PSTU na Parada do Orgulho em 2022
Pedro Henrique Ferreira, da Juventude do PSTU e da Secretaria Nacional LGBT

No dia 28 de junho de 1969, centenas de LGBTI’s tomaram as ruas de Nova York em uma verdadeira revolta contra a opressão e a violência cotidiana que sofriam. A rebelião das LGBTI’s começou na resistência à repressão policial no bar Stonewall e durou 4 dias e 4 noites. Passaram-se 53 anos desse dia histórico que é mundialmente reivindicado como dia do orgulho LGBTI.

No entanto, pouco temos pra celebrar neste mês do orgulho. O Brasil segue sendo o país onde mais lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais são assassinadas. Por aqui seguimos engrossando com peso a fila dos desempregados, subempregos, quando não estamos completamente excluídas do trabalho e somos forçadas à prostituição.

Segundo o Grupo Gay da Bahia, 300 LGBTI’s morreram de maneira violenta no Brasil no ano de 2021; dessas 92% foram assassinadas e 8% se suicidaram, um aumento de 8% se comparado com 2020. Não por coincidência, ocorre esse aumento no momento em que a piora das condições de vida se aprofundam, e mais e mais LGBTI’s são empurradas à miséria, sem condições de manterem as necessidades mínimas de sobrevivência.

O capitalismo em períodos de crise, buscando saídas para manter a taxa de lucro dos ricos, aposta na superexploração, com o aprofundamento das opressões, principalmente da LGBTIfobia, da xenofobia, do racismo e do machismo.

O uso do discurso de ódio pela ultradireita, como Bolsonaro e de líderes religiosos como Malafaia, são parte de uma campanha permanente dos ricos e poderosos para impor condições ainda piores aos oprimidos da classe trabalhadora, e assim submeter a classe de conjunto, facilitar e aprofundar a exploração e dividir a classe operária.

Bolsonaro inimigo das LGBTI’s

Desde o início da sua trajetória política Bolsonaro, se utiliza da LGBTIfobia para conseguir votos, antes como deputado e no último período como presidente.

Ainda em 2012, quando era deputado federal, defendeu que Feliciano seguisse como presidente da Comissão de Direitos Humanos na Câmara. Pouco tempo depois, foi um dos principais opositores do kit-escola sem homofobia, projeto que instituía educação sexual nas escolas e que foi engavetado por Dilma.

Durante o processo eleitoral, Bolsonaro retoma sua campanha de falsificação ao redor do “Kit gay”, utilizando mais uma vez o conservadorismo LGBTIfóbico como trampolim eleitoral. Para além dessas medidas, já como governo, Bolsonaro não destinou um centavo sequer ao combate à LGBTIfobia e segue com seu discurso discriminatório, que dissemina o ódio contra LGBTI’s.

Ele é a face desnuda de um sistema decadente e que se alimenta da barbárie social. Representante de um setor de ultradireita, apoiados nos setores mais conservadores, eles são hoje são os principais agentes de um verdadeiro retrocesso nas conquistas democráticas dos setores oprimidos a nível mundial, com projetos como o Escola sem Partido no Brasil, a restrição ao direito do aborto nos EUA, as ameaças de revisão da jurisprudência do casamento homoafetivo, a criação das zonas livres de LGBTIs na Polônia, etc.

Fora Bolsonaro! Nenhum compromisso com os conservadores e com os patrões!

Neste sentido, botar para fora Bolsonaro e sua corja é fundamental, e urgente. Contudo, enterrar de vez seu projeto autoritário e opressor não pode se limitar ao voto contra Bolsonaro.  A derrota da ultradireita será construída nas ruas, tendo os setores mais explorados e oprimidos à frente, auto-organizados de forma independente dos patrões e governantes.

Mas além de Bolsonaro, outros setores se utilizam das pautas LGBTI’s para se elegerem. Se por um lado Bolsonaro ataca descaradamente os setores oprimidos, a chapa Lula e Alckmin tenta, através de uma falsificação histórica do que foram os governos PT, ganhar votos das LGBTI’s. Não podemos esquecer que Dilma vetou o kit escola sem homofobia para preservar o então ministro de seu governo, Antonio Palocci, ameaçado de cassação, e que seu governo recorreu à Justiça para dificultar a inclusão dos procedimentos cirúrgicos voltados para a população trans no SUS.

