Existem enormes dúvidas em todos os setores do movimento de massas sobre os rumos do governo Lula e quais são as alternativas. O governo está paralisado, grogue, nas cordas, sob uma saraivada de denúncias de corrupção. Exemplos da América Latina, como as derrubadas de governos no Equador e na Bolívia, surgem de imediato nas discussões e todos se perguntam: a situação brasileira vai evoluir para algo semelhante? Lutar contra a corrupção no governo implica em fazer uma frente com a oposição burguesa, tão ou mais corrupta que Lula? Perante a crise do PT e da CUT, quais são as alternativas?

O governo está paralisado, em crise. Sofreu um golpe do qual talvez nunca se recupere. As denúncias de corrupção amontoam-se, dia após dia. A credibilidade política do governo desabou, e o pesadelo do PT não parece ter um fim próximo. Aparentemente ainda existe um arsenal grande de denúncias.

O governo poderá cair?
Delúbio Soares, o PC Farias do governo Lula, e suas conexões explosivas com as estatais e os esquemas de corrupção começam a serem investigados. As investigações podem alcançar também Luís Gushiken e suas relações com os Fundos de Pensões. A morte de Celso Daniel poderá voltar aos noticiários.

Assim, existiria munição suficiente para que uma CPI aprofundasse as investigações até o ponto em que um impeachment (como de Collor) estivesse colocado em pauta. No entanto, como veremos, não é essa a intenção da oposição burguesa (PSDB e PFL).
As denúncias tiveram impacto entre os trabalhadores e a juventude. As expectativas em torno de Lula já estavam abaladas por dois anos de aplicação do plano neoliberal. Os escândalos de corrupção foram a gota d’água, que fizeram transbordar o copo, levando a uma ampla ruptura pela base com o governo. Os índices de popularidade do governo (35% de ótimo e bom) ainda estão longe dos níveis de repúdio alcançados por Collor, na época do movimento Fora Collor. Isso, porém, é circunstancial. Devemos acompanhar com atenção a evolução do processo, a continuidade das denúncias e a crise econômica.

Uma coisa é certa: o PT nunca mais será o mesmo. Há tempos perdeu qualquer vestígio do partido que surgiu das greves, transformando-se em um partido do regime. Deixou também de ser um partido identificado com a oposição ao neoliberalismo, aplicando todo receituário do FMI. Agora nunca mais poderá posar de “partido da ética”. É um golpe muito sério, que vai ter desdobramentos profundos – ainda não totalmente claros – pela dimensão da ruptura em suas bases.

Existem outras péssimas notícias para o governo. A economia dá claros sinais de estancamento (ver a página 5), o que pode tirar do governo o seu mais precioso trunfo de marketing. Por outro lado, existem lutas, neste momento, como a greve dos previdenciários e a mobilização popular de Florianópolis, que demonstram uma enorme combatividade e radicalização. É possível que ocorram lutas sindicais e populares de maior porte no segundo semestre.

Um cenário que combinasse crise política, crise econômica e ascenso de massas poderia evoluir para uma situação como a da Bolívia ou do Equador. Isto é tudo o que o PT e a oposição burguesa não querem.

O jogo duplo da oposição burguesa
O PSDB e o PFL querem retomar o governo nas eleições de 2006. Viram nas denúncias de corrupção uma arma para enfraquecer eleitoralmente Lula, mas não têm a menor intenção de derrubá-lo.

O PT é muito importante para a burguesia por dois motivos: 1) É quem implementa o plano econômico do FMI; 2) É o principal sustentáculo do regime democrático burguês.
Hoje existe um enorme desprestígio de todas as instituições do regime, incluindo os partidos da oposição burguesa. Quem capitalizaria hoje um movimento semelhante ao que foi o Fora Collor? Seguramente não seria a oposição burguesa, cujos partidos seriam vaiados em qualquer manifestação popular.

Por esse motivo, tanto o PSDB como o PFL vão querer dosar as investigações para que não respinguem também neles (afinal boa parte desses esquemas foram montados nos governos anteriores), e evitar chegar a um pedido de impeachment do governo.

A possibilidade de derrubada do governo só poderia ocorrer, então, no caso em que o movimento de massas entrasse em cena, com grandes mobilizações, semelhantes as que ocorreram na Bolívia. Mas aí entra em jogo o papel da CUT, UNE e de suas direções sindicais. Não por acaso essas direções saíram em defesa do governo contras as denúncias de corrupção, porque estão diretamente envolvidas no usufruto das verbas do Estado. A CUT e a UNE são os pontos de apoio do PT para evitar o surgimento de grandes lutas, assim como de um movimento diretamente contra o governo. O sonho do governo é que a CUT e a UNE possam atuar para bloquear crises, como o próprio PT atuou em 99 para evitar o movimento Fora FHC.

Caso não surja um movimento com essas dimensões, é possível que o governo se arraste até as eleições de 2006, muito enfraquecido, como Sarney ao final de seu mandato.

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