“Existem ‘n´ mecanismos pra inibir o desemprego. Você pode ter licença remunerada, férias coletivas, banco de horas”. Não se trata dos planos de um executivo de uma multinacional para enfrentar a crise. Por incrível que pareça, tal declaração saiu da boca do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, em entrevista à rede Globo no dia 5 de dezembro.

Tal declaração mostra de forma dramática o papel que cumpre a atual direção do movimento de massas no país. A crise econômica já desembarcou no país e encontra hoje duas alternativas políticas de direção para os trabalhadores. A da CUT e demais centrais, como a Força Sindical e CTB, que defende a ajuda do governo aos bancos e empresas, chegando ao extremo de elencar o banco de horas como alternativa às demissões e, de outro lado, da Conlutas.

A Coordenação Nacional de Lutas impulsiona hoje uma campanha em que condena a ajuda bilionária do governo a banqueiros e empresários e exige a estabilidade no emprego. Para enfrentar as demissões, a Conlutas defende a redução da jornada de trabalho, sem redução de salários ou direitos e a estatização das empresas que demitirem.

Um ano de lutas
A Conlutas vem se firmando como referência no dia-a-dia das lutas. 2008 foi exemplo disso. O ano que se encerra começou com uma grande luta dos metalúrgicos de São José dos Campos (SP) contra o banco de horas. A conjuntura ainda era outra e a produção aumentava, seguindo o crescimento da economia.
Nesse contexto, a GM quis impor um conjunto de ataques aos trabalhadores da planta na cidade, em troca da contratação de 600 novos funcionários. Entre as medidas destacava-se o banco de horas, imposto em todas as outras plantas da fábrica no país. Seguiram-se meses de uma intensa campanha realizada pela empresa, tanto no interior da fábrica quanto na sociedade, aonde contava com o apoio incondicional da prefeitura, da Câmara de vereadores da imprensa.

Do outro lado, o sindicato e a Conlutas organizaram a resistência. A campanha contou com manifestações nacionais de solidariedade, outdoors e paralisações, que se enfrentaram com a própria CUT. Por fim, os operários conseguiram derrotar o banco de horas e a luta dos metalúrgicos de São José dos Campos repercutiu em todo o país.

O primeiro semestre, contudo, não foi marcado apenas pela pressão pelo aumento da jornada e do ritmo de trabalho. A crise econômica já dava os seus primeiros sinais por aqui. Os preços dos alimentos sofreram um brutal aumento, atingindo principalmente os setores mais empobrecidos da classe. Tal situação provocou a mobilização de categorias como os operários da construção civil, cujos salários contrastavam com o crescimento dos lucros das grandes empreiteiras.

Os trabalhadores da construção se mobilizaram em fortes campanhas salariais em várias partes do país. Na mesma São José dos Campos, os operários da construção civil da refinaria Revap, da Petrobras, tiveram que passar por cima do próprio sindicato, ligado à CUT, para ir à greve por melhores salários e condições de trabalho. Com o apoio da Conlutas, os trabalhadores realizaram uma forte greve que agitou toda a região.

A greve dos operários em Fortaleza (CE), liderada pelo sindicato filiado à Conlutas, provocou comoção pelo grau de radicalidade. Entre as principais reivindicações, o reajuste do salário corroído pela inflação e o fim do trabalho aos sábados, medidas das empreiteiras para aumentar a jornada diante do aquecimento do setor.

O I Congresso da Conlutas
Em meio a esse processo de lutas, ocorre o I Congresso da Conlutas, em julho. Fruto da reorganização do movimento sindical e popular, o congresso reúne 2.805 delegados de todo o país na cidade mineira de Betim. No plenário que tomou conta do ginásio Divino Brava, representantes de 175 sindicatos de um total de 500 entidades, entre organizações estudantis e de movimentos sociais e populares.

Uma das principais deliberações do congresso é um chamado à Intersindical pela unificação das duas entidades numa só alternativa de luta dos trabalhadores, em contraposição à CUT e Força Sindical. Ao mesmo tempo, a Conlutas reafirma-se como pólo mais avançado do processo de reorganização, ainda que seu caráter permaneça aberto e a entidade em pleno processo de construção.

Programa contra a crise
A General Motors é um exemplo da dinâmica vivida pelos trabalhadores nesse ano. Se 2008 começou com a luta dos metalúrgicos da GM contra o banco de horas e a flexibilização de direitos, ele se encerra com a mesma GM em crise, colocando milhares de operários em férias coletivas e a perspectiva de uma onda de demissões, como a que já começou na Vale.

A CUT, enquanto isso, defende subsídio do governo às montadoras e grandes empresas. Ou até mesmo o banco de horas, como faz o atual presidente dos Metalúrgicosdo Sindicato do ABC.

Já a Conlutas termina o ano impulsionando uma campanha contra as demissões e pela estabilidade no emprego, e um programa que inclui a exigência ao governo que estatize as empresas que demitirem. Ao mesmo tempo, faz um chamado à unidade nessa luta, tanto à Intersindical quanto a setores como o MST, CUT, CTB e Força Sindical.

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