Polícia reprime jovens em 'rolezinho' no Shopping Itaquera

O racismo burguês ocidental com relação ao negro 
e ao árabe é um racismo de desprezo; é um racismo que minimiza (…)
 O racismo da jovem burguesia nacional é 
um racismo de defesa, um racismo baseado no medo
 
Frantz Fanon (“Os condenados da Terra”)
 
A onda dos “rolezinhos”, apesar da violenta repressão, está longe de acabar. Como também as polêmicas em torno deste verdadeiro “fenômeno social”. Nas últimas semanas, vimos ataques fascistóides de um funcionário da “Veja”; empresários furiosos esperneando em defesa do seu direito “sagrado” à propriedade privada e endinheirados “diferenciados” horrorizados por ter seu paraíso de consumo “invadido” por gente pobre, preta e “incivilizada”. 
 
Também, infelizmente, não faltaram trabalhadores e jovens (principalmente nas redes sociais) criticando a mobilização espontânea de jovens em busca do mínimo de lazer, geralmente embalados pela grande mídia.
 
Por coincidência, enquanto isso, nos Estados Unidos, na segunda-feira, 20 de janeiro, era celebrado o “Dia de Martin Luther King”, feriado criado em 1983 e que cai na terceira segunda-feira de janeiro, próximo ao aniversário do líder negro (15 de janeiro de 1929). 
 
A data poderia servir como ponto de partida para uma reflexão sobre a história do líder negro, mas não é este o propósito deste artigo. A coincidência com os “rolezinhos” faz com que, este ano, a lembrança da luta de Luther King (como também de Malcolm X, dos Panteras Negras e tantos outros) pelos direitos civis nos remeta ao presente e não ao passado; nos possibilite falar do Brasil, não dos Estados Unidos.
 
Separados por quase 50 anos e por inúmeras diferenças em relação à “intensidade”, à importância histórica e aos objetivos, as lutas de negros e negras norte-americanos e manifestações espontâneas que pipocaram nos shoppings brasileiros têm, contudo, algo em comum: o desprezo, o medo e a permanente tentativa de inferiorização e segregação alimentados pelo racismo burguês, como foi apontado muito bem por Franz Fanon, um dos líderes da revolução argelina, nos anos 1950.
 
Medo e desprezo que, em relação aos “rolezinhos”, vieram à tona com toda a força (e um asco ainda maior) nas palavras de Rodrigo Constantino, um empregado da revista “Veja” que, na edição do dia 14 de janeiro, não fez a menor questão de mascarar seu racismo, elitismo e ódio de classe ao sintetizar em um parágrafo o que pensa sobre a juventude negra e pobre da periferia.
 
Para Constantino, os participantes dos rolezinhos “não toleram as “patricinhas” e os “mauricinhos”, a riqueza alheia, a civilização mais educada. Não aceitam conviver com as diferenças, tolerar que há locais mais refinados que demandam comportamento mais discreto, ao contrário de um baile funk. São bárbaros incapazes de reconhecer a própria inferioridade, e morrem de inveja da civilização”.
 
Nojenta, no mínimo, a declaração de Constantino, contudo, como veremos, sequer é “original”. E, talvez, seu único mérito seja dizer, com todas as letras, o que realmente causa “horror” à burguesia em relação aos “rolezinhos”; descortinar o que nossa hipócrita elite pensa e costuma mascarar sob farsas como a da “democracia racial”, da “igualdade de direitos e oportunidades” ou da “fraternidade entre os povos”. 
 
Nos EUA: “separados, mas iguais”
Se tivesse nascido no final do século 19, Constantino, com certeza, estaria entre os formuladores ou defensores de teses como a da eugenia (superioridade “natural” da raça branca em relação às demais). E, se fosse norte-americano, teria sido um orgulhoso signatário das leis “Jim Crow” que vigoraram entre 1876 e 1965 e formaram o alicerce da segregação racial naquele país. 
 
