O Opinião Socialista conversou com o metalúrgico e militante do PSTU Luiz Carlos Prates, o Mancha, dirigente nacional da CSP-Conlutas. Ele esteve em Brasília e falou em nome da Central na reunião realizada, no dia 18 de janeiro, com o presidente Lula (PT) e o ministro do Trabalho Luiz Marinho.

Em sua intervenção, Mancha ressaltou as práticas antissindicais, denunciou as demissões e perseguições contra a classe trabalhadora e dirigentes sindicais. Importante ressaltar que Mancha é um dirigente sindical que foi demitido de forma arbitrária pela General Motors em São José dos Campos (SP). Neste momento, há uma campanha política em defesa de sua reintegração.

Em seu discurso, Mancha também reafirmou a independência e autonomia da CSP-Conlutas frente aos governos e aos patrões. O metalúrgico também defendeu a revogação das reformas trabalhista e da previdência, o cancelamento das privatizações, o fim do Teto de Gastos, o não pagamento da dívida pública e a valorização do salário mínimo.

A fala de Mancha repercutiu bem junto aos trabalhadores e ativistas que estão na vanguarda das lutas, e também teve destaque em veículos de imprensa.

Como você avalia a reunião das Centrais Sindicais com o presidente Lula (PT) e com o ministro do Trabalho Luiz Marinho, realizada em Brasília no dia 18 de janeiro?

A reunião foi importante, frente ao cenário de ataques que o movimento sindical e a classe trabalhadora brasileira sofreram com o governo reacionário de Bolsonaro (PL).

Começamos a intervenção repudiando as ações golpistas promovidas pela ultradireita em
Brasília no dia 8 janeiro e cobramos de Lula a prisão e o confisco dos bens dos golpistas e do ‘clã Bolsonaro’. Sem anistia a golpistas.

Contido, essa luta unitária contra a ultradireita e o repúdio às ações golpistas não podem ser confundidos como apoio ao governo. A CSP-Conlutas manterá sua independência e autonomia, para lutar em defesa das pautas do trabalhadores.

Isso é necessário, pois apesar da importância da reunião, não podemos deixar de pontuar que o atual governo não se comprometeu de concreto com as demandas apresentadas, como a revogação das reformas Trabalhista e Previdenciária, é a valorização do salário mínimo.

Como se deu a participação da CSP-Conlutas na reunião?

Nós, da CSP-Conlutas, afirmamos que a situação de vida dos trabalhadores está cada vez pior e defendemos uma saída socialista para o país. Além da revogação das reformas neoliberais, pautamos a defesa do piso salarial da enfermagem, o cancelamento das privatizações, o fim do Teto de Gastos, o não pagamento da dívida pública e a valorização do salário mínimo, que segundo o Dieese, deveria ser de R$ 6 mil reais.

Também, reafirmamos a total independência e autonomia da CSP-Conlutas perante o governo Lula-Alckmin. Nossa tarefa é dar continuidade à organização e mobilização dos trabalhadores em defesa dos direitos, com independência de classe.

Na ocasião entregamos ao governo Lula um Programa Emergencial com propostas que buscam atender as necessidades mais sentidas pela classe trabalhadora e o povo pobre. Esse Programa Emergencial está disponível no site da CSP-Conlutas.

Na reunião, Lula falou que será necessária muita pressão dos trabalhadores pelas suas reivindicações, porque o Congresso Nacional é conservador. Como você avalia essa fala do presidente?

A organização e mobilização da classe trabalhadora precisa ser independente. O movimento sindical, assim como os demais movimentos sociais, não podem ser um apêndice do governo. Temos que atuar de forma independente e autônoma, conduzindo nossa pressão e mobilização contra o governo e o Congresso Nacional, pois o governo Lula tem sua responsabilidade, não pode apenas tentar jogar a responsabilidade ao Congresso. Lula está disposto a se enfrentar com os patrões, com os latifundiários, com os banqueiros para defender as pautas históricas dos trabalhadores? Lula vai se enfrentar com o Congresso conservador? Infelizmente, não é isso que tem mostrado. Inclusive o PT negociou o apoio à reeleição de Arthur Lira (PP) para a presidência da Câmara. Por isso, repito o que disse em minha fala na reunião, somente com a mobilização dos trabalhadores seremos capazes de promover as mudanças necessárias, somente com liberdade para lutar, para nos organizar, para criar comitês de luta, teremos um sindicato livre e os trabalhadores poderão organizar seu próprio projeto.

Como está a relação das grandes Centrais Sindicais com o novo governo?

As demais Centrais Sindicais, incluindo as duas maiores – CUT e Força Sindical – apoiam o programa do governo Lula-Alckmin. Isso foi expresso nas intervenções feitas pelos seus representantes na reunião. Achamos que isso é um erro, inclusive um erro já cometido durante os outros governos do PT. Nós defendemos a total independência e autonomia das Centrais Sindicais e demais organizações da classe trabalhadora em relação aos governos e patrões. O papel das entidades sindicais não é ser correia de transmissão do governo dentro do movimento, mas sim a de cumprir o papel de organizar um plano de lutas em defesa dos direitos dos trabalhadores, com autonomia e independência de classe.


Você também participou de uma reunião com o ministro Luiz Marinho, que debateu a regulamentação do trabalho por aplicativo. Como foi?

Estive presente. Hoje, milihares de trabalhadores de aplicativos estão submetidos ao trabalho precarizado, sem direitos trabalhistas. É importante que sejam adotadas medidas que enfrentem essa situação. Nos sentimos orgulhos em termos cedido espaço aos representantes dos trabalhadores em aplicativos, em particular ao companheiro Paulo Gallo, que é um dos líderes dos Entregadores Antifascistas de São Paulo. Ele usou o tempo que era destinado à CSP-Conlutas para falar na atividade por compreendermos a necessidade de participação da categoria na reunião, que também contou com outras lideranças de aplicativos.

Na reunião, tirou-se como encaminhamento que cada Central Sindical produzirá com as organizações de base da categoria as propostas para serem encaminhadas até o dia 13 de fevereiro ao Ministério do Trabalho.

Uma nova reunião ficou indicada para ser realizada entre os dias 13 a 17 deste mês para apresentação das propostas. Em seguida, uma sistematização será feita pelo Dieese respeitando o prazo de 23 a 28 de fevereiro.

Uma reunião indicada para acontecer em um dia da semana de 6 de março deverá deliberar sobre a proposta de pauta e propostas unificadas, além de deliberar sobre estratégias de ação e formar a Mesa de Negociação da Bancada dos Trabalhadores.

Quais são as tarefas coladas à classe trabalhadora brasileira?

Temos vários pontos urgentes que constam em nosso Plano Emergencial entregue ao governo Lula tais como a garantia de empregos, fim do trabalho precarizado, valorização dos salários, fim das privatizações e o combate à fome.

Essas pautas só serão alcançadas com mobilização e luta. E é a isso que a CSP-Conlutas se propõe, organizando esse processo pela base, em cada local de trabalho, moradia e estudo, buscando a unidade da classe trabalhadora – do campo e da cidade.

Leia o Programa Emergencial da CSP-Conlutas