Boa parte da militância petista questionou a ida de Lula a Davos. A direção do PT vendeu a idéia de que a viagem foi para negociar com os grandes banqueiros as propostas sociais do governo. Em Porto Alegre, Lula prometeu defender em Davos “uma nova ordem mundial, na qual as riquezas sejam divididas de forma mais justa”.
Em Davos reuniu-se a elite dos especuladores, banqueiros e industriais de todo o mundo, que pagam 30 mil dólares cada um para participar. Foi exatamente em oposição à Davos que se organizou o I Fórum Social em Porto Alegre.

Davos não é uma mesa de negociação entre patrões e empregados, na qual um líder sindical muitas vezes deve se sentar para levar as reivindicações de sua base. Trata-se de uma conferência onde se elaboram as grandes linhas da política econômica responsável pela miséria dos povos de todo o mundo. Não se trata de negociar com Davos, mas de lutar contra Davos.

Não por acaso, quando Lula passou em Zurique, manifestantes estendiam uma faixa que dizia “Líderes de todo o mundo: vocês não são bem vindos”. Depois, teve de voar em um helicóptero para superar as barricadas colocadas na estrada entre Zurique e Davos. Por fim, ultrapassou as cercas de arame farpado que protegiam a elite ali reunida. Isto é mais que simbólico: Lula esteve em Davos do lado oposto das manifestações antiglobalização.

Lula não foi a Davos negociar uma agenda social, mas para se apresentar como um governo que vai “defender o livre comércio” e “respeitar os contratos internacionais”. Não foi uma mera coincidência o anúncio, durante sua viagem, do aumento dos juros no Brasil. Não é por acaso que, logo após a sua volta, o governo esteja entregando as propostas de negociação da Alca dentro dos prazos previstos (15 de fevereiro).

Em seu discurso em Davos, Lula propôs um fundo internacional contra a fome, uma espécie de Fome Zero internacional. Também neste caso foi aplaudido pelos banqueiros ali reunidos.

Há dois anos, em uma reunião do FMI e Banco Mundial, foi avaliado que o crescimento da miséria em todo o mundo estava levando a explosões sociais que ameaçavam os planos neoliberais. Foi proposto então que os governos aprofundassem estes planos, mas acrescentassem políticas sociais compensatórias como Fome Zero, Bolsa Escola, etc. O governo FHC já vinha aplicando esta receita, que Lula também assume com estardalhaço.

Lula propôs um comitê que unisse Davos e Porto Alegre, proposta rejeitada até mesmo pelos organizadores do III Fórum Social Mundial. Isso significaria simplesmente o fim do Fórum Social, sua subordinação completa a Davos.

Não é possível aceitar o modelo neoliberal, os acordos com o FMI, a implantação da Alca e “defender uma nova ordem mundial mais justa”. Quando duas platéias tão diferentes como as reunidas em Porto Alegre e Davos, aplaudem Lula, uma delas está enganada. E seguramente não são os banqueiros de Davos…

Vinte mil panfletos no ato de Lula

Dia 24 de janeiro, 18 horas, Anfiteatro Pôr do Sol, Porto Alegre. Cerca de 80 mil pessoas aguardavam o pronunciamento de Lula no III Fórum Social Mundial. Nesta hora, dezenas de militantes do PSTU distribuíam um panfleto exigindo que “Lula rompa com a Alca, o FMI e Davos e demita os ministros burgueses do governo”. Foram entregues mais de 20 mil panfletos. Os militantes do Partido abriram uma faixa onde se lia “Não à Alca: Plebiscito Oficial Já!”. Mesmo os mais entusiasmados com a fala de Lula recebiam e liam com atenção o panfleto do PSTU.

Apesar da grande expectativa, quando Lula surgiu no palanque, milhares gritaram: “Fica! Fica! Fica!”, manifestando-se contra sua ida a Davos.
Post author Eduardo Almeida, da Direção Nacional do PSTU
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