Ricardo Ayala, de São Paulo (SP)

Bolsonaro e a Globo estão juntos para tentar convencer você de que a chamada “nova Previdência” vai melhorar sua vida. Porém a proposta de reforma de Bolsonaro é ainda mais cruel e injusta do que a de Temer, derrubada pela greve geral de maio de 2017.

Dizem que a reforma não vai afetar os mais pobres e que é necessária por três motivos: 1) existe um suposto rombo nas contas da Previdência; 2) só com a reforma seria possível ajustar o Orçamento do governo; 3) a reforma faria o país crescer e gerar emprego.

Tudo isso é uma grande mentira. A reforma transformará pobres em miseráveis com uma crueldade cínica. Esse vai ser o maior roubo aos pobres da história do país. Além disso, não existe nenhum rombo nas contas da seguridade social (leia páginas 9 a 12).

Por que, então, todas as classes dominantes querem tanto essa reforma? Por que mentem para o povo sobre ela? É o que tentaremos responder aqui.

EXPLORAÇÃO E ROUBO PARA REMUNERAR BILIONÁRIOS
Nova Previdência, dívida pública, Brumadinho, Ford e desemprego: tudo a ver

O ano de 2019 começou com os assassinatos da Vale em Brumadinho (MG), revelando centenas de barragens a ponto de estourar em Minas Gerais. Em São Paulo, a maior cidade do país, viadutos desabam por falta de manutenção. Enquanto isso, a Ford anuncia o fechamento de sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP) destruindo aproximadamente 27 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Já a General Motors, cujo lucro em 2018 foi de US$ 8 bilhões, exige dos trabalhadores o rebaixamento de salários e direitos. No Rio de Janeiro, cresce o genocídio contra jovens negros, enquanto o sonho de dez garotos de escapar do desemprego se transformaram em tragédia pela irresponsabilidade dos cartolas do Flamengo.

A impressão de que o país despenca ladeira abaixo não é apenas uma sensação. É pura realidade. Um punhado de bilionários parasitas estão destruindo o Brasil para aumentar seus lucros, enquanto a maioria da população trabalhadora, que constrói toda a riqueza com o seu trabalho, vive cada vez pior.

A primeira expressão da decadência do país está no desemprego. Milhões de homens e mulheres não podem levar o pão de cada dia para os seus filhos porque o país não lhes garante emprego.

O aumento do desemprego rebaixa cada vez mais o salário de quem está trabalhando. A maioria que foi demitida, quando encontra trabalho, é com um salário menor. Já se foi o tempo em que os operários brasileiros falavam dos baixos salários da China. Hoje, a média salarial dos operários chineses é mais alta que a do Brasil.

Sem ampliar a capacidade de produção do país, não há empregos. No entanto, o lucro dos capitalistas se mantém. Ele é conseguido com o rebaixamento dos salários e dos minguados direitos dos trabalhadores que eles querem destruir.

BOLSONARO CONGELA O SALÁRIO MÍNIMO
Lucro acima de tudo, banqueiros acima de todos

Enquanto Bolsonaro deixou o salário mínimo congelado, o lucro do banco Itaú em 2018 foi de R$ 25,7 bilhões, o maior da história dos bancos. Aí você pergunta: e a crise? Ela só existe para os de baixo. Os trabalhadores brasileiros são roubados diariamente pelo governo a serviço dos banqueiros. Por isso, o lucro do Itaú e dos outros bancos só aumenta (veja quadro ao lado).

Como os banqueiros nos roubam
Primeiro, os banqueiros cobram altas taxas de juros. Eles pegam dinheiro no Banco Central a 6% de juros. Porém, quando você atrasa a fatura do cartão de crédito, é obrigado a pagar mais de 400% de juros. Essa taxa não existe em lugar nenhum do mundo. Os bancos só podem cobrá-la porque os governos permitem.

Mesmo quando os bancos não emprestam, eles ganham. Para isso, basta que deixem dinheiro parado no Banco Central. Entre 2014 e 2017, os bancos receberam do governo, a título de juros da chamada “sobra de caixa”, a bagatela de R$ 449 bilhões. Sobra se caixa é o dinheiro que não foi emprestado a ninguém. É aquele mesmo que você depositou na sua conta no banco e não ganhou nada por isso. Pelo contrário, teve de pagar uma tarifa.

Dívida pública
A galinha dos ovos de ouro dos bancos é a dívida pública. Esse roubo funciona assim: os bancos não pagam impostos sobre os lucros, são uns dos maiores devedores da Previdência. Quando o governo fica sem dinheiro e pede emprestado aos bancos nacionais e estrangeiros, paga uma das mais altas taxas de juros do mundo, pegando dinheiro de quem deve ao Estado. Essa é a origem da dívida pública.

Em 2018, o governo pagou aos banqueiros e detentores da dívida pública R$ 2,9 bilhões por dia. No ano, pagou mais de R$ 1 trilhão. Esse dinheiro foi roubado dos impostos que você paga, porque os grandes empresários não pagam impostos. Segundo o Ministério da Fazenda, entre 2010 e 2019, os subsídios e liberações de impostos aos grandes empresários custou R$ 4 trilhões ao Orçamento. Isso significa 80% da dívida do governo federal.

