Publicado no Portal da LIT-QI

1. O governo de Dina Boluarte, de mãos dadas com o Congresso, desencadeou uma feroz repressão no interior do país para derrotar a rebelião popular que, a partir dos distritos rurais e províncias mais pobres, tomou conta das cidades do Sul enfrentando o que eles entendem como roubo de seus votos pelo Congresso.

27 mortes é o saldo, até agora, do estado de emergência ditado pelo governo assassino de Boluarte-Congresso, que deu rédea solta às forças armadas e policiais para atirar para matar.

2. Por outro lado, procurando legitimar-se e impedir que o movimento ascenda e se unifique numa luta nacional, o Congresso, em uma segunda sessão, aprovou a antecipação das eleições gerais para 24 de abril, em calendário feito à sua medida e faltando uma segunda votação.

3. O que foi acordado no Congresso não tem nada a ver com o que reivindicam o povo pobre que está lutando. O que está agitando nas ruas é que o Congresso e Boluarte saiam já. E que sejam convocadas eleições imediatas e uma Assembleia Constituinte.

4. Infelizmente, até agora, a política dos dirigentes das centrais sindicais, como a CGTP (Confederação Geral de Trabalhadores do Peru), tem impedido a classe trabalhadora de aderir à mobilização encabeçada pela população do campo que chegou às cidades para enfrentar o governo.

5. Esta é a mesma política implementada pelos partidos que se autodenominam “de esquerda”, que, agarrados à sua estratégia eleitoral, têm evitado fazer uma declaração categórica sobre a situação que vivemos.

Nem Verónika Mendoza, nem Arana, nem Huilca ou Glave fizeram um apelo franco para fortalecer a rebelião popular, ampliá-la ou exigir a queda imediata do governo e do Congresso.

6. Agora, 27 mortos depois, a CGTP começa a falar na eventual convocação de uma Paralisação Nacional. No entanto, a sua convocação está sujeita a uma Assembleia Nacional de Delegados que não tem data marcada… sendo que a luta é agora, nas ruas do interior do país, o povo continua sendo morto.

7. Hoje a luta dos trabalhadores coloca um dilema de ferro: ou triunfam eles, montados na sua sangrenta repressão, ou triunfam as organizações que se encontram mobilizadas. Ou as balas garantem a continuidade do regime de democracia corrupta, ou esse regime cai nas mãos da mobilização popular. Nós apostamos no segundo.

Por isso, para atingir este objetivo, a luta deve ser ampliada, aprofundar as coordenações de base e exigir da direção da CGTP a convocação imediata de uma paralisação nacional pela queda do governo Boluarte-Congresso, pôr fim ao estado de emergência, e o atendimento às demandas da rebelião popular em curso.

Tudo o que for possível de conseguir a partir da ação unificada e nacional do povo e da classe trabalhadora. Basta lembrar que, quando o regime corrupto e assassino de Fujimori-Montesinos foi derrubado nas ruas (novembro de 2000), os patrões e seus partidos convocaram eleições 5 meses depois (abril de 2001), temerosos da ação dos trabalhadores.

8. É preciso também discutir e organizar nas bases mobilizadas a autodefesa do povo mobilizado diante da repressão e fazer um chamado às tropas das Forças Armadas e da polícia para não atirar em seus irmãos e irmãs que estão lutando. Desobedeçam a seus oficiais e juntem-se à luta do povo pobre e trabalhador!

9. Finalmente, do Partido Socialista dos Trabalhadores, pensamos que a luta do povo contra a repressão e este governo aliado ao Congresso, coloca sobre a mesa uma questão fundamental: Quem deve governar o país?

O Congresso e Boluarte apostam em controlar a situação depois das festas e impor seu calendário para governar contra os trabalhadores e o povo. Para os partidos reformistas, mesmo os que se dizem “de esquerda”, todo o problema se reduz ao calendário eleitoral.

No fundo, nenhum desses setores está disposto a tocar em um fio de cabelo dos interesses dos que dominam o país: as mineradoras, petroleiras e o agronegócio. Nem dos grandes bancos e corporações. Assim como os interesses imperialistas.

Pensamos que o caminho é precisamente o contrário: para tirar o país da miséria que a revelou pandemia de Covid-19 que causou 240.000 mortes entre os pobres, é fundamental recuperar as minas, poços de petróleo e as terras do país, para colocar toda essa riqueza a serviço dos trabalhadores e de suas necessidades. É urgente distribuir o trabalho entre todos os que dele necessitam, e para isso devemos ocupar as fábricas e grandes comércios para dar trabalho. Devemos romper com o imperialismo que nos parasita e nos condena à prostração e à barbárie.

Todas as medidas que só podemos tomar se formos os trabalhadores e o povo que tomamos o poder nas nossas mãos, através de nossas organizações de luta. Esta é a enorme tarefa que, no fundo, explode novamente à nossa frente. Um governo operário e popular que apresente um plano de emergência para dar solução às demandas do povo pobre, conduza o país no caminho do socialismo e defenda suas medidas com a autodefesa organizada de todos o povo pobre.

– Convocatória de eleições gerais já!

– Assembleia Constituinte para recuperar a terra e nossos recursos naturais, garantir trabalho, saúde e educação para o povo pobre do campo e da cidade!

– Por um governo das organizações operárias e camponesas e dos que estão lutando!

Pronunciamento do Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), seção peruana da Liga Internacional dos Trabalhadores