Vinicius Romão saindo do presídio mais magro e com o "cabelo black" raspado

Vinicius Romão, ator e psicólogo, foi preso por ser negro

Na tarde desta quarta-feira, 26 de fevereiro, Vinícius Romão foi solto através de um habeas corpus. Mas quem é Vinícius Romão? Ele foi ator na novela global Lado a Lado, psicólogo e trabalha em uma loja de um shopping. Mas, infelizmente, nenhuma dessas ocupações foi responsável pelo conhecimento das pessoas à sua existência. Vinícius tornou-se conhecido por ser mais um jovem abordado e preso pela polícia injustamente.

Na noite do dia 10 de fevereiro, Vinícius voltava para sua casa depois de um dia de trabalho. Como sua casa fica a 20 minutos do shopping, o jovem ator decidiu ir caminhando para o lar, quando foi abordado bruscamente pela PM. A polícia comunicou que ele estava preso para a averiguação, pois houve um assalto (seguido de agressão) próximo de onde ele estava, e Vinícius era suspeito. Chegando na delegacia, a vítima informou que Vinicius seria o ladrão que havia roubado sua bolsa. O delegado em nenhum momento, no entanto, questionou o fato de que ladrão usava bermuda e estava sem camisa, já Vinícius usava calça jeans e camisa preta. Muito menos o delegado se deu ao “trabalho” de conferir mais suspeitos para colocar lado a lado para a averiguação (algo comum de se fazer). Vinícius já estava condenado antes mesmo de ser julgado, antes mesmo de passar por um júri, antes mesmo de entrar na viatura, pois para toda polícia, ser negro e andar na rua a noite é ser bandido.

O jovem foi encaminhado à Casa de Detenção Patrícia Acioli (RJ). Após os amigos e familiares de Vinícius saberem do caso, foi feita uma ampla campanha pelas redes sociais denunciando o caso de racismo. Logo, pessoas de diversos lugares, sensibilizadas e revoltadas com o caso, compartilharam por toda a rede social a foto de Vinícius e acusando de racismo a PM de Cabral.

A mulher que foi assaltada foi na delegacia, depois de 15 dias, informar que havia cometido um “erro”. Um “erro” que custou quinze dias da vida de um jovem negro. Um “erro” que quando analisamos a história de nosso país, durou mais de três séculos de escravidão. Para os policiais, tudo não passou de uma confusão. A mesma confusão que levou o trabalhador, pai de seis filhos e morador da Rocinha, Amarildo, para dentro de uma viatura e que, quase um ano depois do caso, a única coisa que se sabe é que ele foi torturado e assassinado, mas seus restos mortais ainda não foram entregues.

O sistema carcerário conta com uma população de 65% de negros (53% de jovens até 30 anos ), casos como esse nos faz pensar quantos “Vinícius” temos encarcerados no Brasil injustamente? Quantos “Vinícius” foram presos por terem cometido o “crime lesa-pátria de andarem pela rua a noite após um dia de trabalho”? Quantos jovens foram presos por sua negritude? Sem dúvida alguma, Vinícius foi preso pelo “crime” de ser negro, em um país onde 132% dos jovens negros têm mais chances de serem mortos pela violência policial.

Vinícius conseguiu sua liberdade provisória através do habeas corpus, mas, infelizmente, ainda será investigado pelo crime que não cometeu, mesmo indo contra todas as leis da lógica (uma delas é que uma pessoa não pode estar em dois lugares diferentes ao mesmo tempo e, assim, usarem roupas distintas). Mas para a PM de Cabral, a única lógica que lhe convém é a de que todo negro deve ser morto ou ser preso, mesmo que os fatos sejam gritantemente opostos aos argumentos da polícia.

Nós, da Secretaria de Negras e Negros do PSTU, nos somamos a Vinícius e seus familiares na denúncia de racismo. E mais, cobramos que seja indiciado o delegado que prendeu o jovem ator por racismo. Denunciamos também as falácias de Cabral e seus projetos de (nada) “pacificação”, pois a mesma polícia que prende um trabalhador inocente é a mesma que se mostra ineficiente em encontrar os “Justiceiros” que amarram negros em postes. E, por fim, pedimos o fim do processo contra Vinícius e a sua total liberdade, pois o único criminoso dessa história foi o Governo do Rio de Janeiro (PMDB) e a sua polícia.