Segundo um estudo do Mapbiomas, em 1985 apenas 6% da Floresta Amazônica de toda a América do Sul haviam sido desmatados, transformado-se em cidades, pastagens e lavouras. Mas, em 2021 essa área quase triplicou, chegando a 15% de toda a região, quase 1.250 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a duas Ucrânias.
O tamanho da destruição varia de um país para outro: no Suriname, Guiana e Guiana Francesa é de apenas 1,6%; mas, no Brasil chega a 19%. Ou seja, estamos muito próximos do “ponto sem retorno”, calculado pelos cientistas na faixa entre 20% e 25% de perda da cobertura vegetal.
Cruzar esse ponto significa que o bioma deixará de ser um sumidouro de carbono de importância planetária, para se tornar em um emissor dos gases-estufa, ampliando o aquecimento global e as mudanças climáticas, com consequências catastróficas para a civilização.
Bolsonaro e sua boiada desenfreada
Sob Bolsonaro, a Amazônia brasileira perdeu, em florestas, uma área equivalente a dois estados do Rio de Janeiro – mais de 86.468 Km². Contudo, o número vai crescer, pois ainda não foram computados os dados do desmatamento de 2022.
Seu governo passou a boiada nas leis ambientais, na fiscalização e promoveu o roubo de terras públicas pelo agronegócio, a invasão de garimpeiros e o crime organizado em Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Os assassinatos de Dom Philips e Bruno Pereira são apenas o ponto mais visível da barbárie promovida por Bolsonaro e seu bando de malfeitores.
Esse é o resultado de governar para o agronegócio. Sem romper com esse modelo de agricultura, não só a Amazônia, mas todos os biomas brasileiros estão condenados à destruição.
Sem ruptura com o agro
Lula diz que vai promover um agronegócio sustentável, sem ruptura; isto é, não deverá fomentar nada que implique em mudanças drásticas na atuação do Ministério da Agricultura do governo Bolsonaro, conforme reportagem da Agência Estado, em 13 de dezembro. Inclusive, até se gaba, afirmando: “Pergunta ao agronegócio se ganhou tanto dinheiro quanto ganhou no meu tempo”.
O problema é que não existe “agronegócio sustentável”, pois esse modelo de agricultura exige uma permanente expansão territorial, para diminuir os custos de produção. E manter a atuação do Ministério da Agricultura só pode significar impulsionar a devastação ecológica.
Neoliberalismo ambiental
O ecologismo neoliberal de Marina Silva tampouco oferece alguma solução. Sua política visa promover a exploração florestal “sustentável” de áreas públicas, a comercialização de “serviços ambientais”, a venda de créditos de carbono, entre outras medidas de cunho neoliberal e financista. Por esse caminho, nem a Amazônia nem qualquer outro bioma brasileiro será salvo, como a história recente demonstrou.
34 anos do seu assassinato
O sonho socialista de Chico Mendes segue vivo
É preciso retomar o caminho traçado por Chico Mendes que aliava a luta pela preservação ecológica com o combate ao capitalismo. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Chico foi assassinado em 22 de dezembro de 1988, aos 44 anos, com um tiro de escopeta no peito.
Chico liderou a resistência do movimento seringueiro contra a destruição da Amazônia; promoveu os “empates”, piquetes armados de seringueiros que impediam as ações de desmate da floresta; realizou alianças com os povos indígenas e lutou pela criação da Reservas Extrativas, uma modalidade de Reforma Agrária adequada ao modo de vida dos seringueiros.
Socialismo nas selvas
Mas, Chico Mendes também foi um socialista, que sonhava com uma sociedade livre de qualquer opressão e que pudesse criar um modelo específico de desenvolvimento, que preservasse “a floresta em pé”. Sob o capitalismo, como Chico sabia, isso é impossível, como comprova a ininterrupta continuidade da destruição da Amazônia após seu assassinato.
A biodiversidade amazônica é enorme, existindo entre 100 a 280 espécies de árvores em cada hectare, e muito pouco foi estudado pelos botânicos. Toda essa biodiversidade tem um enorme potencial científico, podendo ajudar a conhecer e curar doenças.
Microrganismos também servem para desenvolver processos industriais e auxiliar em um novo modelo ecológico de agricultura. Além disso, a floresta também pode oferecer uma gama gigantesca de materiais que podem vir a ser os biomateriais do futuro.
Revolução das forças produtivas
Para conhecer essa imensa biodiversidade seria preciso um investimento massivo em ciência, especialmente na criação de um centro de pesquisa no coração da Amazônia, aliando “a ciência indígena de milhares de anos com a ciência contemporânea, de forma harmoniosa e operativa”, como explica Carlos Nobre, um dos maiores cientistas do Brasil. Nobre é um defensor da criação de um centro de pesquisas da maior floresta tropical do planeta, semelhante ao famoso MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Tudo isso está muito distante dos planos do futuro governo Lula. Criar um modelo de desenvolvimento que mantenha a floresta em pé exige uma ruptura com o agronegócio e a dominação econômica imperialista, numa “revolução socialista mundial”, como escreveu Chico Mendes, que unifique “todos os povos do planeta num só ideal”.