Detalhe da Marcha dos Trabalhadores e Trabalhadoras realizada em setembro
Foto Romerito Pontes

Plenária acontece dia 22 de janeiro e discutirá a construção de um pólo dos trabalhadores contra o governo e a oposição burguesa

No dia 22 de janeiro acontece em São Paulo uma plenária sindical e popular convocada pela CSP-Conlutas e demais entidades que participam do Espaço de Unidade de Ação. A decisão de convocar essa plenária foi tomada numa reunião ocorrida no início de dezembro.

Essa mesma reunião adotou uma declaração política na qual reafirma a oposição das entidades aos dois campos políticos organizados em torno do governo e da oposição burguesa e rechaçou os atos dos dias 13 e 16 de dezembro (leia aqui).

A plenária terá um papel importante na construção da resistência dos trabalhadores, recolocando em cena e em debate a construção de um pólo classista, dos trabalhadores, contra o governo e a oposição de direita.

A ruptura dos trabalhadores e da juventude com o governo e com o PT é um processo histórico muito positivo. Precisamos disputar os rumos políticos e apontar uma alternativa. Já a saída apontada pela oposição burguesa de direita, através do impeachment, significa entregar o poder ao atual vice, Michel Temer, do PMDB. Essa saída não é de interesse dos trabalhadores e da juventude.

Como diz a resolução que convoca a plenária “Não devem os trabalhadores e a juventude escolherem (…) entre os senhores da casa grande e os seus capatazes. (…) Somente pela ação independente do movimento de massas vão ocorrer as mudanças que defendemos. Essas não virão com a continuidade do governo Dilma/PT nem pelas mãos de Temer, Cunha, Renan ou Aécio. Por isso lutamos contra os dois blocos”.

2016 vai ser maior
O ano de 2015 vai findando em meio ao agravamento das crises econômica e política.

O recesso parlamentar (e do judiciário) é o tempo em que as duas frações burguesas dominantes terão para realinhar suas posições no xadrez do jogo institucional. E para conversar com os pesos pesados da economia nacional e mundial e definir o caminho a ser traçado.

Ou seja, para definir a quem caberá cortar até o limite o Orçamento e as contas públicas, garantir a economia necessária para o pagamento pontual da dívida pública, seguir privatizando, realizar novas reformas que dêem segurança aos investidores, enfrentar as turbulências de uma economia que naufraga. E também se mostrar capaz de domar uma classe trabalhadora que insiste em lutar, mesmo com as traições das principais centrais sindicais, das principais organizações estudantis e populares, que seguem defendendo um governo repudiado pela amplíssima maioria do povo.

Declarações de representantes dos grandes grupos econômicos e de comunicação do país dão o tom da divisão interburguesa. Se a Fiesp declara apoio ao impeachment; Itaú e Globo estão pelo Fica Dilma.

Eduardo Cunha (PMDB), cada vez mais, é carta fora do baralho. Um espantalho que serve para a CUT, MST, UNE, CTB, MTST, PSOL, PT e PCdoB agitarem o fantasma do golpe da direita. O STF já sinalizou que se encheu de suas artimanhas e autorizou investigá-lo.

Agora, o STF jogou para o PMDB do Senado (leia-se Renan Calheiros) selar o destino da Dilma, se o andamento do processo do impeachment ultrapassar a votação na Câmara dos Deputados. É com essa banda – ou bando – do PMDB que o PT precisa se entender.

Sobre a carta do Temer, é melhor saltar. É parte do grotesco espetáculo que a aliança de governo do PT com esse decrépito partido, um condomínio de coroneis e oligarquias regionais, políticos corruptos e bandidos de toda espécie, nos obriga a conviver desde 2003. O chororô do Temer só demonstra que o PMDB continua sendo o… PMDB.

O prazo ganho por Dilma na tramitação do impeachment não conspira a seu favor. Ao contrário, o andar da carruagem da economia exige que o tempo de paralisia que a crise política está impondo seja o menor possível. A votação nas casas legislativas será, seguramente, influenciada pelo humor dos brasileiros e brasileiras, em número cada vez maior de desempregados e desempregadas, agora com um seguro-desemprego mais curto, imposto pela PEC que a Dilma editou antes mesmo de assumir.

O Brasil é um país que, de fato, não comporta analogias. Fica difícil difundir a ideia de que tem um golpe a caminho quando os proponentes do impeachment preferem tirar férias em Miami do que derrubar a presidente. Desse Congresso, realmente, pode se esperar qualquer coisa!

Nelson Barbosa assumiu a Fazenda (o Ministério e não o reality show) anunciando outra reforma na Previdência Social para retirar mais direitos dos trabalhadores, instituindo a idade mínima para aposentar, agora acoplada ao fator 85/95. Mais uma vez, a mãozinha das centrais sindicais na aprovação do fator tem se mostrado útil aos empresários e ao governo.

O “novo” ministro se comprometeu em seguir com o ajuste fiscal e com uma reforma tributária. Ou seja, menos dinheiro para as áreas sociais (saúde, educação, moradia, bolsa família…) e mais impostos para os trabalhadores e as classes médias arcarem.Vai também dar continuidade ao programa de privatizações de Dilma. Agora são os aeroportos de Fortaleza, Florianópolis, Porto Alegre e Salvador que serão entregues à iniciativa privada.

Essa carta de intenções foi apresentada numa teleconferência organizada por um dos maiores bancos do mundo, o J.P. Morgan, que contou com a participação de importantes “investidores”, leia-se os abutres que vivem da especulação financeira, de ganhar dinheiro fácil com a taxa de juros determinada pelo Copom (Comitê de Política Monetária).