Na semana passada, ao celebrarem Luther King, os negros norte-americanos festejavam, acima de tudo, o papel que o pastor negro (independentemente das muitas diferenças que tenhamos com ele, como o anticomunismo e pacifismo que marcaram a maior parte de sua trajetória) inegavelmente cumpriu na destruição de uma das legislações mais racistas que existiram no planeta. 
 
Anteriores até mesmo ao apartheid sul-africano, foram estas leis que impuseram a segregação racial em todo e qualquer local público, particularmente no sul dos Estados Unidos, em base a uma lógica digna da hipocrisia burguesa: já que negros e negras são natural e incorrigivelmente inferiores e menos capazes que brancos, seria uma “injustiça” deixá-los conviver lado a lado com os “mais civilizados”. Dentro desta lógica perversa, “separar” seria a melhor forma para dar mais “oportunidades” para os negros, limitados pela sua própria “inferioridade”. 
 
Assim, por serem “menos inteligentes”, negros se dariam melhor em escolas segregadas, com currículos medíocres e condições precárias, “à altura” de sua incapacidade. Por serem menos “racionais”, não poderiam ter acesso a empregos que ultrapassassem o esforço físico. E, em função de sua inadequação nata à “civilização”, também não poderiam frequentar ou utilizar os mesmos banheiros, restaurantes, meios de transportes e até bebedouros que os brancos. 
 
É exatamente esta mesma lógica torta que se encontra por trás dos argumentos de Constantino e muitos outros que têm atacado os “rolezinhos”. E o objetivo são os mesmos: garantir os privilégios de uma minoria de brancos endinheirados e impedir o acesso da grande maioria a todo e qualquer direito (inclusive o de consumo e lazer) 
 
No Brasil, defesa da “ordem” para o progresso dos brancos e ricos 
Em nosso país, como se sabe, nunca existiu uma legislação tão abertamente segregacionista, algo que o funcionário da “Veja”, com certeza, deve lamentar. Mas, contudo, também por aqui suas ideias não têm nada de novo. Muito pelo contrário. Ele pouco mais faz do que “requentar” as teses de seus ancestrais ideológicos como Nina Rodrigues (1862-1906) e Silvio Romero (1851-1914), que, também no final do século 19, estiveram na raiz da “teoria do embranquecimento”, prima-irmã do mito da democracia racial.
 
No mesmo momento em que a elite republicana pregava que para que houvesse “progresso” era necessário garantir a “ordem”, Nina Rodrigues, por exemplo, destacou-se por sua defesa (no livro “Os Africanos no Brasil”) de que “a igualdade de direitos é uma utopia” e de que a “raça negra no Brasil (…) há de constituir sempre um dos fatores da nossa inferioridade como povo”, já que “a constituição orgânica do negro, modelado pelo habitat físico e moral em que se desenvolveu, não comporta uma adaptação à civilização das raças superiores, produtos de meios físicos e culturais diferentes”. 
 
Ou seja, negros e negras seriam, desde sempre, porta-vozes da “desordem”, do “caos” e do “atraso”. Palavras que rechearam muitos dos comentários feitos em relação “rolezinhos” e, particularmente os de Constantino que, mais uma vez, nos fez o “favor” de evidenciar que tipo de “ordem” e a serviço de que de “progresso” os “rolezinhos” devem ser reprimidos.
 
Referindo-se a uma foto em um dos shoppings ocupados, o serviçal da “Veja” foi direto ao ponto: “O que vemos acima se chama “arrastão”. Uma turba de bárbaros invadindo uma propriedade privada para fazer baderna não é protesto ou “rolezinho”, mas invasão, arrastão, delinquência. O primeiro passo para vencer esse avanço da barbárie é chamá-la pelo nome certo. Selvagens que cospem na civilização não são “manifestantes” coisa alguma. (…) Por fim, vale mencionar o direito de propriedade privada (…).Os “rolezinhos” da inveja precisam ser duramente repreendidos e punidos. Caso contrário, será a vitória da barbárie sobre a civilização”.
 
