-Tem que assinar?
-Aqui na lista.
Com a mão trêmula, carteira de identidade ao lado, seu Francisco assinou cuidadosamente, com a maior seriedade. No banco de espera de um hospital público em Diadema, aquele senhor baixo, de cabelos brancos, se sentia fazendo algo importante. Abriu um sorriso, alegre pela participação.
Na primeira semana de setembro, mais de 10 milhões de pessoas como seu Francisco votaram no plebiscito da ALCA. Sem apoio de nenhum governo (nem federal nem prefeituras do PT), sem espaço na mídia, correndo por fora das instituições do regime, uma mobilização popular veio à tona.
A ALCA foi introduzida na agenda de discussões nacional, de maneira espetacular, por uma ação do movimento de massas contra todas as ações do regime de democracia dos ricos, voltadas para as eleições.
Que diferença entre o plebiscito e as eleições de outubro! Estas eleições são manipuladas, dirigidas por marqueteiros pagos a peso de ouro, com os quatro principais candidatos apoiando o acordo com o FMI e pro-metendo mais uma vez o paraíso.
A diferença salta aos olhos também se repararmos os agentes de cada uma das campanhas. No plebiscito, os pontos de apoio foram mais de cem mil ativistas, que se esforçaram para superar as dificuldades materiais, através de inúmeras e surpreendentes iniciativas.As paróquias das igrejas, sindicatos, escolas, assentamentos de sem-terra e sem-teto de todo o país viraram comitês antiimperialis-tas. As urnas se espalharam nas praças públicas, estações de metrô, trem e ônibus, agências da previdência e hospitais. Valeu de tudo para entrar nas empresas e recolher os votos.
Estes ativistas da campanha da ALCA são os mesmos que garantem as greves, ocupações de terra, atos públicos, são o que de melhor existe neste país. Não são os cabos eleitorais pagos das eleições de outubro, que estão também presentes no PT.
Após uma década de aplicação do modelo neoliberal, de privatizações, acordos com o FMI, guerras promovidas pelos EUA, há uma crescente consciência antiimperialista, que, em geral toma a forma de uma postura antinorte-americana.
Os milhões de votos neste plebiscito materializaram este progressivo sentimento antiimperialista no rechaço à Área de Livre Comércio das Américas, ou melhor, ao Acordo para Legalizar a Colonização da América Latina.
Post author Eduardo Almeida,
da direção nacional do PSTU
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