Lula e o então ex-vice de Dilma Roussef, Michel Temer Foto Instituto Lula
Direção Nacional do PSTU

Lula foi condenado em primeira instância a nove anos e seis meses de prisão e recorrerá em liberdade dessa sentença.  Ele foi julgado em um dos cinco processos de corrupção em que é réu. O processo que gerou essa condenação foi sobre o caso do apartamento triplex no Guarujá.

Diante desse fato, parte das lideranças burguesas (todas corruptas) comemora. O PT, por sua vez, se faz de vítima, como se existisse mera perseguição política porque esse teria “defendido os pobres contra o mercado”, o que evidentemente é uma mentira.

Os governos do PMDB, do PSDB e do PT (todos aliados ao DEM, PP, Solidariedade e outros partidos burgueses), governaram todos e sempre para a JBS, a Odebrecht, a OAS, o Itaú, o Bradesco, a Volkswagen, a GM, a Oi, a Globo, a Embraer, o Santander, a Gerdau, etc. Todos comprados por eles. Isso nunca ficou tão nítido para todo mundo como agora.

Por isso, nem um, nem outro setor tem razão. Nem PSDB, PMDB, Caiado, Dória, Aécio e cia. podem falar que a condenação de Lula é justa sem dizer que eles são completamente corruptos. Nem o PT pode se dizer perseguido pela burguesia sem dizer que, quando esteve no governo, só defendia os interesses dela.

A classe trabalhadora, por sua vez, não tem porque escolher entre o fogo e a frigideira. Essa não é uma escolha. Entre um e outro, não escolhemos nenhum, devemos trilhar um caminho independente. Nem confiamos e nem aplaudimos a justiça burguesa (e menos ainda Dória, Caiado, Bolsonaro e cia.), nem nos comprometemos a defender Lula e o PT, porque eles fizeram um governo corrupto voltado para atender os interesses do grande empresariado. Ou muitos dos corruptos comprovados que estão agora no governo Temer não fizeram parte também dos governos do PT?

Uma geração inteira de trabalhadores e trabalhadoras se envolveu na construção do PT e carregou de verdade no peito a esperança de construção de uma nova sociedade. Mas a direção do PT traiu esse sonho há muitos anos ao resolver governar esse sistema que está aí, junto com a burguesia e para a burguesia. Não fez outra coisa durante muito tempo, que não fosse governar para os de cima e promover enganação para os debaixo.

A direção do PT passou adorar e a fazer parte do ambiente dos patrões. José Alencar, o empresário que foi vice de Lula e de quem ele era tão amigo, não era amigo dos operários da sua fábrica Coteminas, a quem ele explorava sem dó. Bumlai, outro amigão do Lula, pecuarista do Mato Grosso, trata a peãozada que trabalha para ele como a Casa Grande tratava a senzala. O dono (pai) da Odebrecht, o ditador de Angola e tantos outros grandes amigos do Lula e do PT, mostram que o PT fez um governo inteiramente burguês e pró-imperialista, com corruptos e corruptores. Governos burgueses são corruptos. A corrupção faz parte do capitalismo. E o PT decidiu governar o capitalismo para os capitalistas.

Até Maluf recentemente defendeu o Lula. Poderíamos ficar aqui citando páginas sem fim de relações espúrias.

Frei Beto disse à imprensa que a condenação não desabona ninguém, comparando Lula com Vladimir Herzog e outros mártires da ditadura. Mas a comparação com Vladimir Herzog e outros perseguidos da ditadura, inclusive o Lula do passado, não é uma comparação correta.

Em 1980, Lula, Zé Maria do PSTU e mais dezenas de sindicalistas foram presos pelo Deops e enquadrados na Lei de Segurança Nacional por liderarem uma greve operária e por desafiarem a Ditadura. Aquela prisão dá orgulho, enobrece, levanta a moral da classe trabalhadora, dá sentido à sua luta.  A condenação de hoje é desmoralizante, porque mesmo que Lula seja inocentado neste processo, o contexto de hoje é que o  PT está misturado com PMDB, PSDB, PP e outros da mesma laia num enorme processo de corrupção.

