Os militantes honestos da esquerda socialista do PT estão neste momento em uma encruzilhada: ou rompem com o PT e o governo Lula, ou vão seguir legitimando um governo que se enfrenta com uma greve nacional como a do funcionalismo.

De um lado estarão, junto com o governo, todos os partidos burgueses mais importantes, a Rede Globo, os banqueiros e o FMI. Do outro, estarão os funcionários em greve, os sindicatos, entidades estudantis e populares mais conscientes. Depois desta greve, independente de seu resultado imediato, os que seguirem no PT terão em suas biografias uma ação comum com tudo o que há de pior no país contra uma greve justa de trabalhadores.

A traição da esperança de uma geração

Toda uma geração de ativistas do movimento ajudou a construir o PT. Centenas de milhares de militantes dedicaram boa parte de suas vidas para que Lula um dia governasse o país. Hoje, com seis meses de experiência, é possível afirmar com clareza que o governo do PT não apenas continua, como aprofunda os planos neoliberais de FHC.

Isto ainda não está na consciência da maioria das massas, mas já pode ser constatado pelos ativistas de esquerda.

Quem está em disputa?

Parte da militância que construiu o PT está hoje nos aparatos de parlamentos, prefeituras ou do governo federal. Uma das lições básicas do marxismo é que a existência determina a consciência. Por isso, não devemos esperar que essa parte rompa com o governo pelo balanço destes seis meses, pois sempre será possível construir uma ideologia para seguir no PT. A mais difundida delas é a de que este governo está em disputa: “Tem elementos negativos, mas vários positivos”.

Segundo esta ideologia, o governo não tem uma definição de classe. Uma mobilização de massas e uma proposta consistente pode convencê-lo a ir para a esquerda. Já, se não houver mobilização, nem projeto claro, a pressão da burguesia pode levá-lo para a direita.

Nessa visão, Lula e os quadros existentes no governo seriam um vaso oco, à espera de ser preenchido por um ou outro lado.

Esta ideologia não resiste à realidade. A última prova virá com a greve do funcionalismo. Os funcionários têm uma proposta clara: a retirada da PEC 40 para debater outro projeto, que beneficie os trabalhadores e ataque banqueiros e sonegadores.

Pela teoria do “governo em disputa”, isto deveria bastar para levar o governo a adotar a proposta dos servidores. Mas, o que vai ocorrer é uma dura luta de classes: a burguesia e o governo de um lado contra um setor dos trabalhadores do outro.
O governo não está em disputa. Quem está em disputa são as massas que ainda acreditam no governo e começaram a desconfiar que algo está errado. Estão em disputa centenas de milhares de ativistas honestos, que um dia construíram o PT e que agora estão perplexos.

Por que e até quando?

Não sobram muitas ideologias para seguir no PT, ao se deixar de lado a do “governo em disputa”. Antes existiam os que diziam ser necessário apoiar Lula para que ele chegasse ao poder. Já chegou. Existiam os que diziam ser necessário esperar por uma grande traição do governo Lula para poder romper. Lula está querendo impor a reforma da Previdência e traindo os mais de dez milhões que votaram contra a Alca no ano passado. Existiam os que diziam que era necessário que um setor das massas fizesse a experiência e rompesse com o governo. Isto está ocorrendo com a reforma da Previdência e a greve do funcionalismo: milhões que votaram em Lula estão rompendo com o PT.

Falta o quê então para romper com o PT? Falta que o partido dê um exemplo de funcionamento stalinista, ao punir e expulsar aqueles que seguem defendendo resoluções de congressos petistas? Isto está em curso com o processo aberto para expulsão de Luciana, Babá, João Fontes e Heloísa.

Se as correntes da esquerda petista seguirem no PT depois das expulsões, teremos que chegar à uma triste constatação. Não ficaram por acreditar que o PT possa ser um instrumento de transformação social. E sim, por cálculo eleitoral, para eleger parlamentares ou, mais triste ainda, para manter cargos nas prefeituras e governos. A esquerda estará demonstrando assim, sofrer da mesma adaptação eleitoral da Articulação.

Hoje esta discussão tem enorme importância porque definirá os votos dos parlamentares da esquerda petista na reforma da Previdência. Luciana Genro, Babá, João Fontes e Heloísa Helena já declararam inúmeras vezes que vão votar contra a “reforma”, mesmo com a clara ameaça de serem expulsos.

O restante da esquerda petista (também o PC do B) apontou para o sentido oposto: o de votar a favor da reforma. Estão dispostos a votar junto com o governo um ataque brutal contra os trabalhadores para seguir no PT. Seguir para quê e até quando? Não existe nenhuma resposta real a esta pergunta, que não passe por cargos no aparato e cálculos eleitorais.

Existe a possibilidade de que Heloísa Helena, mesmo votando contra a reforma, não seja expulsa do PT (ao contrário dos outros radicais), por sua importância. Mas aí valerá também para ela a pergunta: para quê seguir no PT e até quando? Como disse a própria Heloísa no ato em defesa dos radicais, realizado em São Paulo no dia 28 de junho: “até quando vamos legitimar um partido que tem esta prática”?

O problema não se resume a ser ou não ser expulso. Mas sim, em romper ou não com este partido. Ao seguir no PT depois da votação da Previdência, os parlamentares da esquerda petista estarão, como dizia a própria Heloísa, legitimando este partido para atacar os trabalhadores com outras reformas do FMI.

Nós, do PSTU, fazemos um chamado a toda esquerda petista : Façam como Luciana Genro, Babá, João Fontes e Heloísa Helena: votem contra a “reforma”. Rompam com o PT, e venham junto conosco construir um novo partido de esquerda, democrático em seu funcionamento interno, claramente contra a Alca e as reformas do FMI. Um partido voltado para a ação direta , para as lutas dos trabalhadores e não somente para eleições.

A nossa proposta é deflagrar um movimento amplo por um novo partido com todos aqueles que rompam com o PT pela esquerda. Juntos, vamos discutir pelo tempo que for necessário (provavelmente alguns anos) o programa e a forma de funcionamento deste novo partido. Este movimento por um novo partido seguiria aberto a novas rupturas que venham a ocorrer no PT e a todo o ativismo, se fortalecendo como uma alternativa política ao governo Lula.

Esta é uma encruzilhada histórica. Que não se enganem os que buscam saídas apenas táticas para problemas políticos deste porte. Todas as correntes da esquerda petista viverão crises de grande envergadura, caso não rompam com este partido na votação da reforma da Previdência.

Post author Eduardo Almeida Neto,
da Direção Nacional do PSTU
Publication Date