Clamando quase em desespero pela repressão policial, Constantino deixa evidente a quem realmente serve: aos donos dos shoppings, aos lojistas, às empresas que neles comercializam seus produtos, aos que lucram com a publicidade, como também aos consumidores “civilizados” que têm grana suficiente para fazer girar a roda do Capital.  
 
Para gente como ele, todo o resto da humanidade não serve, pode ser segregado, humilhado, descartado e tratado como lixo. E o fato de que, no Brasil, a maioria deste “resto” ser negra não é um detalhe. Muito pelo contrário. É um elemento determinante tanto para as leis Jim Crow quanto para Nina Rodrigues e Silvio Romero; tanto no apartheid quando para os shoppings (e, por tabela) a sociedade idealizada por Constantino e aqueles que compartilham suas ideias.
 
Essa distinção, inclusive, está evidente no tratamento “diferenciado” que seria dado se o shopping fosse “invadido” por aqueles que todos racistas e elitistas apontam como “civilizados” e “dignos” de circular e se divertir nos shoppings, como destacou o antropólogo Alexandre Barbosa Pereira (em entrevista a Eliane Brum, para o “El País Brasil”): “Se fosse um grupo numeroso de jovens brancos de classe média, como aconteceu várias vezes, seria interpretado como um flash mob?”. 
 
Shoppings: templos sagrados do Capital?
Que sujeitos como Constantino tenham atacado os “rolezinhos” e seus participantes não causa nenhuma surpresa (basta ver sua “ficha corrida” abaixo). Contudo, lamentavelmente, também não faltaram críticas por parte de setores da classe média e, inclusive, dentre aqueles que o funcionário da “Veja”, com certeza, inclui entre os “não civilizados”.
 
Nas redes sociais, por exemplo, não é difícil achar gente criticando os jovens, afirmando que eles ganhariam mais fazendo “rolezinhos” em bibliotecas, no serviço comunitário, nas filas de doação de sangue e coisas do gênero. Quando não reproduzindo argumentos da “direita moderna”, atacando os jovens pelas roupas que vestem, pela música que escutam ou pela forma que se comportam.
 
Em geral, estes setores, reproduzindo a ideologia dominante, desconsideram um fato relativamente simples: esses jovens, com certeza, estariam fazendo qualquer outra coisa de suas vidas ao invés de buscar diversão num shopping caso tivessem condições e oportunidades para tal. Por exemplo, se tivessem como pagar, poderiam estar em cinemas e teatros, nos parques de diversão ou nas baladas que, noite após noite, lotam e “tumultuam” as ruas do centro e dos bairros “diferenciados”.
 
E é bom lembrar que, exatamente pela falta de opções, os “rolezinhos” não são exatamente uma “novidade”. É verdade que nunca haviam tomado a dimensão atual (algo que só pode ser explicado pelo impacto que as Jornadas de Junho ainda têm na juventude), mas, há muito, encontros semelhantes vêm ocorrendo, promovidos por “seguidores” de usuários do Facebook, grupos específicos (como LGBT’s, fãs de uma determinada banda etc.), sempre congregando algumas dezenas ou centenas de jovens.
 
Culpá-los ou criminalizá-los por buscarem lazer num dos poucos espaços públicos (afinal, shoppings são locais abertos ao público) aos quais têm acesso sem precisar, a princípio, gastar um centavo, significa apontar para as consequências e não para as causas, poupando o único e verdadeiro culpado: o mesmo sistema capitalista defendido pelos “constantinos” da vida, que garante benefícios, serviços e regalias a uma parcela minúscula da sociedade, em base à opressão e exploração da enorme maioria.
 
