Votação rejeita acordo com empresa proposto pelo SindicatoPela primeira vez, em 50 anos a UAW (United Auto Workers) – sindicato dos trabalhadores em montadoras – perdeu uma votação em assembléia com os metalúrgicos. Na Ford, isto foi inédito. O Sindicato apresentou um acordo com a empresa e foi rejeitado, trazendo na esperança de que é possível resistir à redução de direitos, independente da posição da UAW.

A reação dos trabalhadores dos Estados Unidos à crise não é diferente de reações de trabalhadores em outros países. Eles não estão dispostos a pagar pela crise. O governo de Barack Obama, por exemplo, liberou mais de 50 bilhões de dólares para a GM e, ao mesmo tempo, impôs, com o apoio do UAW, milhares de demissões, fechamento de algumas plantas, perda de vários direitos dos aposentados e redução de salários aos novos trabalhadores.

Na Ford tentaram aplicar a mesma política, mas não esperavam por essa resistência. Reproduzimos abaixo um artigo de Wendy Thompson analisando a situação. Ela é aposentada e ex-presidente do local 235 da UAW – American Axle e Detroit Gear & Axle.

Companheiros e Companheiras,

A grande novidade do movimento sindical nas montadoras americanas em 2009 foi como os trabalhadores da Ford rejeitaram novas reduções de direitos.
Isto foi histórico, pois um acordo defendido pelo sindicato (UAW – United Auto Workers) nunca foi rejeitado antes. Aqueles de nós, comprometidos com a base da categoria, temos que pensar em ações para manter o mesmo pique após o plebiscito que rejeitou o acordo.

A Caravana dos Trabalhadores da Indústria Automobilística (www.autoworkercaravan.org) organizou um ato de protesto na Feira Automobilística de Detroit como fizemos no ano passado. A coletiva para a imprensa foi adiada de domingo para segunda-feira e, portanto foi mais difícil para trazer gente.

No ano passado, 150 compareceram e este ano nós ficamos felizes com 60. Quando nós fizemos nossos planos, nós não sabíamos que ativistas do Partido do Chá estavam planejando um protesto na mesma hora e local! Felizmente eles eram apenas 20 e nós provavelmente tivemos mais imprensa, pois eles disseram que vieram para confrontar enquanto nossa mensagem era emprego, emprego, emprego.

Depois mais de 100 trabalhadores da ativa e aposentados, com alguns apoiadores e familiares, compareceram à Conferência dos Trabalhadores da Indústria Automobilística que organizamos em Detroit em 23 de janeiro passado.

Veio o pessoal de Lockport (Nova Iorque), Saint Paul (Minnesota), Kansas City (Missouri), Toledo (Ohio) e de Grand Rapids, Saginaw, Jackson, Flint e da grande Detroit, todas em Michigan.

Muitos nunca tinham participado de um Encontro desse tipo. Grande parte dos presentes eram trabalhadores e jovens. Havia um bom número de negros e alguns latinos. As mulheres que participaram se destacaram. Muitas eram trabalhadoras da Ford. Havia ainda alguns sindicalistas eleitos.

Havia uma indignação geral contra a redução de direitos e o estado lamentável do sindicato UAW. Todos pareciam concordar em voltar para as fábricas e para nossas comunidades e se organizar. Perguntavam aos trabalhadores da Ford o que eles fizeram para ganhar a votação. As vitórias dos trabalhadores são poucas e espaçadas nos tempos de hoje. A vitória do Não na Ford claramente passou confiança que nossa atividade pode fazer a diferença. Circulou um abaixo assinado para a revista do sindicato protestando contra a ausência de qualquer referência em suas páginas à votação na Ford.

Havia trabalhadores das fábricas de Saginaw e Lockport que foram compradas de volta pela GM. Eles estão sendo pressionados a aceitar mais reduções de direitos mas, como os trabalhadores da Ford, eles sentem que já cederam bastante! Parece que seu acordo coletivo foi reaberto sem qualquer consulta aos trabalhadores.

O Sindicato está tão fragilizado no chão da fábrica que as sugestões feitas por trabalhadores mais antigos e colegas aposentados sobre como se organizar ao redor de questões de saúde e segurança no trabalho foram muito importantes. Muitos dos presentes disseram que saíram do Encontro com novas idéias sobre o que fazer em suas fábricas.

Jerry Tucker, ex-membro do Movimento Novo Rumo (grupo de trabalhadores de base), deu um breve depoimento sobre o histórico de redução de direitos que particularmente os trabalhadores jovens gostaram.

O deputado por Detroit, John Conyers, falou logo após o almoço, sobre diversas questões: Haiti, Saúde Pública Universal, e a necessidade da defesa dos empregos. Ele está organizando um encontro aberto para discutir Empregos para Todos no sábado, dia 20 de fevereiro, das 9h30 às 12h30 no Teamster Hall ( 2700 Trumbull, Detroit).

O jornalista Joe Szczesny do Oakland Press falou com o pessoal durante o almoço. À tarde nós nos dividimos em grupos por empresa e fábrica que fizeram relatos para a plenário.

Todos concordam que o sindicato tem que mudar. O pessoal está pensando em concorrer a delegados à Convenção do UAW em junho para se opor à redução de direitos. Pela primeira vez a convenção será em Detroit o que abre a possibilidade de organizar uma manifestação para pressionar a direção do UAW a parar de defender a redução de direitos exigida pelas empresas, e se posicionar junto com a base da categoria.

Este Encontro teve o espírito dos Encontros da Delphi de 2005 e 2006. Foi decidido voltar a se encontrar na Conferência do Labor Notes durante a sessão reservada para os trabalhadores da indústria automobilística. Veja em:

HTTP://www.labornotes.org/conference

O clima para mudanças realmente cresceu após o plebiscito da Ford. Isto é importante. Vamos manter esta onda crescendo! Agradecemos a Jerry Tucker, Greg Shotwell, Dianne Feeley e todos que tornaram este Encontro possível!

Wendy Thompson, aposentada, ex-presidente do local 235 da UAW – American Axle e Detroit Gear & Axle