Congresso em maio será um marco na superação das velhas direções governistas e na construção de uma nova alternativa para os trabalhadoresEntre os dias 5 e 7 de maio, milhares de delegados eleitos na base dos sindicatos, oposições, movimentos populares e estudantis de todo o país reúnem-se na cidade de Sumaré (a 120 Km da capital de São Paulo) para o evento que representa um marco na reorganização do movimento de massas no Brasil. O Congresso Nacional dos Trabalhadores (Conat), convocado pela Conlutas, deverá lançar as bases de uma nova organização, independente e combativa, em contraposição à CUT.
Fecha-se um ciclo
A eleição de Lula e a subida ao poder de um governo que aprofundou a política neoliberal de FHC aceleraram um processo que já ocorria a passos largos há alguns anos. Completa-se a irreversível burocratização da CUT e sua incorporação ao Estado. Ao manter atrelada a principal direção dos trabalhadores e travar suas lutas, Lula conseguiu aprovar medidas que atacaram direitos históricos da classe, como o caso da reforma da Previdência em 2003. Além disso, impôs um programa neoliberal ao país, que inclui arrocho fiscal e salário mínimo de fome.
A CUT, fundada em 1983 em meio a um vivo processo de lutas e mobilizações, representou, naquele momento, um salto na organização dos trabalhadores. Permitiu que os setores mais combativos se unissem e superassem as velhas direções sindicais, representados pelos pelegos da ditadura, atrelados ao governo. Desta forma, a CUT foi fundamental para a unificação desse processo, possibilitando a retomada dos sindicatos e a formação da maior central classista da América Latina.
No entanto, sua burocratização e incorporação ao Estado, ocorrida durante essas duas décadas, aprofundada durante os anos 90 e acompanhando o giro à direita do PT, transformou o que era uma ferramenta de luta em uma trava para a mobilização e, mais do que isso, em uma ferramenta do Estado para impor mais ataques aos trabalhadores. No governo Lula, a CUT já é um instrumento do governo, como ficou claro na nomeação de seu então presidente Luiz Marinho para o Ministério do Trabalho.
Abre-se outro ciclo
Os ataques do governo e da CUT não passaram incólumes. Setores importantes e cada vez mais numerosos dos trabalhadores resistiram e começaram a romper com Lula e com a central. Tal processo, aberto com a reforma da Previdência em 2003 e tendo à frente o funcionalismo público, prossegue até hoje incorporando também diversas outras categorias, como os trabalhadores da iniciativa privada e os lutadores dos movimentos sociais. Como aconteceu no final dos anos 70 e início dos 80, está ocorrendo um processo de ruptura com as antigas direções.
A construção da Conlutas, iniciada em 2004, no Encontro Sindical Nacional, em Luziânia (GO), apóia-se nesse processo, evitando a dispersão e unindo os setores combativos. Nesses dois anos, a Conlutas constituiu o único pólo nacional de resistência e luta, tanto ao governo quanto à CUT. A coordenação impulsionou mobilizações específicas das categorias, campanhas nacionais, como o combate à reforma Sindical e Trabalhista, bem como importantes manifestações nacionais contra o governo e a oposição burguesa em meio à crise política de 2005, marcada pelas denúncias de corrupção.
Todos ao Conat
No entanto, assim como ocorreu durante a formação da CUT, setores de esquerda que se colocam contra o governo impõem obstáculos à reorganização do movimento e à superação de suas direções. Nos anos 80, enquanto os setores mais conscientes da classe trabalhadora construíam a CUT, houve uma parcela que se colocou ao lado dos pelegos: o PCdoB e o PCB acusavam a CUT de divisionista e seguiram junto a eles em centrais como a CGT. Hoje, a esquerda da CUT cumpre o mesmo papel, colocando-se contra a ruptura com a central e a formação da Conlutas. Estão na contramão da reorganização do movimento. O P-SOL, infelizmente, ainda se encontra dividido com um setor empenhado na construção da Conlutas e outro defendendo a CUT.
Não existe nenhuma possibilidade de unificar a luta dos trabalhadores contra o governo e seus plano econômico dentro da CUT governista. Não foi por acaso que as principais mobilizações nacionais contra o governo foram articuladas por fora e contra a CUT. Foi assim com a greve da Previdência e a manifestação dos 50 mil em Brasília organizada pelo funcionalismo em 2003. Foi assim com as importantes manifestações organizadas pela Conlutas em Brasília nos dias 16 de junho de 2004 e 17 de agosto de 2005, as maiores mobilizações contra o governo.
É necessário que a esquerda da CUT rompa definitivamente com a central e realize conosco um Conat vitorioso, construindo uma verdadeira alternativa de todos os setores explorados e atacados pelo governo.
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