Motoristas da Univale em greve - Foto: Luiz Pereira/Agência Primaz

Yuri Gomes, de Mariana/MG

No último ano, na região central de Minas Gerais, já foram 6 tentativas de demissões entre funcionários da empresa e terceirizadas por um simples motivo: lutar. De início, parece não ser nenhuma novidade por seu histórico e também por carregar os dois maiores crimes socioambientais da história do país. Quem trabalha na Vale sabe que o silêncio é a principal regra de ouro.

Mas o que era muita das vezes desvelado agora se tornou uma guerra aberta contra o movimento operário. Sindicalistas e cipeiros [1], que juridicamente gozam de estabilidade no emprego, são ameaçados com demissões com justa causa e falta grave, na tentativa de a grande mineradora manter a paz da altíssima exploração das minas.

Pandemia para os trabalhadores, bilhões para os grandes acionistas

O cenário da mineração tem suas particularidades. As grandes mineradoras estão estabelecidas em municípios de pequeno porte em Minas Gerais, as fazendo absolutamente dependentes da produção extrativista. A suas dinâmicas socioeconômicas ficam à deriva do mercado internacional de commodities [2].

Logo no início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro definiu a mineração como atividade essencial, não interrompendo a produção por um mísero segundo. Com o dólar nas alturas e a falta de oferta no mercado internacional, a Vale nadou de braçada durante esse período. Acumulou o lucro líquido recorde de 71 bilhões de reais nesse semestre, distribuindo 40 bilhões para seus acionistas [3].

Parte desse crescimento ficou para as empresas terceirizadas que prestam serviços para a Vale, aliás, melhor dizendo, para seus patrões. Para garantir a alta produtividade em momento de pandemia, dobraram-se os ônibus, aumentaram funções administrativas, serviços de saúde, etc.

Uma contradição então prima nas cidades mineradoras: é sentida a crise social brutal que vivemos, como a alta de inflação na comida e combustíveis, enquanto as empresas ligadas a mineração esbanjam recursos advindos do fato de ter colocado os trabalhadores e as comunidades no abatedouro capitalista da pandemia.

Cadê o nosso?

Esse sentimento alimenta uma série de revoltas em diversos pontos da linha de produção minerária, desde os motoristas que levam os operários até os operadores na área. Além de uma revolta contra as empresas, também há um questionamento quanto às representações sindicais pelegas que puxam as categorias para trás. Na insatisfação surgem oposições sindicais e sindicatos como o Metabase Inconfidentes/CSP-Conlutas passam a ser um polo de atração dos lutadores da região.

O último acontecimento é uma síntese de tudo isso. Uma paralisação de 8 dias na Univale em Mariana e Ouro Preto, empresa que presta serviço de transporte para a Vale, fazendo o que nem mesmo a pandemia conseguiu: parar por completo 2 dias do Complexo e 6 dias com produção limitada.

Uma mobilização auto-organizada pelos motoristas e com apoio da CSP-Conlutas, chamada pela imprensa local de #98daUnivale, que entrou para a história como uma das maiores lutas da mineração. Um movimento por fora e sobre o sindicato pelego dos rodoviários da região. O motivo? Aumento no cartão alimentação para suportar a crise social.

A Vale com receio da explosão crescer uniu-se com a Univale para tentar dar um golpe final no movimento.  Sem pestanejar a Univale mandou embora três cipeiros e um trabalhador que retornava da Covid-19, [5] lideranças do movimento eleitas em assembleia da categoria. Da parte da Vale foi aberto um processo de falta grave (para legitimar uma demissão com justa causa) de um operário militante do PSTU e diretor do sindicato Metabase Inconfidentes, Bruno Teixeira, que apoiava na movimentação.

Esses 5 perseguidos se somam com um companheiro da oposição do Metabase Mariana que também enfrenta na justiça um processo de falta grave por questionar a diretoria sindical que está nas mãos da empresa. Mas apesar das represálias, os seis, como também seus movimentos, seguem firmes e comprometidos em dar fim na exploração.

Fim das perseguições e novo modelo de mineração

Não podemos aceitar a criminalização daqueles lutadores que enfrentam esse monstro chamado Vale S/A, suas empresas contratadas e seus sindicatos vendidos. É preciso nos unirmos para garantir o emprego e a liberdade democrática de se manifestar. Por isso o Metabase Inconfidentes convida todas organizações políticas, sindicais, sociais e religiosas, além de ativistas, para assinarem um manifesto de apoio (segue o link no final do texto).

Além da denúncia pelas perseguições é preciso avançar no programa político para a mineração. A raiz do caráter autoritário, genocida, exploratório e submisso à demanda dos países imperialistas da mineração está em seu modelo capitalista de produção. A ganância das Bolsas de Valores é incompatível a necessidade de soberania mineral para o desenvolvimento social e ambiental. Isso ficou mais que revelado com os crimes de Mariana e Brumadinho.

Por isso, é preciso combinar a luta contra as perseguições com a luta por um modelo de mineração 100% estatal, primarizando todas as terceirizadas, e dando controle administrativo aos operários e comunidades atingidas. Só assim acordaremos desse pesadelo chamado Vale.

Abaixo-assinado

Assine o abaixo-assinado contra as perseguições na mineração e pela liberdade democrática de lutar. Clique AQUI!

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[1] Membros eleitos da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).
[2] Matérias-primas vendidas por um preço internacional.
[3] https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2021/07/30/vale-tem-o-2o-maior-lucro-liquido-da-historia-das-empresas-de-capital-aberto-brasileiras.ghtml
[4] O trabalhador foi contaminado durante o trabalho, o que configura acidente de trabalho, e por isso também teria estabilidade no trabalho.