No dia seguinte à aprovação da reforma da Previdência, Marcos Valério sacou R$ 200 milNo dia 4 de julho, o Conselho de Controle da Atividades Financeiras (Coaf) divulgou dados sobre as movimentações financeiras nas contas das agências de publicidade de Marcos Valério, a SMPB e a DNA, que coincidem com as denúncias do pagamento de mensalões aos deputados em troca de apoio político ao governo. Marcos Valério é suspeito de ser um dos operadores do esquema do mensalão, segundo denúncias do deputado Roberto Jefferson.

Os saques milionários em dinheiro realizados no último período, que somam mais de R$ 21 milhões nos últimos dois anos, foram feitos em sua ampla maioria nas mesmas datas em que ocorriam votações importantes no Congresso, nas quais o governo saiu vitorioso. As datas também coincidem com os períodos nos quais os deputados mais trocaram de partidos.

Uma das votações que coincide com as datas de saques é a da reforma da Previdência, que atacou o direito de aposentadoria dos servidores, gerando protestos em todo o país. A reforma foi aprovada em primeiro turno no dia 5 de agosto de 2003. No dia seguinte, houve um saque de R$ 200 mil. No dia 27, houve a votação em segundo turno. Nos dias 25 e 26 foram sacados mais R$ 200 mil das contas das agências de Valério.

Também na aprovação da reforma Tributária, em 24 de setembro de 2003, os saques entre os dias 23, 25 e 26 somaram R$ 1,2 milhão. Em 2004, quando foi votada a Medida Provisória que proibiu os bingos, houve um saque de R$ 200 mil no dia 29 de março, véspera da votação. No dia 2 de junho, quando foi aprovada a Medida Provisória que “reajustava” o salário mínimo, houve saques que somaram R$ 500 mil. No mesmo tema, quando a votação do salário mínimo voltou para a Câmara com alterações, em 23 de junho, foram sacados mais R$ 200 mil dois dias antes.

O que o governo e o PT se esforçam por fazer parecer mera coincidência é, na verdade, a junção das peças de um quebra-cabeça que vai ficando cada vez mais nítido. E a imagem que surge não é nada bonita. O esquema grandioso de propinas que envolve desde os financiamentos de campanha, a compra de apoios nas principais votações e o pagamento de mesadas permanentes aos parlamentares, tudo isso não só vem se confirmando como fato verdadeiro, mas também mostra que o assunto era de amplo conhecimento pelos corredores de Brasília. A essas alturas, é difícil acreditar que Lula era um bobo ou um ingênuo que não sabia de nada.