Demitidos há um ano e meio e sem receber suas rescisões e direitos, cerca de 90 peões tomaram a iniciativa de se organizar e foram para a porta da empresa Madef, em Canoas, nessa segunda-feira (11/9). O Sindicato dos Metalúrgicos do município deu baixa nas carteiras de 200 trabalhadores que até agora não receberam nada. Sem resposta e apoio do sindicato e passando necessidades, uma parte deles se mobilizou pelo whatsapp e foi pressionar por uma solução diante do descaso e não cumprimento do patrão com suas obrigações nas relações de trabalho.

No local foi eleita uma comissão de trabalhadores que está tentando negociar com a empresa. “As pessoas estão querendo só o que é seu por direito. Eles dedicaram grande parte da sua vida profissional ao crescimento da empresa e hoje muitos ainda estão desempregados”, relata o ex-trabalhador da Madef, já aposentado, e militante do PSTU, Warner da Rosa Ripoll, mais conhecido como Maradona. Ele, que até hoje não conseguiu sequer a baixa na carteira, se uniu ao grupo e faz parte da comissão eleita.

Maradona intervindo na assembleia dos trabalhadores

A Madef é uma empresa de refrigeração comercial, localizada no município de Canoas, região metropolitana da capital gaúcha. Do setor frigorífico, que deve quase R$ 2,4 bilhões ao INSS, incluindo aí a JBS, a empresa está entre as 500 maiores devedoras da previdência social no país¹. Foi levada à leilão pela justiça federal no início do ano por dever mais de R$ 230 milhões de reais em processos trabalhistas e tributos federais². No entanto, não aceitou o valor avaliado pela justiça e continuou funcionando com cerca de 40 trabalhadores sem carteira assinada e gera recursos que mantém o seu faturamento. Como? Por meio da formação de grupo econômico com outras empresas como a Refrigo e a Rima, que fornecem material e serviços para manter os lucros. E para os 200 peões demitidos, nenhuma resposta ou proposta de quitação de suas obrigações. “Não são apenas 200 pessoas, são 200 famílias que dependem desses recursos para seguirem seus caminhos”, afirma Maradona.

As empresas que alegam não ter dinheiro para pagar os salários dos trabalhadores e os demitem, além de não quitar as rescisões, não devolvem as isenções fiscais e outras doações dos governos que saem na verdade do bolso do trabalhador. Ao deixar de receber tributos das grandes empresas, os governos jogam nas costas dos trabalhadores e trabalhadoras o custo disso. Só no Rio Grande do Sul são cerca de R$ 15 bilhões que deixam de entrar nos cofres públicos e que poderiam ser usados nas áreas da saúde, da educação, da moradia, da segurança e outros setores. Mas ao contrário, além de serem isentas de muitos tributos, as grandes empresas ganham terrenos e outros benefícios em nome da “geração de emprego”. Só que na primeira crise, fecham as portas, demitem os trabalhadores, os deixam na mais absoluta miséria e se transferem para outras regiões e estados, onde muitas vezes mudam de nome e seguem com seus lucros exorbitantes. Em Canoas, várias empresas fizeram a mesma coisa. A Micheletto fechou as portas entre 2013 e 2014. Em 2015, foi a vez da MWM International e 2016 a GE – General Eletric (ex-Coemsa, Areva e Alstom) que anunciou o fechamento da unidade Wind, fábrica de torres eólicas. Empresas de médio e grande porte também têm demitido, como é o caso da Agco e Midea Carrier, sem contar as de pequeno porte, como a Metalúrgica Francap.

A mobilização dos trabalhadores nessa segunda-feira surtiu efeito positivo, fazendo com que o sindicato fosse até o local e mediasse uma reunião com o dono da empresa e com a justiça. Uma audiência está marcada para hoje (14/9), às 15h, onde estarão presentes a comissão eleita pelo grupo, a diretoria da Madef e seus advogados. Na ocasião, será solicitado ao Juiz que determine de imediato a data para execução do leilão judicial da empresa no valor de R$ 63 milhões pré-estabelecido em avaliação já realizada pela justiça.
Os trabalhadores aguardam com ansiedade uma resposta positiva e definitiva desta situação que se prolonga há bastante tempo. Por isso, estarão todos juntos nesta quinta-feira na frente da sede da Justiça Federal, em Canoas, para pressionar a decisão do Juiz. Após a audiência, uma assembleia dos trabalhadores vai avaliar seu resultado e os próximos passos a serem tomados.

O PSTU está junto nesta batalha e dando todo apoio e solidariedade necessários para que os trabalhadores e trabalhadoras organizados possam lutar pelos seus direitos! MADEF pague o que deve – Trabalhador não é brinquedo!

[1] http://auonline.com.br/web/noticia.php?id=27384%7Cjbs-e-a-empresa-que-mais-deve-para-a-previdencia
[2] http://www.blogdojuares.com.br/noticia/16074/justica-federal-de-canoas-leva-a-leilao-complexo-industrial-da-madef.html