É, pelo jeito, vai ter golpe… E, de novo, o golpe é do Governo Federal! Mas, pasmem. Tem gente da CUT e do PT dizendo que agora o governo vai pra esquerda, que vai ter uma nova política econômica. Fala sério!

O que ocorre é o contrário. Para não cair, só resta ao governo aprofundar o ajuste contra os trabalhadores, mostrar sua subserviência aos capitalistas e seguir alinhado ao setor majoritário da burguesia. Mas isso não basta, e é necessário preparar o terreno para uma derrota dos trabalhadores na luta de classes, o que não ocorreu até agora.

Mesmo com a repressão duríssima às mobilizações populares, aos trabalhadores em greve, aos pretos e pobres das periferias, aos indígenas, os governos todos (seja os do PT, do PMDB, ou do PSDB como Alckmin em São Paulo). não conseguiram deter a onda de lutas que ocorre nesse país.

Os atos dos dias 13 e 16
O anúncio da abertura do processo do impeachment não fez com que as massas fossem às ruas nas manifestações convocadas pelos dois blocos burgueses que disputam o cenário político.

As manifestações chamadas pela oposição de direita seguem diminuindo, apesar da bronca por parte da ampla maioria da população e do povo trabalhador. Sua anemia, a das manifestações da direita, deriva do bom e velho instinto de classe, que ainda prevalece. Não dá para derrotar o governo com esses generais. Os trabalhadores sabem disso. Até porque alguns dos manifestantes do dia 13 querem mesmo a volta de generais de verdade, fardados de preferência, ao poder.

A juventude ocupa escolas, as mulheres lutam contra retrocessos em seus direitos, os trabalhadores fazem greves, os indígenas fazem ações de retomada de seus territórios, as populações de Mariana e da região do Rio Doce clamam contra o crime da Samarco/Vale. Esse movimento por baixo não esteve representando nas manifestações da oposição de direita, no dia 13. Aliás, data que relembra a edição do AI-5, que fechou sindicatos e restringiu as liberdades democráticas em nosso país.

Mas o povo pobre, trabalhador, a juventude, as mulheres, negros e negras, LGBT’s, atingidos por barragens, indígenas e quilombolas tampouco estiveram representados nos atos convocados pelas duas frentes governistas: a Frente “Brasil Popular” e a Frente “Povo sem Medo”, do dia 16.

Mais uma vez a esquerda governista organizou manifestações bancadas pelos aparatos dos governos, dos gabinetes parlamentares, da CUT e dos seus sindicatos filiados. O ato de São Paulo rivalizou com o ato da oposição de direita, dessa vez, mas foi novamente ignorado pela população.

O MTST, a Intersindical e o PSOL, organizações que deveriam ser parte de um campo político alternativo, classista, de esquerda e dos trabalhadores, embarcaram com tudo na onda do #FicaDilma, #nãovaitergolpe e foram parte da convocação e das manifestações do dia 16, que defenderam o governo do PT/PMDB, governo das empreiteiras, das mineradoras e dos grandes bancos.

A posição dessas organizações alimenta ilusões no governo, mesmo que com críticas à sua política econômica. Mas o mais grave é que divide as forças que deveriam se somar num campo ou bloco de luta alternativo aos dois blocos capitaneados pelo PT e PSDB. Que se enfrente com os dois, organize ações para derrotar a política econômica representada pelos dois e abra caminho pra a construção de uma alternativa política, que dispute os rumos da crise, que se credencie junto aos trabalhadores frente aos dois blocos de pilantras e picaretas burgueses.

O PSOL, a Intersindical e o MTST, da mesma forma que a CUT, UNE, o MST e a CTB deveriam abandonar a defesa desse governo e se somar à luta por derrotá-lo, por derrotar a sua política econômica. Uma coisa não está dissociada da outra. Só os inocentes ou quem age de má fé pode acreditar que é possível mudar o modelo econômico sem tirar esse governo do poder.

As massas estão por botar pra fora todos eles: Dilma, Temer, Cunha e Aécio. PT, PMDB, PSDB, DEM e cia. Ninguém aguenta mais tanto político corrupto, mentiroso, picareta e ladrão. E esse sentimento é mais do que justo. Mas a indignação só não basta. Os trabalhadores e seus aliados ainda não assumiram uma ação consciente por essa tarefa: botar todos pra fora e construir uma alternativa.

As lutas econômicas, por direitos sociais e contra a retirada de direitos seguem ocorrendo todo dia. O desafio de unir essas lutas e dar a elas um sentido comum de luta contra o governo e a oposição de direita segue na ordem do dia para os setores de oposição de esquerda ao Governo Federal.

A marcha e o encontro de lutadores que realizamos em setembro colocaram essa perspectiva em prática, numa ação de rua importante, que demonstrou o potencial dessa política. Agora precisamos dar seguimento e uma nova ação nacional de massas deve ser convocada pela plenária sindical e popular de 22 de janeiro.

Antes de brindar pela passagem de mais um ano que foi de muita luta, cabe aos ativistas colocar em suas agendas a plenária de janeiro e organizar a presença de delegações que sigam organizando a nossa classe por um desenlace de interesse dos trabalhadores nessa crise.

Feliz 2016! 

P.S.: Sem Dilma, Cunha, Temer, Renan, Aécio, Sarney, Collor, Alckmin, Bolsonaro, Feliciano, Beto Richa, Sartori, Pimentel, Pezão e mais um bocado de gente. Fora todos eles!P recisamos unir os de baixo para derrotar os de cima!