Leia o editorial do Opinião Socialista nº 490
O começo do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff colocou todo mundo para pensar. Os trabalhadores que votaram nela, seguramente, não achavam que o governo entregaria o controle da economia do país a um banqueiro, nem o controle da produção de alimentos a uma representante das grandes empresas do agronegócio. Do movimento que vimos no segundo turno para votar em Dilma contra o “mal maior”, que seria a volta do PSDB, o que agora se vê é frustração e decepção.
Quando Aécio Neves vai a público, como fez em artigo publicado na Folha de S. Paulo (30/11/2014), para dizer que Dilma, ao adotar as medidas que adotou depois das eleições, está concordando com ele, manda um recado também aos trabalhadores que, para castigar o PT votaram nele, achando que assim haveria as mudanças que queremos no país. Ledo engano. Se Aécio ganhasse não castigaria o PT. Castigaria a nós, trabalhadores.
O PSTU já alertava para esta situação. As mudanças não poderiam vir de um governo do PSDB, representante direto dos banqueiros e dos grandes empresários. Para atender aos interesses destes, é preciso sacrificar os interesses e as necessidades dos trabalhadores na sociedade em que vivemos.
Mas, pela mesma razão, não seria razoável esperar estas mudanças com a manutenção do governo do PT. Este partido construiu, ao longo de anos, uma sólida aliança com estes mesmos banqueiros e grandes empresários. Não é por acaso que Dilma recebeu mais dinheiro dos empresários para sua campanha (R$ 318 milhões) do que o próprio candidato do PSDB, Aécio Neves (pouco mais de R$ 200 milhões). O que estamos vendo agora, nas medidas anunciadas pela presidenta, é consequência desta aliança.
São compreensíveis as dúvidas e a esperança dos trabalhadores que votaram em Dilma ou em Aécio esperando por mudanças. Mas o mesmo não se pode dizer das organizações de esquerda que empenharam- se em convencer os trabalhadores de que votar em Dilma preservaria seus direitos. Muitas organizações ligadas ao PT fizeram isso. Dirigentes do PSOL também cumpriram este triste papel. O que vão dizer agora frente às medidas anunciadas pela presidenta Dilma?
Estas organizações e dirigentes, ao não se pautarem pela defesa da independência de classe dos trabalhadores, ajudam a confundir. Ao se engajarem na campanha a favor do voto em Dilma no segundo turno, ignorando a aliança dela e do PT com os banqueiros e grandes empresários, acabaram ajudando a disseminar a ilusão de que um governo em aliança com o grande empresariado pode ser favorável aos trabalhadores. Prestam um desserviço ao esforço necessário para a construção de uma consciência classista.
Há uma conclusão importante de tudo isso, e o PSTU tratou deste tema durante a campanha eleitoral. Apenas um governo dos trabalhadores, sem patrões, que enfrente os bancos, empreiteiras e grandes empresas, apoiado na mobilização, fará as mudanças que o país precisa para que nosso povo possa ter uma vida digna. Mas há também outra conclusão mais imediata: só a organização e a luta dos trabalhadores e da juventude preservarão os direitos que temos hoje e trazer as mudanças que queremos para melhorar nossa condição de vida. Isso não vai ser feito junto com o governo Dilma como muitos trabalhadores esperavam. Infelizmente, terá de ser feito em luta contra ele.
Esse é o desafio que temos para o próximo ano.