capa do jornal Independência Operária

Opinião Socialista é herdeiro de uma história de mais de 35 anos de uma imprensa voltada à luta dos trabalhadores

 

Você que adquiriu essa edição especial do Opinião Socialista já deve conhecer o jornal semanal do PSTU. Provavelmente, deve ter estranhado quando, pela primeira vez, um militante veio lhe oferecer o jornal e discutir os temas ali apresentados. Realmente, não é algo comum hoje, um partido político, mesmo de esquerda, editar um jornal regular. A grande maioria dos partidos já abdicou desse tipo de veículo, ou, quando ainda publica um jornal, simplesmente o distribui.

A importância do jornal
Desde a sua fundação há 15 anos, o PSTU sempre editou um jornal. No entanto, pode-se dizer que o Opinião é fruto de uma tradição bem anterior. Remonta à imprensa da principal corrente que formou o PSTU, a Convergência Socialista e mesmo antes, a Liga Operária, fundada há 35 anos.

O jornal é um elemento central para uma organização leninista, ou seja, um partido ou corrente que pretenda fazer a revolução e levar a classe trabalhadora ao poder. Através dele os militantes discutem com os trabalhadores os principais problemas colocados pela realidade, suas propostas e sua concepção de organização. Daí a importância dessa ferramenta. Por isso não é estranho que o jornal da Liga Operária tenha chegado ao Brasil antes mesmo que a própria Liga.

Do Independência Operária à Convergência Socialista
Em 1973, um grupo de exilados brasileiros na Argentina funda a Liga Operária, já com o objetivo de retornar ao Brasil e se lançar na tarefa da construção de um partido revolucionário. Em fevereiro de 1974, remetem a contatos o primeiro número de sua publicação, o “Independência Operária”, um jornal artesanal, publicado em papel mimeografado.

O segundo número sai já em março e faz um chamado à luta contra a ditadura militar e a carestia. A partir daí segue um hiato de seis meses até o terceiro número do jornal. Agora, porém, a Liga Operária já está no Brasil e o jornal passa a ser publicado no país. Com recursos escassos, o Independência Operária é impresso a mimeógrafo a álcool, de forma clandestina. Reflete agora, porém, a luta de classes e a realidade política do Brasil de forma mais direta.

A partir daí a publicação seguiu o vertiginoso crescimento da própria corrente. Aos poucos, porém, o tamanho da Liga Operária começou a não comportar uma publicação nos moldes do Independência Operaria, num período de dura repressão.

Versus
O jornal alternativo Versus, fundado por Marcos Faerman, um dos mais importantes do período, foi uma solução para superar o problema. A redação de Versus abrigava vários jornalistas vindos do exílio, de diversas correntes. Aos poucos, os militantes da Liga Operária foram ganhando grande parte dos jornalistas, especialmente para sua principal política no período: a fundação de um Partido Socialista no Brasil.

A campanha, lançado nas páginas de Versus em 1978, desembocaria no Movimento Convergência Socialista, nome que a Liga viria a se apropriar pouco depois. Junto a isso, o alternativo, fundado como um jornal de cultura latino-americano, se volta às mobilizações operárias do período. É lançado então o Versus-Convergência Socialista, edição especial de Versus para o movimento operário.

Convergência Socialista
Com a consolidação da CS e sua inserção no PT, a corrente, já com o novo nome, passa publicar em março de 1979 o seu jornal homônimo. Agora, o jornal já não é artesanal e expressa a importância política da corrente. “Estamos aprendendo tudo de uma vez só”, título da reportagem sobre as greves no ABC, São José e Jundiaí, publicada em seu número zero, expressa bem aquele período.

O Convergência Socialista atravessou toda a década de 1980 trazendo em suas páginas as principais lutas da classe operária. Da luta contra a ditadura, pelas Diretas, a retomada dos sindicatos das mãos dos pelegos, passando pelas mobilizações contra a inflação e o arrocho.

Jornal do PSTU e Opinião Socialista
Com a expulsão da Convergência Socialista e a fundação do PSTU, o partido passa a publicar o “Jornal do PSTU”, que dura de 1994 a 1996 quando, em junho, é lançado o “Opinião Socialista”. Então quinzenal, duas cores, tamanho grande, o OS traz as lutas contra o neoliberalismo, principalmente contra as privatizações levadas a cabo pelo governo FHC. Em 1999, lança o chamado de “Fora FHC e o FMI”, movimento que chegou a ter expressão de massa e que reuniu quase 100 mil pessoas em ato em Brasília.

Em maio de 2004, o Opinião Socialista dá um salto e lança um novo jornal, com projeto gráfico atualizado, tamanho tablóide, em cores e semanal, um projeto mais próximo a esse jornal que você tem mãos. O OS tenta responder assim à nova realidade, agora sob o governo Lula e a ágil dinâmica da luta de classes.

Um jornal da classe trabalhadora
Nesses 35 anos, a corrente morenista no Brasil teve sempre o jornal como um instrumento de fundamental importância para sua construção e intervenção. Por que poucas organizações mantêm ainda um jornal regular? Porque abandonaram a concepção leninista de partido, a independência de classe e o objetivo da revolução socialista dirigido pela classe operária. Princípios que ainda norteiam a atuação do PSTU e do Opinião Socialista.

Depoimento
“Aí está falando da minha vida”

“Há um companheiro que era operário da construção civil e ele estava entrando no PSTU. Na reunião, quando líamos o Opinião Socialista, fomos descobrir que ele não sabia ler. E ele me contou uma história que, depois de uma dessas reuniões, ele chegou em casa por volta de meia-noite. A companheira dele acordou, ele tomou um banho, comeu, sentou na cama e pediu a ela que lesse um trecho do jornal. E quando ela terminou a leitura, ele perguntou o que ela havia entendido. Ela disse ‘eu não entendi muita coisa’. E ele disse: ‘pois aí está falando da minha vida, essa é a minha vida’, e explicou a ela a matéria do jornal.

Atnágoras Lopes, militante do PSTU e dirigente do sindicato da Construção Civil de Belém (PA)

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