As telenovelas são o principal produto dos meios de comunicação de massa no Brasil. Acompanhadas por milhões, elas criam modismos, influenciam comportamentos e levantam polêmicas. Contudo, elas estão longe de ser puro entretenimento. Desde sempre, as novelas servem para transmitir os valores da elite dominante. Seja por aquilo que elas colocam no ar, seja por aquilo sobre o que elas se calam.
Nesse sentido, o livro A Negação do Brasil baseado na tese de doutorado de Joel Zito Araújo é uma leitura fundamental. Analisando novelas de 1963 a 1997, o autor concluiu duas coisas: a existência de negros e mestiços ou é simplesmente negada ou é apresentada aprisionada aos mais racistas estereótipos (escravos, empregados domésticos ou totalmente serviçais ou irrecuperavelmente malvados ).
A obra (também disponível em um excelente documentário) resgata uma história onde já houve um pouco de tudo. Em 1969, em A Cabana do Pai Tomás (um clássico do servilismo negro), o papel principal foi interpretado por Sérgio Cardoso, com o rosto pintado. No mesmo ano, em Vidas em Conflito, uma família negra de classe média negra foi simplesmente eliminada da história.
Depois disso, ainda durante a ditadura, um ator negro somente obteve algum destaque em 1975, quando Milton Gonçalves interpretou um hiper bem-comportado e integrado psiquiatra, em Pecado Capital.
De lá para cá, muita coisa mudou. Mas basta ligar a TV, às 19h, para ver que a primeira novela com uma negra no papel principal tem o absurdo título de Da Cor do Pecado (afinal, a cor da pureza é o branco…) e, no elenco, há menos de 5 personagens negros. A história dos negros no Brasil continua sendo negada.
Post author Wilson H. da Silva, da redação
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