, o maior percentual desde 2016.

Enquanto isso, no país dos que não contam com os salários de marajás de Bolsonaro e sua turma, 35 milhões vivem na pobreza extrema (dados da FVG), 116 milhões, mais que a metade da população, sofrem algum tipo de restrição alimentar, e 19 milhões passam fome, segundo dados divulgados em dezembro último pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).

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