Redação

Em 30 de setembro, o segundo comboio de ajuda aos trabalhadores, organizado pela Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas, foi entregue à resistência ucraniana, através do Sindicato Independente de Metalúrgicos e Mineiros de Kryvyi Rih, no sul da Ucrânia que, lamentavelmente, dias depois, sofreu um violento ataque.

O comboio contou com delegações formadas por representantes da CSP-Conlutas (Brasil), do Iniciativa Operária (IP, Polônia), da União Sindical “Solidaires” (França), da Associação dos Direitos dos Trabalhadores (ADL-Cobas, Itália), o Sindicato de Comissões de Base (Cobas, Estado Espanhol) e o Emacipação (França). O destinou foi a cidade industrial de Kryvyi Rih, local onde se organizam trabalhadoras e trabalhadores, sobretudo no setor da mineração.

Camaradas do Congresso dos Sindicatos (TUC, da Inglaterra) e sindicalistas de Mallorca (ilha no Mar Mediterrâneo, parte do Estado Espanhol) também contribuíram com a iniciativa. Da CSP-Conlutas, estiveram presentes André Bucaresky, petroleiro e diretor do Sindipetro/RJ, e Fabio Bosco, do Setorial Internacional da Central.

Fortalecer a resistência contra a agressão russa

A campanha de apoio seguirá, mesmo à distância, com ações realizadas entre as organizações envolvidas, de modo a não deixar esmorecer a força da classe operária que resiste na Ucrânia.

“Sabemos que, com o Comboio, contribuímos para uma solidariedade sindical internacional mais concreta e direta. Consideramos que pudemos dar o apoio necessário (mas nunca o suficiente!), retornamos mais fortes e mais decididos a levar a luta dos sindicalistas da Ucrânia adiante e permanecer ao lado deles. Voltaremos, necessariamente, desejando que seja em tempo de paz”, reafirmou a Rede, em uma nota.

Dentre os recursos prioritários enviados, estavam equipamentos técnicos e de cuidados médicos, além de materiais para fortalecer a resistência popular ucraniana e a defesa contra a agressão russa.

Todo o material coletado e adquirido foi entregue ao Sindicato Independente dos Metalúrgicos e Mineiros de Kryvyi Rih, cidade que fica no meio da linha de frente, onde a caravana pôde sentir como as sirenes dos mísseis antiaéreos e os bombardeios fazem parte do cotidiano dos trabalhadores desta importante cidade industrial.

O comboio se reuniu com Yuri Petrovich, presidente do sindicato, e com trabalhadores das empresas que a entidade representa, de diferentes minas da cidade e da Arcelor-Mital (empresa investigada pelo governo ucraniano por vender aço para a Rússia, por meio de uma subsidiária). Muitos dos trabalhadores tiveram que deixar seus empregos para ir para a linha de frente ou para se defenderem contra a invasão russa.

Esses trabalhadores estão tendo dificuldades para receber seus salários, têm que provar, com documentos, que estão na linha de frente da batalha e têm muitas dificuldades burocráticas para obtê-los.

Governo ucraniano promove ataques aos direitos

Além de sofrer essa terrível agressão por parte de Putin, a classe trabalhadora ucraniana também está sendo atacada por seu próprio governo, que está aprovando reformas trabalhistas que cortam direitos já conquistados.

Eles estão sofrendo cortes salariais de 50% e podem ser demitidos automaticamente. No entanto, Petrovich explicou que o governo não está achando fácil aplicar essas medidas, porque os trabalhadores se opõem fortemente, nos locais de trabalho.

Precisamos dar continuidade ao apoio e à solidariedade ao povo ucraniano. A situação está longe de voltar ao normal, apesar dos avanços que estão sendo feitos, com a recuperação de parte do território criminosamente anexado pela Rússia.

Entrevista

‘São os operários e os filhos dos operários que estão na linha de frente’

Conversamos com André Bucaresky (o Buka), petroleiro, diretor do Sindipetro/RJ e um dos representantes da CSP-Conlutas que participou do 2º Comboio de Solidariedade aos trabalhadores da Ucrânia, organizado pela Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas.

Fale um pouco sobre as atividades que vocês desenvolveram nesse comboio.

Esse comboio foi o segundo do qual a CSP-Conlutas participou. Levamos mantimentos necessários para a resistência ucraniana, como rádios transmissores, roupas para frio, baterias etc. As mulheres haviam pedido spray de pimenta e armas de eletrochoque. E você já pode imaginar o porquê. Fomos, em 10 companheiros, até Kryvyi Rih, que é uma cidade mineira, construída em torno de uma ferrovia, e que tem uma vanguarda operária muito combativa. Fomos levar essa ajuda a esses companheiros e companheiras. Muitos estão na frente de batalha.

