Alessandro Furtado, de Juiz de Fora (MG)

Um novo 8 de março se aproxima. É mais um momento das mulheres trabalhadoras saírem às ruas para demonstrar a condição de violência e exploração que o capitalismo as submete. E, acima de tudo, sua força para derrotá-lo. As diversas instituições que compõem o sistema para a extração da mais-valia precisam que as mulheres ocupem diversificados postos de trabalho. E diga-se de passagem: a grande maioria dos empregos precarizados, com condições mínimas de salubridade e salários míseros, são endereçados a elas. A perpetuação de um sistema de exploração encontra na opressão das mulheres trabalhadoras um agente importante para aumentar os lucros e perpetuar sua manutenção.

Diante de um cenário de aprofundamento de crise econômica e da apresentação de medidas de austeridade e ajustes fiscais, mulheres do mundo inteiro se organizam para que esta seja também uma data que demonstre o seu papel enquanto sujeito de destaque e importância, para dar um basta na exploração que configura e auxilia na reprodução do machismo, ideologia utilizada pelo capitalismo para superexplorar metade de nossa classe. É tarefa dos homens e mulheres de nossa classe ser parte desta luta.

Algumas correntes do movimento ligadas a organizações de direita (burguesas) defendem diretamente uma saída nos marcos do capitalismo e pouco se importam com as trabalhadoras. Por outro lado, partidos de conciliação de classes como o PT apresentam programas que enganam mulheres da classe trabalhadora e desviam a luta de seu propósito principal que seria organizar os de baixo para derrubar os de cima. Além disso, confundem os setores mais explorados da classe e não deixam que se perceba a relação íntima entre a opressão e a exploração.

Assim , torna-se factível observar que o machismo é uma ideologia que divide a classe trabalhadora. O machismo se apoia na falsa concepção de que as mulheres são inferiores ao homem. Essa ideologia adquire ares perversos quando observada na prática, e ajuda a explicar as diferentes condições entre homens e mulheres: explica as desigualdades nos salários, no trabalho, nos altos índices de violência contra as mulheres.

Como aliada ao machismo, a LGBTfobia se desenvolve e se afirma também como uma ideologia pronta para dividir e superexplorar a classe trabalhadora. O motor do capitalismo funciona nessas condições: transforma setores de trabalhadores diferentes em desiguais, em categorias que serão consideradas inferiores e serão incorporadas como tal. A origem da opressão à mulher se relaciona também à origem de opressão às pessoas LGBT’s. Numa sociedade em que o homem é considerado o centro da família, o heterossexual representa o indivíduo perfeito para gerar e reproduzir a mão-de-obra barata , fornecendo força de trabalho para perpetuar a exploração capitalista. Assim, quem não se encaixa no padrão heterossexual imposto por esse sistema, compõe um grupo que, em quase totalidade das situações, estará localizado nas posições mais degradantes na organização social.

Mesmo assim e apesar da história que apresenta séculos de opressão às LGBTs, o protagonismo dessas pessoas em processos de lutas e levantes diante da atual conjuntura é nítido. As grandes manifestações de junho de 2013, que levaram milhões de pessoas às ruas no Brasil, foram provocadas por diversas razões, dentre elas a repulsa pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos na época, o deputado evangélico Marco Feliciano (PSC), que apoiava o projeto de “cura gay”, elaborado pelo deputado João Campos( PRB /Goiás ). As LGBTs se revoltam , tomam as ruas e conquistam heterossexuais para defender seus direitos , gritando o “fora Feliciano” em uníssono.

Outros episódios tão marcantes também foram protagonizados pelas LGBTs, que lideraram ocupações nas escolas secundaristas em 2016, contra a hipocrisia da reforma do Ensino Médio, que inicia seu desenvolvimento em pleno governo Dilma Rousseff (PT). Em 2017, por todo o país pipocam atos contra as terapias de reversão sexual – de novo a ridícula “Cura gay”, agora então debatida por um grupo de psicólogos , porém contrariando uma resolução do próprio Conselho Federal de Psicologia, que impede serem aplicadas tais práticas em consultórios de psicoterapia. Os atos nas ruas de diversas cidades do país ganham proporções gigantescas, o que leva ao engavetamento, mais uma vez, do infame projeto.

Apesar de tal protagonismo, o Brasil ainda é o país que mais mata LGBTs no mundo. Em 2017,a cada 20 horas uma pessoa LGBT foi assassinada em nosso país. A cada 48 horas, uma pessoa trans foi assassinada, em 2017. Todos os crimes praticados com aspectos de crueldade. Dentro da sigla LGBT, a população trans sofre demasiadamente com a violência, diante da crença na sua anormalidade, decorrente do fato de que o gênero atribuído no momento do nascimento deve ser, perpetuamente, aquele com o qual a pessoa deva se identificar por sua vida. Mas, tais dados de violência, só comprovam que conservadores querem calar a voz dos grandes protagonistas dos levantes.

Diante de tais fatos, 8 de março se apresenta como uma data para reunir toda a classe trabalhadora e também as mulheres trans que dela fazem parte contra as maldades de um governo que rasgou a CLT e quer aprovar a cruel reforma da previdência. É preciso unir a classe e compreender que as bandeiras das trans são parte das bandeiras da classe e que a luta por seus direitos democráticos fortalece a luta dos trabalhadores como um todo. Vamos às ruas continuar todo o levante das lutas e gritar também por pautas mais específicas, como o fim da violência, o direito ao nome social e a criminalização à LGBTfobia.

Que o 8 de março seja mais seja o ponto de apoio para as lutas, para a organização da classe operária, das mulheres, dos negros e das LGBTs. Só um mundo socialista será capaz de livrar o povo pobre da opressão e da exploração cruéis do capitalismo.