E vale lembrar que o mesmo poderia ser dito sobre o “funk ostentação” que embalou muitos dos “rolezinhos”. Pode-se (e deve-se) questionar a perspectiva ideológica que está embutida nas letras (que além de exaltar o modo de vida burguês, geralmente estão permeadas por machismo, homofobia e uns tantos outros preconceito). Mas, também, não há como negar que eles são expressões da mesma ideologia inculcada na grande maioria da população que, se não manifesta as mesmas ilusões em música, o faz, cotidianamente, em função de falta ou da distorção de consciência de classe. 
 
 Ao mesmo tempo, aqueles que criticam os jovens da periferia por procurarem diversão num shopping, alegando que isto é um absurdo na medida em que eles são um símbolo máximo do consumismo e do próprio Capital, também não consideram uma questão fundamental e umas das principais armas da burguesia: a ideologia, ou seja, as falsas ideias e a visão distorcida do mundo que é propagandeada cotidiana e insistentemente pela mesma elite e meios de comunicação que, hoje, condenam os “rolezinhos” e clamam pelo uso da polícia para defender seus interesses.
 
São eles os mesmos hipócritas que investem milhões em publicidade para incentivar o consumo; são eles que vendem a ilusão da possibilidade de ascensão social e da igualdade de direitos; são eles que enfiam na cabeça das pessoas a ideia de que uma roupa de grife, um celular de última geração, um óculos ou tênis importados serão garantia de aceitação ou respeito pela sociedade. 
 
Uma farsa que, geralmente, não passa sequer pela porta dos locais de consumo destinados à elite. Todo e qualquer negro ou negra sabe que, no dia-a-dia, os shoppings são ambientes mais do que racistas e hostis. Basta passar pela porta de um deles que, geralmente, ganhamos alguns “amigos involuntários”: os seguranças. E, dentro das lojas, há duas situações clássicas: sermos tratados como invisíveis (já que nossa aparência é “indício” da falta de grana) ou como perigo em potencial, já que “negro parado é suspeito, correndo é ladrão”.
 
Os jovens da periferia certamente percebem isto, mas, seja pela falta de opções ou levados pela ideologia dominante, relevam o assédio ou a humilhação (ou se agrupam, para se sentirem mais seguros) para exercer direitos que não lhes pode ser negado: o de ir e vir, o de frequentar qualquer lugar público.
 
Quem são os selvagens? Quem causa a desordem? 
Ao atacarem os “rolezinhos”, promoverem o Massacre do Pinheirinho e tantas outras remoções e despejos; tratarem os dependentes químicos da Cracolândia como animais ou incentivarem ou se calarem diante do genocídio que vitimou Amarildo, Jean, Douglas e tantos outros, movidos pelo racismo, o medo e o desprezo, a elite brasileira, sua polícia e seus porta-vozes revelam que são os verdadeiros selvagens: eles próprios e sua ganância criminosa.
 
Ao imporem um sistema desigual, injusto, opressor e explorador também são estes “sinhozinhos modernos”, brancos em sua quase totalidade, que promovem a “desordem” da miséria; o caos no transporte, na moradia, na educação; a selvageria da fome e o terror da opressão e da repressão policial (fardada ou covardemente encapuzada). 
 
São eles, acobertados pelos políticos que ajudaram a eleger (do fascista Alckmin aos “conciliadores” Haddad e Dilma), os verdadeiros responsáveis inclusive dos “rolezinhos”, pois são eles próprios que impedem a existência de opções de cultura e lazer para grande maioria dos trabalhadores e da juventude, fazendo das periferias apenas dormitórios insalubres onde o povo pobre e preto só tem direito a poucas horas de descanso depois de exaustivas horas de trabalho.
 
