As más condições de trabalho que imperam em boa parte das obras públicas ou privadas no Brasil são resultado da superexploração das empresas sobre os trabalhadores, do descaso dos governos e da omissão de sindicatos que se encontram atrelados aos interesses dos patrões e dos governos. O crescimento no número de acidentes ao longo dos últimos anos acompanha também o chamado “boom da construção civil”, estimulado por projetos políticos como o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de João Henrique (ex-PMDB, atual PP), em Salvador, e o PAC dos governos Lula e Dilma.

Não é à toa que a relação de “ajuda” entre empreiteiras e governos ocorre: as construtoras foram responsáveis pela “doação” R$ 107 milhões para a campanha eleitoral de Dilma à presidência, 41% do total; para a campanha de Jaques Wagner ao governo da Bahia, a cifra chegou a R$ 10,3 milhões, totalizando 39% do volume global dos gastos. Com o governo Lula não foi diferente. As empreiteiras, segundas maiores financiadoras da campanha eleitoral da sua reeleição, hoje são agraciadas com lucros recordes. Por exemplo, somente a construtora MRV, responsável por 85% dos lançamentos do programa “Minha Casa, Minha Vida”, anunciou este ano o maior lucro líquido da história da empresa. Além disso, são inúmeros os escândalos de corrupção que envolvem altos figurões do governo e construtoras.

O site da WikiLeaks revelou uma conversa secreta entre o presidente da construtora americana Cyrela, Eli Horn, e o embaixador americano Clifford Sobbel, onde eles classificaram Lula como “o melhor presidente para o setor imobiliário que o Brasil já teve”, e que “a lua-de-mel está só começando”, referindo-se ao boom da construção civil de 2007. Além disso, só as construções voltadas à população de baixa renda com incentivo do governo, como as previstas pelo “Minha Casa, Minha Vida”, seriam responsáveis por cerca de R$ 3,5 bilhões de lucros para seus acionistas em 2011. Aos operários do setor, porém, restam um ritmo de trabalho cada vez maior, baixos salários, jornadas prolongadas e segurança precária.

Situação vai piorar
Como se não bastassem os problemas já enfrentados pelos operários nas obras regulares, foi aprovado o Regime Diferenciado de Contratações para as obras da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Com a desculpa de agilizar as obras supostamente atrasadas, esse regime permite o fechamento de contratos a partir de um valor prévio estimado para gastos com a obra, incluindo materiais e mão-de-obra, facilitando (e legalizando) o superfaturamento e a lavagem de dinheiro.

Além disso, o novo regime aprovado pelo governo facilita a superexploração dos trabalhadores, que podem ficar expostos a condições mais precárias de trabalho, incluindo maquinário e equipamentos de proteção individual de baixa qualidade e mão-de-obra reduzida, aumentando a carga de trabalho e os perigos durante a execução dos trabalhos. Esses riscos remetem aos problemas enfrentados pelos operários que trabalharam nas obras da Copa do Mundo da África do Sul de 2010, que enfrentaram baixos salários e um regime extenuante de trabalho, superexploração resultante da grande pressão dos governos e empresas para a entrega das obras no prazo.

Enquanto as grandes empreiteiras deitam e rolam sobre seus lucros astronômicos, buscam ao mesmo tempo aumentá-los ainda mais através da superexploração, que suga as vidas de milhares de trabalhadores todos. E esses números (dos lucros e dos acidentes) só tendem a crescer, haja vista o aumento da exploração, da redução de direitos e do arrocho no ritmo de trabalho para compensar os efeitos da crise econômica mundial. O capitalismo mata ao colocar a vida dos trabalhadores abaixo dos seus lucros!