Santa Clara, 18 de janeiro. As crianças correm pela rua, escutamos risadas vindas de um edifício e podemos ver pais e mães esperando por seus filhos: não é mais que uma velha escola em Santa Clara. Um edifício muito velho abriga esses jovens. A escola sofre com as péssimas condições. Nas salas pequenas, as paredes mal se sustentam. A qualidade da educação é uma das conquistas que ainda sobrevivem, mas já com buracos em suas entranhas. O que farão os meninos e meninas depois que terminarem sua educação em um país que não garante um salário maior que 30 dólares?

A opinião popular é um indicador preciso do que se passa em Cuba. Os cubanos reconhecem a “qualidade” da saúde e educação, no entanto, apontam que esses serviços estão piorando. Encontramos Pedro numa fila de ônibus na periferia de Havana. Questionado sobre a qualidade da saúde e educação, o trabalhador responde: “está piorando, cada vez mais. Desde a década de 90 os serviços sociais pioram… As atuais reformas atacam ainda mais”.

Do mesmo modo, a queda na qualidade da saúde é inegável. A atenção médica segue gratuita, mas os medicamentos são escassos e, na maioria dos casos, as pessoas têm que comprá-los. Assim comenta Rafael, que faz “bicos” para sobreviver em Havana: “troco os livros por medicamentos ou roupas. Aqui em Cuba o dinheiro não existe, para mim o mais importante é se tenho acesso a medicamento ou roupas”.

Contra-reformas atacam o povo
Em 2010, o PIB cubano cresceu anêmicos 2,5%, enquanto a produção de alimentos caiu 15% . Já um ano antes, o governo havia sido obrigado a suspender os contratos, sequestrar contas bancárias e suspender pagamentos. O salário médio não deixa dúvidas sobre a miséria econômico-social que assola os trabalhadores cubanos. Segundo dados oficiais do órgão La Oficina de Estadísticas de Cuba (Panorama Econômico e Social 2010), o rendimento médio foi de 456 pesos (cerca de 15 dólares ao mês) no último ano. Pedro, trabalhador cubano, resume a situação dramática: “Faltam comida, luz e roupas… O salário não dá para as necessidades básicas”.

Nesse contexto de grave crise, está sendo processada uma reforma econômica com drásticas medidas. O governo, que emprega cerca de 90% dos trabalhadores da ilha, anunciou um corte de 500 mil servidores até março de 2011, como forma de reduzir “vultosos gastos sociais”. Segundo analistas, a massa de desempregados – que pode chegar a 1 milhão em três anos – terá dificuldades para ser absorvida pelo mercado. Entre as alternativas sugeridas aos sem emprego pelo governo estão criar coelhos, pintar prédios ou conduzir barcos na baía da Havana.

Para o jornalista e escritor cubano Carlos Alberto Montaner, trata-se de um “ajuste brutal, que poderia ser qualificado de ‘neoliberal’ se tivesse sido feito por um governo democrático”. “Em três anos, planejam despedir 1,3 milhão de pessoas. Isto é mais de 25% da força de trabalho. Não haverá empregos para este número enorme de pessoas. A esperança não admitida pelo governo é de que os familiares e amigos exilados os sustentem desde o estrangeiro”, afirma.

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