Funcionários da Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil) em Itajubá (MG) cruzaram os braços no último dia 14 em defesa de salário digno

Os trabalhadores da Imbel, indignados com a proposta rebaixada da empresa, de 5,28% de reajuste salarial, lotaram as assembleias da categoria e, em protesto, paralisaram suas atividades durante três dias na semana passada, na planta de Itajubá-MG. Sem resposta da empresa, os trabalhadores decretaram greve unificada com as outras unidades de Piquete, Juiz de Fora, Rio de Janeiro e Magé, a partir de segunda-feira, dia 14.

A Imbel faz parte do setor de estratégia e defesa nacional, diretamente ligada ao Ministério da Defesa. Contudo, paga o segundo pior salário dentre as estatais do país. Os trabalhadores em luta exigem 15% de aumento real nos salários, para repor as gigantescas perdas salariais acumuladas nos últimos anos; pedem o reajuste do ticket alimentação no valor do salário mínimo e a revisão do Plano de Cargos e Salário (PCS), que impôs um achatamento dos salários dos técnicos, da manutenção, preparadores e ferramenteiros.

O Sindicato dos Metalúrgicos, que constrói a CSP-Conlutas, está ativo na luta, lado a lado com os trabalhadores. No primeiro dia de greve, os trabalhadores marcharam em passeata e fecharam a rodovia BR459 que abastece a cidade. Carlos Heverton, diretor sindical e militante do PSTU afirmou que “a mobilização está cada dia mais forte. Muitos jovens estão pela primeira vez em greve, junto com trabalhadores de mais de trinta anos de serviço. Muitas mulheres, que além dos baixos salários enfrentam o assédio moral no trabalho e o machismo, estão firmes na mobilização. Os setores estão unificados desde o chão de fábrica até a Engenharia, mostrando a determinação dessa luta. Agora iremos até o fim”.

Recentemente, o governo Dilma firmou um contrato com a Imbel para a produção de 20.000 Fuzis de Assalto 5,56 IA2, no valor de R$ 110 milhões, além de milhares de pistolas encomendadas para a segurança na Copa do Mundo. Mas para os trabalhadores, o governo oferece só migalhas.

Queremos salários padrão FIFA!
Dilma já gastou 30 bilhões dos cofres públicos com a Copa do Mundo, mas a vida dos brasileiros não melhorou em nada. Os trabalhadores tem que driblar os baixos salários, a precaridade da saúde e educação públicas, o caos dos transportes e a falta de moradia, enquanto as empreiteiras ganham milhões com a construção de estádios e os banqueiros e empresários multiplicam seus lucros.

Afinal, em que time o governo do PT está jogando? Os trabalhadores que produzem a riqueza desse país sobrevivem com o arrocho salarial, afundados em dívidas, enquanto as empreiteiras, banqueiros e empresários lucram cada vez mais.

Para Paulinho Gabriel, diretor sindical e militante do PSTU, essa é a hora de pressionar a direção da empresa e o governo Dilma. “ Nossa luta na IMBEL é a mesma luta que vem travando os trabalhadores da Petrobrás, servidores públicos federais, os operários da COMPERJ, a polícia militar do Pará e os garis do Rio de Janeiro. No país que quer ser vitrine para o mundo na Copa, os trabalhadores lutam por valorização salarial e melhoria nos serviços públicos. Desde as manifestações de junho pelo país, ficou a lição de que é preciso lutar e é possível vencer”, afirma.

Contra o sucateamento, por uma estatal de defesa
As perdas salariais acumuladas, as péssimas condições de trabalho e a falta de investimento público na Imbel é consequência da política de privatização dos sucessivos governos. O Brasil abriga uma indústria de defesa e aeroespacial forte, que produz alta tecnologia, com mão-de-obra qualificada, assim como dispomos de matérias-primas abundantes para a fabricação de armamentos, aeronaves, carros blindados, submarinos, etc.

No entanto, esse patrimônio do povo brasileiro foi privatizado, como no caso da Embraer e da Avibrás, ou foi sucateado, como no caso da Imbel, que atravessou longos anos de crise. Hoje, o governo brasileiro gasta bilhões com a compra de material bélico produzido pelas empresas estrangeiras, pagando mais caro por um patrimônio que já foi nosso.

Defendemos que o governo faça um plano de investimentos para recuperação das empresas estatais e que reestatize as empresas privatizadas, unificando-as numa única empresa estatal de defesa nacional.

Desta forma, poderemos ter, de fato, soberania nacional na produção de armamentos. Esse é o caminho para deixarmos de gastar bilhões alimentando o setor privado estrangeiro, e garantir melhores salários e condições de trabalho.