Manifestação do 8 de março em SP
CSP Conlutas

Central Sindical e Popular

Marcela Azevedo, do Movimento Mulheres em Luta (MML)

Não há um dia que não acessemos o noticiário e não nos deparemos com notícias de violência contra a mulher. É estarrecedor. O sentimento é de repulsa, de nojo, e a percepção do quanto é difícil combater esse machismo tão naturalizado e arraigado  ao sistema capitalista.

Nesta segunda-feira (11), foi a notícia do médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso em flagrante no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João do Meriti, na Baixada Fluminense (RJ), por estuprar uma mulher grávida durante o parto.

Como isso pode acontecer? Num hospital, na hora do parto, quem deveria proteger sua vida, a violenta? É difícil até de imaginar.

Que as mulheres são vítimas de violência obstétrica, aquela que ocorre no processo do parto, não é novidade e nós denunciamos intensamente. Agora, estupro de um profissional que naquele momento é responsável pelo bem-estar da paciente, que tem domínio sobre o corpo da mesma, é mais do que indignante.

Colegas de trabalho desconfiados com atitudes suspeitas do anestesista – como o excesso da quantidade de uso da anestesia e um jaleco pouco usual, maior que os normalmente utilizados – resolveram filmá-lo com um celular escondido em um armário com porta de vidro. As imagens mostram o “profissional” colocar o pênis na boca da paciente enquanto outros profissionais realizavam o parto. Atrás de um pano que impedia que os demais integrantes da equipe visualizassem a parturiente, Giovanni cometeu o crime. Ele foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de reclusão.

Medidas também estão sendo tomadas pelo Cremerj, Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Saúde. Certamente, existem outras vítimas e é importante que também denunciem.

Nos deparamos com esta notícia quando há duas semanas seguidos casos de violência contra a mulher também esteveram em manchetes.

Funcionárias da Caixa Econômica Federal denunciaram o presidente do banco Pedro Guimarães por assédio sexual. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público Federal. As declarações causaram repulsa tamanho o grau de abuso de poder no ato do assédio.

Os portais Intercept e Catarinas noticiaram que a menina de 11 anos de Santa Catarina seria mais uma criança forçada a gerar um filho fruto de estupro, porque foi impedida de realizar o aborto legal. Não fosse a visibilidade do caso, ela entraria para a triste estatística brasileira: Mais de 17 mil garotas de até 14 anos foram mães em 2021, conforme dados coletados pelo SUS.

Outro exemplo de violência contra a mulher a ganhar espaço na mídia no mesmo período foi o vazamento de informações a respeito da gravidez da jovem atriz de 21 anos, Klara Castanho. A jovem teve seu direito à privacidade violado pela mídia sensacionalista e por trabalhadores do hospital em que realizou o parto. Ela, que também foi vítima de estupro, descobriu a gravidez tardiamente e optou pela entrega para adoção.

Segundo o Anuário Brasileiro Sobre Segurança Pública, somente em 2021 houve 66.020 ocorrências de estupro em mulheres adultas e crianças e são números subnotificados. Os números reais seriam quatro vezes maiores e chegariam a cerca de 290 mil estupros

Esses são apenas casos que tiveram mais destaque, mas os dados indicam também que a cada uma hora ao menos quatro meninas menores de 13 anos são estupradas no Brasil. Como aceitar isso? É inaceitável!

Sob o governo Bolsonaro, vivemos um período de ações conservadoras e de direita sobre o direito das mulheres, que ferem principalmente as mais vulneráveis: as pobres e negras, porque dependem da saúde pública. Num período também em que as mulheres são desqualificadas e o machismo é estimulado. Portanto, garantir os direitos das mulheres é uma luta do conjunto da classe trabalhadora e do povo pobre como parte da luta contra a exploração e a opressão.

A reação dos movimentos de luta contra a opressão e violência contra as mulheres é de todas as entidades da classe trabalhadora e deve ser proporcional à tamanha barbárie. Não podemos ficar caladas diante disso, muito menos achar que depois de outubro não teremos mais problemas como esses. A revolta é pra agora! Chamamos todas as mulheres e homens trabalhadores a lutarem conosco imediatamente.

Marcela Azevedo – Dirigente do MML (Movimento Mulheres em Luta) e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas