Redação

Ciro Gomes está em segundo lugar na corrida eleitoral, com 22% das intenções de voto, segundo a última pesquisa do Ibope (divulgada em 16 de julho). O crescimento de Ciro já vinha sendo apontado pelos institutos de pesquisa desde o início de julho, quando a imprensa começou a noticiar com estardalhaço a possibilidade de termos um segundo turno disputado por dois candidatos de oposição ao governo. E mais: segundo o Ibope, ao contrário do governista Serra, Ciro teria condições de vencer Lula.

Mas que “oposição” é essa de que fala a imprensa? A perplexidade com a classificação de Ciro Gomes como “oposição” começa com sua biografia. Ele é um dos maiores exemplos de flexibilidade ideológica de que se tem notícia na política brasileira. Mas essas mudanças de perfil estiveram sempre a serviço de mantê-lo em aliança com o poder vigente.

Do PDS à “oposição”

Ele foi filiado à Arena, partido que sustentou a ditadura militar. No início da década de 80, a Arena mudou de sigla e nasceu o PDS, partido que abrigava nomes como Paulo Maluf, Antônio Carlos Magalhães e Delfim Neto e pelo qual, em 1982, Ciro foi eleito deputado estadual no Ceará.

Ciro foi reeleito em 1986, desta vez pelo PMDB, e tornou-se líder da bancada do então governador Tasso Jereissati. Com o apoio de Tasso, venceu as eleições para a prefeitura de Fortaleza em 1988 e, em 1990, para o governo do Ceará, desta vez já como membro do PSDB.

Sua principal obra como governador, o Canal do Trabalhador, foi realizada sem licitação e com volume de gastos na ordem dos R$ 48 milhões. A obra foi motivo para acusações de irregularidades administrativas feitas em 1994 pelo Ministério Público Federal ao então governador.

Deixou o governo cearense para assumir o Ministério da Fazenda de Itamar Franco, em setembro de 1994. Foi o responsável pela implantação efetiva do Real e abraçou sem restrições a política neoliberal de abrir o país às importações, privatizações e repressão ao movimento operário.

Ciro sempre foi um político da situação, mas, em 1997, deixou o PSDB para ingressar no PPS (a maioria do antigo Partido Comunista Brasileiro), sigla com a qual lançou-se candidato à presidência em 1998 e 2002.

O professor Mangabeira Unger, principal formulador das propostas de Ciro, explicou os motivos da reviravolta à revista ISTO É: “O PPS foi a forma de viabilizar a candidatura politicamente, mas todos têm a consciência de que o PPS não é a base política de um futuro governo (…). Precisamos de uma oposição que se apresente como agente de uma alternativa assimilável pela classe média, mas que não tenha medo de enfrentamento quando for necessário”.

O candidato de ACM

Tornar-se “assimilável” e manter-se na “oposição” têm demandado um intenso trabalho e muito malabarismo para a candidatura Ciro.

Para atrair o voto popular, Ciro afirma seu compromisso com a estabilidade da moeda, mas promete baixar os juros. Divulga que, quando governador, saneou as dívidas do Ceará, o que não é verdade: a dívida mobiliária do estado foi transferida para a União. Promete defender os direitos trabalhistas, duplicar o salário mínimo e tem um sindicalista como candidato a vice.

Para os empresários e banqueiros, com quem teve dezenas de encontros desde o início da campanha, Ciro tenta apagar a imagem de político destemperado e arrogante, propagandeia que o Estado deve ser parceiro da iniciativa privada e declara-se a favor das privatizações. A sua ascensão nas pesquisas atraiu setores do PFL, tem o apoio desse partido em 14 estados e conta com as adesões do presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, e do ex-senador Antônio Carlos Magalhães. Diante disso, o candidato de “oposição” afirmou que o PFL iria influir em seu programa de governo e participar de sua gestão, caso fosse eleito

Post author Luiza Casteli, da redação
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