Por isso, só há uma postura possível diante dos “rolezinhos”: a solidariedade ativa, como demonstrada pelos movimentos negro e sociais, no último dia 19, no protesto em frente ao Shopping JK Iguatemi, em São Paulo. Ou como na ocupação do Shopping Higienópolis promovida, em fevereiro de 2012, pelas entidades (como o Quilombo Raça e Classe) que compõem o Comitê o Contra o Genocídio da Juventude Negra (veja o vídeo aqui). 
 
O “grande rolê” ainda está por vir
Quando os jovens ocupam os shoppings certamente eles, mesmo que inconscientemente, fazem ecoar os versos de um belo poema do alemão Bertold Brecht e uma igualmente genial letra do brasileiro Lúcio Barbosa (gravada por Zé Geraldo e Zé Ramalho).
 
Em “Quem faz a História”, Brecht nos lembra: “Quem construiu a Tebas das sete portas? / Nos livros constam os nomes dos reis / Os reis arrastaram os blocos de pedra? / E a Babilônia tantas vezes destruída / Quem ergueu outras tantas?”. Enquanto em “Cidadão”, Barbosa dá voz a um peão que lamenta: “Tá vendo aquele edifício moço? / Ajudei a levantar / Foi um tempo de aflição / Eram quatro condução / Duas pra ir, duas pra voltar / Hoje depois dele pronto / Olho pra cima e fico tonto / Mas me chega um cidadão / E me diz desconfiado, tu tá aí admirado / Ou tá querendo roubar?”
 
Poesia e letra que nos lembram que, se hoje, shoppings e os produtos que neles existem, prédios e casas, fábricas e bancos, escolas e hospitais (como também a infraestrutura construída para a Copa e as Olimpíadas) são propriedades privadas a serviço da elite e do Capital. Mas nada disto pode ser visto como exclusivo “deles”, do 1% que se apropria de quase tudo que é produzido. 
 
Se no presente é assim, isto não pode ser tomado como “natural” e irreversível. As Jornadas de Junho, e tantas lutas que vieram antes ou depois, provaram que é possível lutar contra está lógica selvagem e desumana. 
 
Por isso mesmo, temos certeza que novos “rolês” virão. Seja nas ruas, como já estamos vendo país afora na campanha “Na Copa vai ter luta”, seja em shoppings ou nos terrenos e prédios ociosos. Esse é o único caminho para acabar com a segregação racial, a opressão em todas suas variantes e a exploração. E assim há de ser até que possamos varrer, para sempre, a selvageria imposta pelo Capitalismo.  
 
Quem é Rodrigo Constantino
Conhecido entre seus próprios pares (de acordo com a revista “Época”) como “um dos trombones da direita brasileira”, Constantino tem formação em economia, é presidente do Instituto Liberal e fundador do Instituto Millenium (que se autoproclama como a “direita moderna” e é financiado por grandes empresários e empresas de comunicação).
 
Sua especialidade é destilar veneno conservador e reacionário com a maior carga possível, tanto para agradar seus patrões na “Veja”, no “Valor Econômico” e “O Globo” (e os que os financiam, evidentemente) quanto para atrair o máximo de holofotes sobre si próprio.
 
A título de exemplo, basta lembrar algumas de suas ideias. A serviço dos latifundiários e madeireiros já defendeu a privatização da floresta amazônica sob o controle das empresas de reflorestamento (nominalmente Aracruz, Klabin, Suzano e Votorantin). 
 
Sintonizado com os racistas em geral e os empresários do comércio, em particular, Constantino também é contrário à decretação de feriado no Dia da Consciência Negra e, obviamente, também é contra cotas. Tudo isso como parte de sua defesa de que vivemos numa “democracia racial”. 
 
O apego ao lucro e aos interesses do Capital neste sujeito ultrapassa inclusive critérios básicos do que se poderia chamar de “humanidade”. O exemplo mais patético disto é sua defesa de um “livre mercado de órgãos humanos”. E, com o currículo que tem, não é difícil imaginar quais seriam a raça e a classe daqueles que teriam seus órgãos colocados à venda.