Mestre do modernismo, Oswald revolucionou a arte brasileira ao tentar sintonizá-laQuando o escritor Oswald de Andrade faleceu há 50 anos, em 22 de outubro de 1954, aos 64 anos, a grande imprensa deu pouco destaque para o fato. Há anos, o mestre do modernismo brasileiro era solenemente esnobado pela mídia. Aliás, a bem da verdade, Oswald, sua obra e suas posições políticas, nunca foram bem aceitos pelos setores dominantes da elite intelectual brasileira. Para muitos, seu banquete antropofágico e eventualmente comunista sempre foi um tanto difícil de ser digerido.
Canabalizando a elite
O nome de Oswald geralmente surge colado à Semana de Arte Moderna de 1922, o evento que revolucionou a arte e a cultura no Brasil. Realizada com o objetivo de chocar a burguesia e sacudir a intelectualidade, a Semana foi uma tentativa de tirar a arte brasileira de sua condição de cópia acrítica de tendências culturais vindas do exterior.
Não que se negasse a necessidade de se dialogar com a produção estrangeira. Muito pelo contrário. O próprio Oswald não só viajou por boa parte da Europa e do Oriente, como também defendia que as inovações do Cubismo, do Expressionismo, do Surrealismo e do Futurismo e de toda a arte de vanguarda eram mais do que bem-vindas. O que deveria ser modificado era a postura dos artistas brasileiros diante dessa produção.
Foi com esse objetivo que escritores, músicos, artistas e poetas modernistas tomaram de assalto o Teatro Municipal de São Paulo, uma espécie de templo da arte elitizada, e provocaram um escândalo, recebido por saraivadas de vaias e ofensas, que até hoje repercute na arte brasileira.
A própria realização da Semana e a participação de Oswald, contudo, só podem ser compreendidas se analisadas em relação ao contexto histórico da época. Aquele é o mesmo período em que o Brasil assistia a uma intensificação das greves operárias, ao surgimento do movimento comunista, à criação da Coluna Prestes e a tantas outras mudanças radicais. E se a radicalidade era a marca dos chamados anos loucos, Oswald foi um de seus melhores porta-vozes.
Arte e política
Em 1924, Oswald e Tarsila do Amaral fundaram o Movimento Pau-Brasil, cujos objetivos foram expressos num manifesto que defendia libertar a poesia das influências nefastas das velhas civilizações em decadência. Algo que, para Oswald, poderia ser feito caso os poetas se voltassem para a realidade: A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
Essa mescla de arte, revolução e realidade, igualmente presente no Manifesto Antropófago (1928), fez com que Oswald se aproximasse da militância política. No início da década de 30, ingressou no Partido Comunista (do qual se afastou em 1945) e se engajou nas lutas do movimento operário e antifascista, publicando, inclusive, O Homem do Povo, um jornal voltado para temas como revolução, arte e cultura.
Boa parte desta militância foi feita ao lado de Patrícia Galvão, a Pagu, com quem estava casado, e que foi responsável pela aproximação de Oswald das posições trotskistas, primeiro através de Mário Pedrosa, que dirigia a Liga Comunista e publicava o jornal Vanguarda Socialista (onde Pagu também escrevia), depois através da filiação à Federação Internacional da Arte Revolucionária Independente, fundada por Leon Trotski e o surrealista André Breton.
O engajamento político de Oswald foi responsável por seu gradual isolamento no cenário intelectual. Em junho de 1944, ao comparar, em um artigo, o nacionalismo com um câncer, Oswald provocou a ira da ditadura Vargas, o que fez com seu espaço na imprensa fosse diminuindo gradativamente.
No início da década de 50, além de se tornar professor na Universidade de São Paulo, Oswald candidatou-se a deputado federal pelo Partido Republicano Trabalhista, com um slogan que na forma e conteúdo é um reflexo e síntese de sua vida e obra: pão-teto-roupa-saúde-instrução-liberdade. Uma trajetória inegavelmente contraditória, mas indiscutivelmente fundamental para a cultura brasileira.
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