A greve é, sem dúvidas, uma escola. Daquelas em que se aprende com a razão e com o coração. E o professor aparece de onde menos se espera. Os portões das unidades do Correios de Aracaju ficam abertos durante a greve. Mas quem entra para trabalhar é desmoralizado diante de seus colegas. Na assembleia da última sexta-feira, 30, os carros saíam da sede da capital sobrecarregados pelas correspondências e pelo peso da consciência de seus condutores. “Pelego, Traidor”. Esse era o tratamento dado aos motoristas por seus colegas em luta, no piquete.

Um veículo parou no portão de saída. Rapidamente, estava cercado de camisas amarelas. “Companheiro, venha para a greve. Nós estamos aqui por nossas famílias. Todo mundo tem que estar unido”. Essas palavras bombardeavam o motorista. Os seus olhos marejados denunciavam o nó na garganta. Ele continuava trabalhando porque seu filho estava doente. A pressão era muita e tinha medo de entrar na greve e ter o plano de saúde cortado pela empresa.

Nitidamente abalado, ele seguiu para trabalhar. Mas sua consciência só o deixou fazer a volta no quarteirão. Regressou para a sede dos Correios sob os aplausos de seus companheiros. Agora as vozes eram de comemoração. Ele não permaneceu na assembleia. Mas também não saiu mais para trabalhar.

Esse caso poderia passar como um detalhe em meio a agitação da greve. Mas o motorista que largou o serviço é um símbolo. Naquele dia, a escola dos trabalhadores ganhava mais um professor. Ele nos lembrou que o medo só nos domina se estivermos sós. E nos ensinou que “vencer” é um verbo que só existe no plural.

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