Com esse slogan, militantes do PSTU debateram um programa contra o racismo e todas as formas de opressão e exploração da classe
Entre os dias 4 e 7 de setembro, os negros e negras do PSTU deram um passo importantíssimo na batalha contra todas as opressões e o racismo, no 4º Encontro de Negras e Negros do partido. No início do encontro foi eleita uma “mesa de honra” presidida simbolicamente por Max Marreiro, militante negro do PSTU recém-falecido e imortalizado junto a Zumbi, Dandara, Luiza Mahin, João Candido, Amarildo, DG, Cláudia, Trotsky, entre tantos outros, pela luta incansável contra o racismo e pelo socialismo no Brasil e no mundo.
Foram longos e importantes debates sobre as tarefas dos revolucionários contra o mito da democracia racial, encarnada e sutilmente utilizada nas políticas do Estado, na exploração dos patrões e infelizmente também entre a esquerda e a própria classe. E que sustenta todo racismo contra os homens e mulheres todos os dias no Brasil.
Um programa marxista, classista e revolucionário contra todas as formas de racismo
As elaborações provenientes do marxismo revolucionário constituíram a grande base teórica das discussões programáticas para revolução brasileira. Principalmente as discussões polêmicas de Trotsky e Cannon sobre o papel da luta negra nos países desenvolvidos e nas colônias e semi-colônias do imperialismo. Passando pelas teses de Moreno sobre a questão colonial na America Latina e a necessidade das tarefas democráticas aos povos originários e escravizados.
“O encontro foi muito importante pela questão do rearme programático da nossa militância”, afirmou Wilson Silva, militante histórico contra o racismo, criticando o quanto o tema foi omitido pela esquerda durante um longo período. “Discutimos desde as contribuições de Marx, que dizia que o capitalismo deu origem ao racismo através da necessidade da exploração da escravidão, e ele dizia ainda que o trabalhador branco nunca vai ser livre enquanto o trabalhador negro não for livre”, relata.
As tarefas para o conjunto da classe nos dias de hoje também foram debatidas, como a reparação aos mais de 350 anos de escravidão, a luta pela posse das áreas quilombolas e indígenas, o genocídio da juventude negra, a identidade cultural da periferia, a intolerância religiosa para as religiões de matrizes africanas, redução da maioridade penal, as lutas da construção civil, metalúrgicos, na mineração, e entre os terceirizados das obras do PAC e da Petrobrás.
Também foi discutido o aumento da identidade de raça da classe trabalhadora e da juventude nos últimos anos, ainda mais na conjuntura de crise econômica e política atual, e os ataques a classe trabalhadora pelo governo Dilma (PT), que ainda cooptou boa parte das direções do movimento negro e as pautas negras do povo pobre da periferia.
A construção do programa de raça e classe, e uma direção revolucionária, são necessárias e urgentes para romper com as ideologias burguesas e de colaboração de classes, particularmente com teorias pós-modernas que apontam saídas individuais e puramente raciais, e combater toda exploração capitalista da classe e da juventude.
“Esse encontro é um marco histórico, foi muito acertado a gente ter pegado o debate em torno do mito da democracia racial, o que evidentemente se reflete em nosso partido, não estamos imunes a isso, mas é pra gente convencer a nossa militância, negra e também não negra, de que é necessário que esse partido tenha uma política pra ganhar o melhor do proletariado negro, que é segundo maior proletariado negro do mundo”, afirma Hertz Dias, do Movimento Quilombo Urbano do Maranhão.
As mulheres negras e a luta contra o machismo e racismo
Outro ponto alto do encontro foi o debate sobre a opressão machista, homofóbica e racista às mulheres negras. Identificar as diferentes formas das expressões de racismo contra as mulheres é fundamental para entender que, para além da luta implacável contra o machismo, os revolucionários devem elaborar um programa específico para as mulheres negras que, perante a exploração capitalista, são ainda mais exploradas e agredidas pelo racismo.
“Vamos levar o combate pra fora contra esse mito da democracia racial e esse racismo que se expressa de diversas formas, e internamente também estamos dando uma batalha forte pra potencialização da mulher negra, tanto no partido quanto na sociedade”, afirma Cláudia Durans, professora da Universidade Federal do Maranhão e que compôs a chapa à presidência da República pelo PSTU como vice.
Para se ter uma ideia, segundo a PNAD/IBGE de 2012, entre as mulheres, as negras somam 52%, ou mais de 50 milhões de pessoas, e sofrem muito mais com o racismo. Os salários são quase duas vezes menores que as mulheres brancas, estão nos empregos mais precarizados, no trabalho informal ou nas funções de empregadas domésticas. Sofrem com a falta de serviços públicos, como creche, uma vez que são muitas vezes mãe solteiras e a única fonte de renda da família.
E foi ainda resgatado o papel central que as mulheres negras tiveram nas lutas dos negros e da classe, na organização dos quilombos e revoltas negras. Tendo à frente mulheres como: Aqualture, Teresa de Quariterê e Dandara que chefiaram o Quilombo de Palmares, em pé de igualdade com Zumbi. Junto a Luiza Mahin na revolta dos Malês, são exemplos de mulheres que devemos reivindicar. Esses exemplos tem que orientar e dar centralidade das mulheres negras na direção dos avanços e das resistências contra todas as formas de opressão e exploração da classe.
Enegrecer nossas lutas contra todas as formas de opressão e exploração