Provavelmente você não saiba, mas quando paga sua conta de luz, para um imposto que vai direto para os grandes plantadores de soja. São R$ 20 bilhões que o governo doa aos grandes empresários do agronegócio todo ano.

O mecanismo
O sistema tributário, a taxa de juros nas alturas e a dívida pública funcionam como um mecanismo de expropriação da maioria da população – trabalhadores e classe média – para enriquecer banqueiros e grandes empresários.

Agora, querem sua Previdência, porque os impostos que você paga não são suficientes para manter o roubo do Orçamento da dívida pública e os subsídios bilionários aos grandes proprietários de terra e multinacionais.

VIRANDO COLÔNIA
A longa decadência e o projeto de barbárie de Paulo Guedes e Bolsonaro

Vivemos num país que não oferece os meios de vida e emprego para a maioria. A saúde pública está sucateada e não há vagas nas escolas. Esta catástrofe social é o resultado da subordinação do país aos interesses dos grandes empresários e banqueiros nacionais e estrangeiros. Estamos voltando ao século 19, quando éramos colônia de Portugal. Cerca de 80% da população vive nas cidades, mas o país se especializa na produção de soja, frango, carne de boi e minério de ferro para exportação. Enquanto isso, o emprego na indústria e na construção civil diminui.

A reforma da Previdência não vai garantir mais empregos como mente o governo. O que gera emprego é investimento em fábricas e obras, mas os grandes empresários e os banqueiros preferem ganhar dinheiro com juros da dívida pública roubando você. Essa reforma da Previdência aprofunda o parasitismo do capitalismo brasileiro para aumentar ainda mais os lucros do Itaú e dos grandes empresários.

Sim, o país está descendo ladeira abaixo. O PT, quando governou, podia ter mudado essa situação, mas não teve coragem para enfrentar os interesses dos capitalistas. Preferiu manter a ciranda da dívida pública e entregar dinheiro público a esses parasitas. Enquanto os preços das matérias-primas aumentavam no mercado internacional, parecia que o país estava subindo a ladeira, mas era pura ilusão.

Agora, são os grandes especuladores, como Paulo Guedes, que estão diretamente no governo. Para que os muito ricos sigam ainda mais ricos, estão dispostos a entregar o país para os especulares internacionais, oferecendo os trabalhadores como escravos. Essa é a história da classe dominante brasileira. Querem aprofundar a reforma trabalhista, entregar a Previdência pública aos bancos, vender o que resta das estatais. Querem aprofundar o roubo, a pilhagem e a entrega do país. Querem pagar aos aposentados menos do que esses senhores pagam numa conta de restaurante.

SAÍDA
O Brasil não pode ser independente nem se desenvolver sob o capitalismo

Quando uma empresa como a Vale está disposta a matar centenas de pessoas para garantir minério barato no mercado mundial, tem uma lógica: os acionistas querem lucro rápido, a única coisa que importa para eles. A Vale é uma multinacional. Embora o minério seja extraído do solo brasileiro, os grandes acionistas são os fundos de investimentos dos Estados Unidos e os banqueiros brasileiros.

A Vale é um retrato do capitalismo e da classe dominante brasileira. Quando o preço do minério de ferro estava barato, a Vale era uma empresa estatal. Quando o preço começou a subir, ela foi vendida a preço de banana. Os lucros da Vale poderiam ter enchido os cofres do governo, mas como os bancos multinacionais controlam o mercado mundial de matérias-primas, para que esse mercado fosse aberto para a Vale, ela deveria ser entregue a esses capitalistas. Assim, a covarde classe dominante brasileira entregou uma empresa lucrativa e ficou como sócia-menor dos grandes tubarões. Estão dispostos a estourar quantas barragens forem necessárias para enviar dinheiro aos seus senhores.

Saída dos trabalhadores
Essa é a lógica do capitalismo. A exploração e o roubo andam juntos. A saída dos trabalhadores para a catástrofe social que vivemos tem outra lógica: precisa atacar os ricos e seus lucros e garantir aposentadoria, empregos e condições dignas de vida para os trabalhadores e a maioria do povo.

Existem recursos de sobra para isso. Basta suspender o pagamento da dívida, proibir a remessa de lucros para o exterior, colocar empresas que ameaçarem fechar, como Ford e GM, sob controle dos trabalhadores e estatizar sem pagar um tostão aos seus donos. Também é preciso reestatizar e colocar sob controle dos trabalhadores e das comunidades as empresas como a Vale e a CSN, que ameaçam a vida dos trabalhadores e o meio ambiente.

Isso é socialismo!”, diria Paulo Guedes e o MBL. Ainda não seria o socialismo, respondemos, mas seria um passo importante para uma segunda e verdadeira independência do país e uma economia voltada para o desenvolvimento que atenda às necessidades da população trabalhadora, com pleno emprego, justiça, igualdade, Previdência e sem destruição do planeta.