Redação

Denúncias sobre a farra dos cartões corporativos ganharam corpo nos últimos dias. Jóias, chopinhos, caríssimos jantares e até tapiocas e compras em freeshop. Estes foram alguns dos gastos dos ministros do governo Lula pagos pelos cartões com o dinheiro público.

De acordo com a Controladoria Geral da União (CGU), os gastos com os cartões cresceram 129% no ano passado, comparados com 2006, chegando a R$ 75,6 milhões.

Cartão para a repressão

Um dos setores do governo que apresentou mais gastos foi o chamado “serviço de inteligência”. Segundo os dados, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) gastou R$ 11,5 milhões. Rescaldo do Serviço Nacional de Informação (SNI), criado durante o regime militar, a agência dedica-se, atualmente, a infiltrar-se e espionar as organizações dos movimentos sociais.

Os gastos da Agência foram blindados, impedindo que se conheça o verdadeiro destino deste dinheiro, chamado de “verba secreta”, pois a Abin é isenta da fiscalização externa.

Dinheiro gasto para bancar a espionagem dos “James Bonds” brasileiros? Certamente, mas não só. Dentro da própria Abin, há suspeitas de que o dinheiro esteja sendo usado de maneira irregular. Uma reportagem do ‘Correio Brasiliense´, ouviu agentes afirmando que o dinheiro tem sido gasto de forma irregular em despesas pessoais e regalias de seus dirigentes.

Ministros fazem a festa

O caso considerado mais grave pelo governo envolve a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, que usou seu cartão para compras em freeshop e também para pagar contas em restaurantes e choperias cariocas. Só com aluguéis de carros, a ministra gastou R$ 67 mil em 2007.

Matilde Ribeiro encontra-se agora na corda bamba. O desgaste provocado pelo escândalo do cartão corporativo poderá constar o seu cargo na Esplanada dos Ministérios, segundo avaliação do próprio Planalto.

Outro ministro que utilizou dinheiro público para bancar privilégios foi Orlando Silva, dos Esportes. Segundo o Portal da Transparência, Orlando utilizou o cartão para pagar vários jantares em luxuosos restaurantes. Só um deles, num restaurante nos Jardins em São Paulo, custou a bagatela de R$ 468. Mas o ministro não parou por ai, usou seu cartão para pagar a conta de mais dois restaurantes, uma de R$ 198,00 e outra de R$ 217. Até uma tapioca foi paga pelo cartão.

Os cartões corporativos foram criados no governo de FHC, em 2001, para substituir as contas “tipo B”, nas quais os servidores pagavam suas despesas em cheque.

Quando Lula chegou ao governo, seu uso foi ampliado na proporção dos seus gastos. Hoje circulam 11.510 cartões que estão não mãos de ministros, assessores, apadrinhados políticos lotados em estatais, ministérios etc. Deslumbrados pelo poder, esta gente se comporta como novos ricos, aumentando em milhões as despesas dos cartões ano após ano. A primeira dama Marisa da Silva, por exemplo, já usou o cartão até em salões luxuosos de cabeleireiros.

Além da farra dos ministérios, os cartões também são moeda de troca no esquema político. O deputado que vota a matéria favorável ao governo pode adquirir pra seus afilhados lotados em algum ministério alguns cartões corporativos de lambuja, além de outras regalias.

Parece que o cartão coorporativo está inaugurando uma nova modalidade de corrupção. Quer propina? Bota no cartão em três vezes sem juros.