São basicamente os operários e os filhos dos operários que estão indo lutar, mas com muita dificuldade, porque precisam pagar por seu próprio armamento, uniforme etc. E são sabotados pelo seu próprio governo. O governo baixou uma lei que permitiu às empresas desvincular os trabalhadores, que passaram a receber apenas os baixos soldos do Exército. Ou seja, passaram a receber um salário bem menor.

Você falou sobre a situação das mulheres. Explique melhor qual é a situação delas no país

As mulheres nos disseram que estão trabalhando nas minas, tanto quanto os homens, em encargos mais insalubres e perigosos. Elas recebem menos pelo mesmo trabalho. Por exemplo, nas minas de uma determinada empresa há 6.500 pessoas, dessas 2.500 são mulheres, e pelo menos mil delas estão no trabalho pesado, com um salário de apenas US$ 250 dólares (R$ 1.300). Chama a atenção, também, a participação de mulheres na vanguarda operária das lutas. E muitas delas estão na frente de combate.

Kryvyi Rih fica próxima da linha de frente dos combates? Como tem sido a rotina da população, particularmente dos mineiros?

Kryvyi Rih é próxima de Kherson, onde estão se desenvolvendo conflitos importantes. Por isso, Kryvyi Rih é uma base importante de apoio para a contra-ofensiva ucraniana, no Sul do país. Na cidade, há toque de recolher a partir das 22h. Tem havido bombardeios, também. Os mineiros são os que mais fornecem gente para a linha de frente, inclusive de voluntários. Mas, os operários também têm sido alistados nas fábricas. Inclusive, muitos empresários têm usado isso como ameaça, para convocar trabalhadores para a linha de frente de combate.

A grande imprensa faz parecer que os combatentes ucranianos estão vencendo o Exército Russo devido ao armamento oferecido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). É isso mesmo?

Isso não corresponde à verdade. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, as potências ocidentais não fizeram nada. Inclusive, o imperialismo e as potências ocidentais ofereceram asilo político para Zelensky, o presidente ucraniano. O que estava fora dos cálculos de todo mundo, inclusive da Rússia, foi a reação popular dos ucranianos, que não se amedrontaram e exigiram armas do governo.

Na contra-ofensiva ucraniana, a OTAN forneceu, sim, armas para o país. Mas não aquelas exigidas por eles, como tanques, fuzis, roupas descentes para os soldados e outras armas de infantaria. Assim, diante do imenso poderio militar russo, os ucranianos tiveram que utilizar a tática da “linha zero”, estabelecendo um combate corpo a corpo para poder se livrar do assédio brutal da artilharia russa. A história do suporte oferecido pela OTAN serve apenas para mascarar uma corrida armamentista que ocorre, hoje, na Europa.

Entrega de suporta à resistência ucraniana
Última hora

Putin descarrega vingança terrorista sobre o povo trabalhador da Ucrânia

Por Pavel Polska, da Ucrânia

No dia 7 de outubro, foi o aniversário de 70 anos do ditador que vive no Kremlin. Neste dia, imagens da ponte da Criméia, queimando e parcialmente destruída, rodaram o mundo. É o resultado de um “símbolo da anexação expansionista inapelável”, que o regime policial e oligárquico russo buscou, ao invadir parte do território da Ucrânia.

Os dias seguintes foram de silenciosa preparação de uma vingança, a mais destrutiva e nefasta organizada pelo Kremlin. Não pretendemos, neste artigo, prever quais serão os resultados da vingança assassina do ditador no rumo do conflito. Ainda que o próprio Putin saiba que não terá uma influência decisiva no curso da guerra.

Vamos apenas explicar os efeitos do ataque maciço, com 83 mísseis de longo alcance, em todo o território da Ucrânia, incluindo sua capital, Kiev. O que vale a pena mencionar é algo que ficou evidenciado: o moral elevado do povo ucraniano que, dos abrigos antibombas e das profundezas do metrô, lotado por milhares de crianças, cantou o hino nacional.

Bombardeios maciços

É prematuro falar de um balanço de mortes, feridos e da destruição de casas, escolas e infraestruturas civis. O que imediatamente nos chamou a atenção é a falsificação perversa de Putin ao falar de “ataques precisos em alvos militares estratégicos”, tentando justificar sua barbárie. Mas, como sempre, é a população trabalhadora que mais sofreu com esses bombardeios maciços, que deixaram as grandes cidades sem eletricidade ou água.

E, nesse sentido, queremos destacar informações recebidas – por meio de um dos sites da internet – da cidade de Kryvyi Rih, que tem 700 mil habitantes, e um dos maiores centros mineiros e metalúrgicos do sul da Ucrânia. Também em Kryvyi Rih, “devido aos ataques de mísseis às usinas, a cidade ficou sem energia e 854 operárias e operários ficaram presos, em quatro minas, a uma profundidade de mais de mil metros.”

Em um quadro de grande tensão e ansiedade, começou a operação de resgate, que utilizou geradores e força física para trazê-los à superfície. Felizmente, às duas da manhã, após longas horas de trabalho, todos e todas foram resgatados.