Com o vexame histórico da Seleção na “Copa das Copas” realizada em nossas terras, e a desclassificação prematura no Chile neste final de semana, abriu um forte debate na mídia sobre a crise instalada.

Tudo isso foi acompanhado de escândalos de corrupção que abalou os alicerces da FIFA, CBF e do mundo da cartolagem. Foi revelado ao mundo o “Padrão FIFA” de bandidagem.

Os documentos revelados pelo jornal Estado de S. Paulo (clique aqui) http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,documentos-mostram-como-a-cbf-vendeu-a-selecao-brasileira,1688813 mostram como a Seleção foi vendida aos empresários da bola. Tudo aquilo que nós já imaginávamos nas conversas de mesa de bar, era altamente organizado através de contratos entre a CBF, os agentes dos jogadores e patrocinadores.

As convocações, as substituições e a titularidade são definidas não somente pelo talento ou pela necessidade da Seleção, mas sim pelos contratos secretos. Essa é a crise central da Seleção Brasileira de Futebol. Os escolhidos por Dunga para bater os pênaltis contra o Paraguai contrariam todas as leis do futebol, mas talvez atenda as leis do mercado. Ao invés de optar pela experiência e frieza, Dunga escolheu Everton Ribeiro, que substituiu estranhamente Robinho nos minutos finais do jogo.

Alguns levantam como hipótese para crise a saída prematura dos nossos jogadores para o mercado europeu. Mas até aí nenhuma novidade. Desde o Brasil colonial somos exportadores de matéria-prima (commodities, para os íntimos do poder) e importadores de tecnologia. Parte importante dos jogadores brasileiros sequer cria vínculos emotivos com a torcida daqui, mas isso não explica o fracasso da Seleção na Copa do Mundo e na Copa América.

Outros dizem que o jogador brasileiro tem sua criatividade castrada pelo padrão tático europeu de força e velocidade. Também não concordo. Lionel Messi caminha para ser pela quinta vez o melhor jogador do mundo com habilidades e criatividade extraordinárias. Neymar também não parece ter perdido nenhum pouquinho o futebol de moleque da Vila. Romário, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno fizeram exibições que encantaram o mundo com jogadas típicas do “futebol arte”.

Até parece que o Campeonato Brasileiro ostenta um futebol super habilidoso e a Europa um plano cartesiano. É exatamente o contrário. A disciplina, força e velocidade alemã são acompanhadas de um toque de bola impecável. Quase não se vê chutão pra frente ou passes errados.

Também não adianta tentar implementar o planejamento alemão na Seleção Brasileira, porque são países de naturezas opostas. Enquanto a Alemanha atravessa a crise econômica mundial através da exploração e rapinagem de países como a Grécia, o Brasil é um país semicolonial, totalmente dependente, exportador de commodities.

Não poderia acabar esse artigo sem citar a declaração do nosso técnico, que transborda de racismo e ignorância a todo instante. Dunga pisoteia aqueles que construíram as bases de nosso país durante três séculos de escravidão, onde negros e negras foram raptados de suas casas na África e trazidos em condições subumanas para o Brasil. Fizeram daqui a sua casa. Fizeram e fazem até hoje uma heroica luta de resistência contra o racismo e a exploração. Afinal, “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”.    

O futebol brasileiro é a crise de um modelo que não privilegia as categorias de base; que anseia o lucro recorde e rápido; que destrói qualquer possibilidade de amor à camisa. Quem viu o jogo Colômbia X Argentina sabe do que estou falando. Foi uma verdadeira batalha campal. Uma entrega em campo que só assistimos entre nossos hermanos nos jogos de Libertadores.

A crise da Seleção Brasileira está fora das quatro linhas e é de ordem política.