Ninguém, evidentemente, pode defender autoritarismo, prisão sem provas ou qualquer limitação ao direito de defesa ou às liberdades democráticas, tampouco não saber que a justiça burguesa é injusta. Não se trata disso. Mas, a situação atual do Lula não é produto de uma perseguição política à classe trabalhadora. É uma disputa entre dois campos burgueses, dentro da democracia burguesa, em crise.

A situação de hoje é consequência de uma política e de uma escolha. O PT decidiu governar em aliança com esses partidos burgueses e corruptos o capitalismo brasileiro. Não nos esqueçamos que o Temer era vice da Dilma. As consequências são essas aí que todos estamos vendo.

Também é de grande hipocrisia falar em “Estado de Exceção” devido às prisões de meia dúzia de políticos e empresários. Isso livra a cara dessa democracia dos ricos, que é não só corrupta como extremamente autoritária: o povo pobre e negro da periferia vive um genocídio (556 mil pessoas foram assassinadas no Brasil em 12 anos); há um processo de encarceramento em massa no Brasil. São mais de 600 mil presos e quase 300 mil são vítimas de prisão preventiva, coercitiva e sem julgamento. Em sua maioria jovens, negros, pobres, sem antecedentes criminais. Esta situação deu um salto, por incrível que pareça, sob os governos do PT. Quer dizer: sob o PT tínhamos “Estado de Direito” porque só os pobres eram presos sem julgamento (Rafael Braga que o diga!) e agora temos “Estado de Exceção” por causa da Lava Jato?  Tenham a santa paciência!

Esse discurso é revoltante ainda mais quando desmontam uma Greve Geral e, por debaixo dos panos, negociam com Temer e Rodrigo Maia. Ou quando levamos bombas ininterruptas da polícia ao protestar em Brasília contra as reformas e Temer, sabendo que elas são produto dessa democracia dos ricos e das leis repressivas aprovadas sob os governos do PT.

Defendemos a prisão e o confisco dos bens de TODOS os corruptos e corruptores. E somos contra abafar as investigações contra quem quer que seja.

Em certa medida, não alegra ninguém que o maior expoente que a classe trabalhadora brasileira construiu na sua história, acabe sendo condenado por corrupção por ter passado para o lado da burguesia. Mas, ao mesmo tempo, o desfecho dessa tragédia e dessa farsa que o PT construiu não surpreende. Demonstra que o PT e Lula já não têm condições de representar a classe trabalhadora, pois escolheram outros amigos e outro caminho.

A classe trabalhadora deve lutar para botar abaixo as reformas, por Fora Temer e todos eles; defender a expropriação e estatização sob controle dos trabalhadores da JBS, Odebrecht, da OAS,  etc., assim como a prisão de todos os corruptos e corruptores e a suspensão do pagamento da dívida aos banqueiros, para que os ricos paguem o preço da crise. Nessa luta, devemos buscar construir um governo socialista dos trabalhadores, que governe por conselhos populares, para garantir emprego, salário, direitos, educação, saúde, reforma agrária, o fim do machismo, do racismo, da violência e da LGBTfobia.

Lula tem direito de recorrer na justiça e se defender.

Mas não é tarefa da classe trabalhadora nesse momento, de modo algum, fazer ou participar de atos em defesa de Lula ou contra Lula.

Nossa tarefa é lutar contra as reformas, derrubar Temer e esse Congresso e, ao mesmo tempo, construir uma alternativa de independência de classe, por fora do campo de colaboração de classes do PT e do campo dos partidos burgueses.

A tarefa mais importante da classe trabalhadora é forjar uma nova organização que não concilie com a burguesia, que seja controlada desde baixo, que seja revolucionária e não mero instrumento de gestão do sistema atual. Afinal, ao invés do PT mudar o Estado burguês, foi o Estado e a burguesia que mudaram o PT. Isso devia ser uma profunda lição.