Bairro de Santo Amaro, São Paulo (SP), 9h15. Em frente a uma agência de emprego, está Bruno, 17 anos, a procura do primeiro emprego com carteira assinada. Umas dez cópias xerocadas do currículo, carteira de trabalho no bolso e um tanto de desânimo.

Desânimo porque esta rotina já é a mesma há mais de um ano. De semana em semana, de lá pra cá, batendo perna pela cidade atrás de emprego, sem ter resultados. Hoje, ao ler a manchete do jornal exposto na banca, desanimou-se mais ainda: “Crise econômica já afeta os possíveis empregos de fim de ano no comércio”.

Já numa grande cidade do interior Paulista, São José dos Campos, se encontra Magrão, jovem desprovido de excesso de peso e gordura, como se repara pelo apelido. Magrão, metalúrgico desde os 15 anos idade quando ingressou no Senai, tem 24 anos, mora junto com a noiva e uma filhinha de oito meses.

Eles moram numa casa nos fundos da de seus pais. Está tentando juntar uma grana pra dar entrada numa casa própria pela Caixa Econômica Federal. Financiada, é claro. Magrão, nos últimos meses, que nem ele mesmo costuma dizer, trabalhou igual a um burro de carga. Foi obrigado a cumprir excessivas horas-extras numa fábrica de autopeças.

Dá mesma maneira que Bruno, Magrão, ao chegar à fábrica, ouviu dos companheiros de trabalho a notícia de que a General Motors, principal compradora de peças da fábrica, está dando férias coletivas para os trabalhadores. E já rola na “Rádio Peão” que a empresa poderá demitir alguns funcionários.

Os dois personagens citados acima, como milhares de trabalhadores do país fazem a mesma pergunta:

– Será que essa crise nos afeta?

A crise econômica de fato chegou é já esta mostrando a sua cara. O assunto ainda é pouco entendido. Existe muita incerteza sobre as dimensões dessa crise no bolso do trabalhador.

O governo Lula tenta a todo o momento acalmar os trabalhadores dizendo que o Brasil está “mais forte” para enfrentar a crise. Porém as indústrias multinacionais instaladas no Brasil são, na grande maioria, americanas e européias. Essas sugam cada vez mais as riquezas produzidas por nós, para tentar salvar a economia de seus respectivos países.

A crise econômica está afetando muito o mercado brasileiro. Graças à desvalorização do Dólar em relação ao Real e à escassez de créditos, as vendas de veículos têm caído. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a diminuição na venda de veículos chegou a apresentar 13,8% em outubro, uma queda muito brusca.

Montadoras como GM, Volks, Fiat e Ford já anunciaram férias coletivas, e já se fala. Como diz um ditado muito conhecido, a corda sempre arrebenta no lado mais fraco.

As autopeças já começaram a demitir. Fábricas de São Paulo, ABC, interior paulista e de estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná já se anteciparam e começam a fazer cortes de funcionários.

O que a juventude tem a ver com isso?
Aqui, porém, queremos tratar de um setor específico dos trabalhadores: a juventude. O desemprego juvenil, a cada mês atinge níveis alarmantes. Esse é o setor geracional da população que mais sofre no mundo do trabalho.

Mais da metade dos jovens brasileiros estão desempregados. Segundo pesquisas, o desemprego atinge cerca de 60,7% dos jovens do país. O número é alarmante. Essa massa de jovens e adolescentes tem esperanças de dias melhores, mas a estrutura do mercado de trabalho, a ganância dos patrões e o descaso dos governos destroem não apenas a esperança, como também a possibilidade imediata de sair dessa situação.

O desemprego juvenil é um dos graves problemas da sociedade. Problema esse não só enfrentado pelos jovens brasileiros. Segundo a ONU, temos hoje, no mundo, mais de 1 bilhão de jovens. Quase um quinto das pessoas com idade entre 15 e 24 anos tem de sobreviver com menos de um dólar por dia e quase metade vive com menos de dois dólares por dia.

Os jovens constituem um quarto da população economicamente ativa, porém representam metade do total de desempregados no mundo. As demissões, a reestruturação produtiva e oportunidades insuficientes para entrar no mundo do trabalho expõem os jovens a uma vida de desespero e miséria. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), no mundo há cerca de 88 milhões de jovens na situação de desemprego, o que representa 45% do total de indivíduos desempregados no planeta, 195 milhões de trabalhadores.

Entre as causas do desemprego juvenil estão a reestruturação produtiva, a adoção de novas tecnologias como robótica, informatização da produção, políticas de gestão como Kaizen, 5S, Just Time, Kanban, Lean Manufacture etc. além de diversas formas encontradas pelos capitalistas de exploração da força de trabalho como trabalho informal, os contratos temporários, programas de estágio, banco de horas etc.

As duas últimas décadas transformaram o mundo do trabalho no Brasil, pois o desemprego voltou a ser um fenômeno de massa, ao mesmo tempo em que cresceu a precarização das condições de trabalho, em especial a ampliação do emprego informal. Os jovens passaram a ter dificuldades para ingressar e permanecer no mercado de trabalho. O desemprego entre os jovens se destaca como uma das características da transformação do mercado de trabalho brasileiro durante a década de 1990.

A crise econômica mundial
Vale salientar que, inclusive em períodos de crescimento econômico e de diminuição do desemprego total, o desemprego dos jovens não tem demonstrado tendência à queda, ou pelo menos não na mesma proporção que para a população adulta. Segundo a OIT, o crescimento econômico na última década foi puxado por um aumento de produtividade e não de postos de trabalho. Enquanto a taxa de produtividade cresceu 26% nos últimos dez anos, o número de empregos aumentou apenas 16,6%, afirmou a OIT.

Deste modo o discurso dos patrões e dos governos de que o desemprego é resultado da falta de formação não é verdadeiro, pois houve uma ampliação dos índices de escolaridade e têm-se, atualmente, os jovens mais qualificados de nossa história. Os patrões aproveitam os altos níveis de desemprego na juventude para aumentar as exigências tanto de qualificação, escolaridade e experiência profissional, o que torna mais difícil a conquista do primeiro emprego ou de um novo posto de trabalho.

Essa situação e os números de desemprego citados acima são expressões dos últimos anos no Brasil e no mundo. O que queremos alertar são as possíveis conseqüências de desemprego com a crise econômica que já nos assombra.

Muitas empresas já começam a demitir, férias coletivas estão sendo anunciadas nas principais empresas do país. Mesmo nessa época de fim de ano, o comércio já anunciou que haverá poucas contratações em relação aos outros anos e as que existirem terão poucas possibilidades de efetivação após o término do período de festas de fim de ano.

Alertamos e fazemos um chamado a todos os trabalhadores em especial a juventude, juntamente com os sindicatos e organizações da juventude, sejam elas estudantis, culturais e esportivas a nos organizarmos e prepararmos a luta contra o desemprego, que já é uma dura realidade a se agravar ainda mais com a crise econômica. Essa conta é dos patrões e não dos jovens trabalhadores. São eles que devem pagar pela crise. As demissões têm de ser respondidas com mobilizações e greves.

Os “Brunos” e “Magrões”, jovens desempregados e empregados devem lutar juntos contra a exploração capitalista e uma de suas principais doenças: o desemprego.

*”Radio Peão” é o apelido dado às conversas nos corredores das empresas entre os trabalhadores – notícias, fofocas, boatos – que são difundidos no ambiente de trabalho. Muito usado, principalmente, nas fábricas.