Além do que, a ausência de políticas efetivas de combate à violência é diretamente responsável pelo aumento considerável de assassinatos a LGBTI’s durante os governos petistas.

Tudo isso demonstra que a estratégia da conciliação de classes – agora com a chapa Lula-Alckmin em aliança espúria com setores como Pastor Izidorio – só favorece a classe dominante.

A defesa de uma alternativa socialista é parte da nossa luta agora, para que nem Bolsonaro nem outra figura LGBTfóbica ocupe o seu lugar, e para que conquistemos desde os direitos mais básicos até a liberdade sexual e de identidade de gênero plena numa sociedade igualitária e justa.

Pink Money e a ilusão de libertação

Nos últimos anos, com o aumento da discussão a respeito do combate à LGBTIfobia, vemos mais e mais empresas e burgueses adotando uma política de “diversidade” e “inclusão”. No entanto, essa imagem é somente uma fachada que ajuda a vender seus produtos. Sua imagem pública inclusiva não passa de pura ilusão e hipocrisia. As mesmas empresas que, em junho, adotam a bandeira do arco-íris em seus logos são as que todos os dias exploram a mão de obra barata das LGBTI’s e se aproveitam da LGBTIfobia pra nos colocar nos piores postos de trabalho, nos pagando os salários mais baixos e sem direitos.

Não bastando o lucro que obtêm com a superexploração, os empresários lucram milhões criando espaços e produtos destinados às LGBTIs, como boates, clubes, eventos e bens de consumo com o perfil LGBTI para atrair esse setor, como a nova propaganda do carro Polo. Tentam vender que o consumo destes produtos seria a libertação da opressão, mas só neste contexto restrito e, claro,  para aqueles que podem pagar.

Um exemplo é a Parada do Orgulho de São Paulo. O evento surgiu como luta das LGBTI’s contra a opressão e hoje em dia é controlado pelo setor hoteleiro da cidade, rendendo grandes lucros pro setor. Segundo dados divulgados pelo Observatório do Turismo da cidade de São Paulo, 40% dos participantes da Parada eram turistas, e a média de gasto de cada um deste girava em torno de R$ 1900.

Para além do setor hoteleiro outras empresas como Vivo, Amstel, Burger-King e Smirnoff investiram seus capitais na Parada e, como parte do retorno, controlam politicamente o evento. Não por acaso, esse controle político resulta no slogan limitado da parada de “vote com orgulho”, muito distante do caráter da revolta de Stonewall e das primeiras paradas do orgulho que defendiam a necessidade de mudança social.

Não basta votar com orgulho: O empoderamento das LGBTI’s trabalhadoras só será possível derrubando a burguesia

Muitas LGBTI’s depositam a esperança de que as eleições possam resolver nossos problemas e reverter a piora das condições de vida que temos acumulado nos últimos anos.

Diversos setores, como o PSOL, PT, PCdoB apontam que a eleição em massa das LGBTI’s para os mandatos de deputados e senadores poderia promover os nossos direitos a partir de lá e, que, desta maneira, simplesmente votar em LGBTI’s e elegê-las, resolveria nossos problemas, independente do programa que defendem.

Ao mesmo tempo, diversos setores apregoam que eleger Lula acabaria, por um passe de mágica, com a miséria, o desemprego e a LGBTIfobia de conjunto. Nós do PSTU acreditamos que não é bem por aí.

O fato de a composição do parlamento ser majoritariamente heterossexual e cisgênero reflete justamente a limitação da democracia burguesa. Este regime e o próprio sistema capitalista são incapazes de expressar a diversidade da classe trabalhadora.

Neste sentido, as pré-candidaturas do PSTU, através do Polo Socialista Revolucionário, buscam justamente expressar a composição da classe trabalhadora: negra, feminina e LGBTI. Mas tendo a compreensão programática de que as opressões só podem ser resolvidas com uma mudança radical da sociedade, e com a construção de uma sociedade socialista onde medidas concretas de combate à LGBTIfobia sejam implementadas. Para isso é fundamental que o poder seja exercido pelos próprios trabalhadores, em toda sua diversidade, com democracia operária através dos conselhos populares.

Façamos Stonewall de novo, e façamos além: construamos o socialismo!