Remoções e desrespeito ao meio ambiente e moradores dão o tom das obras na capital paulista
O último trecho do Rodoanel será a maior obra do segmento viário do país na categoria Rodovias e Vias Urbanas, e a “ligação seca” entre Santos e Guarujá, a segunda no quesito Pontes, Túneis e Viadutos. O investimento passa dos R$ 8 bilhões, divido em cerca de R$ 6 bi para o Rodoanel Norte e R$2,4 bi para o trecho Submerso. A previsão é que o trecho Norte seja concluído em 2016, com 44 quilômetros de extensão que ligará os trechos Leste e Oeste do Rodoanel.
A maior obra viária do país é a menina dos olhos do governo Geraldo Alckmin (PSDB), que ignorou os alertas dos graves danos ambientais e sociais que a obra causará. Hoje, já vemos as remoções que começam a contar a história desse novo trecho.
Baixas indenizações, falta de garantias e apoio e pressão psicológica. História que segue o enredo das remoções a mando do governo do estado e da prefeitura. Moradores do Jardim Paraná, Brasilândia, Parada de Taipas, Jaraguá, por exemplo, são algumas das famílias que vem sofrendo com isso. Só no jardim Paraná serão mais de 1000 famílias removidas. Prática que se estenderá por 19 comunidades da Zona Norte.
Os laudos que avaliam as casa não levam em consideração o tempo que as famílias moram no local ou a área em torno das casas. É uma avaliação exclusivamente do imóvel, que já de início é injusta. Desconsiderando o envolvimento emocional que os moradores criam com o lugar e a vizinhança, o que não parece ser motivo forte o suficiente para o governo se mostrar ao menos sensível a essas famílias.
As indenizações oferecidas são irrisórias. Com isso, impossibilitadas de conseguir uma moradia digna, as famílias são obrigadas a irem para áreas cada vez mais periféricas, regiões irregulares, que muito provavelmente o próprio governo, que indiretamente incentivou as ocupações, irá removê-las daqui um tempo.
O governo, além disso, não indicou onde nem quando serão construídas as unidades habitacionais. Com a incerteza do prazo e lugar, os moradores que estão sendo removidos se vêem forçados a aceitar as baixas indenizações. Enquanto aqueles que aceitaram a proposta das unidades correm o risco de irem para uma região distante e sem estrutura. Além disso, moradias vazias dos bairros onde as remoções estão acontecendo então sendo destruídas, enchendo o bairro de lixos e entulho, sem contar o barulho das marretas e tratores.
Outro desrespeito é em relação ao direito de desmembramento das famílias que moram juntas. Em tese, cada uma deveria receber uma casa ou indenização separada. Os despejos também acontecem sem a presença de assistentes sociais, e como se não bastasse, o governo só paga a primeira parcela do auxilio aluguel ou a indenização depois que a família deixa a casa, impossibilitando que a família corra atrás de outro lugar pra morar antes da remoção.
Mais uma vez o Estado mostra qual sua prioridade. Tem dinheiro para obras bilionárias de infraestrutura, mas passa por cima de direitos sociais básicos, como o direito a moradia.