Jogadores do Chile pedem educação pública para todos

Jogadores destoam do Padrão Fifa e se envolvem com questões sociais

O início da Copa do Mundo surpreendeu com jogos empolgantes, times ofensivos e muitos gols. Até as oitavas de final, essa Copa tinha a maior média de gols em 32 anos. Mas fora dos gramados e por trás das câmeras, algumas seleções vêm marcando outros gols que não ganham a mesma repercussão na imprensa e que destoam desse ambiente dominado pelas multinacionais, pelo marketing esportivo e a Fifa.

Jogadores da seleção do Chile, que surpreendeu o mundo com uma ótima campanha antes de ser desclassificada pelo Brasil, divulgaram uma foto protestando contra a situação da educação em seu país. A imagem foi divulgada pelo meia Valdivia nas redes sociais pouco antes do início do mundial. O técnico da seleção chilena também se deixou fotografar com uma camisa escrita “Todo Chile pela educação pública”.

Os movimentos sociais e estudantes chilenos lutam por uma educação pública de qualidade, contra o modelo privado imposto pela ditadura no país e aprofundado pelos governos que se seguiram. Desde 2006, com a chamada “revolta dos pinguins” (apelido dado por conta do uniforme dos estudantes secundaristas) mobilizações sacodem o país exigindo educação pública para todos.

Os jogadores da seleção argentina Lionel Messi, Javier Mascherano e Ezequiel Lavezzi, por sua vez, se juntaram às Avós da Praça de Maio numa campanha pela busca de pessoas seqüestradas quando crianças pela ditadura genocida que vigorou no país de 1976 a 1983. Eles receberam uma comissão da organização no centro de treinamento pouco antes de viajarem ao Brasil para a Copa e tiraram uma foto com uma faixa da campanha “Resolva tua identidade”, além de gravarem um vídeo (veja o vídeo da campanha aqui).

A campanha tem o objetivo de ajudar as famílias que tiveram seus filhos e netos sequestrados pela ditadura, assim como os argentinos que acham que possam ter sido vítimas desses crimes na infância. Estima-se que 500 crianças tenham sido tiradas de suas mães pela ditadura.

Já o craque da França, Karim Benzema, chamou atenção por não cantar o hino de seu país, a famosa Marselhesa, antes dos jogos. É um protesto que o jogador de origem argelina faz contra a xenofobia que cresce em seu país. A atitude de Benzema  não é nova e já fez com que o política de ultradireita, Jean Maria Le Pen, defendesse que o jogador não fosse mais convocado para a seleção francesa.

Nos últimos dias, repercutiu na imprensa uma notícia de que a seleção da Argélia, que surpreendeu chegando pela primeira vez em sua história nas oitavas de final de uma Copa do Mundo, teria supostamente doado o prêmio recebido pela Fifa aos palestinos da Faixa de Gaza. Infelizmente, a notícia é falsa, mas nas fotos da chegada da seleção à capital Argel os jogadores desfilaram entre a multidão com uma bandeira da Palestina.

Numa Copa em que a repressão policial vigora fora dos estádios e que personagens do futebol brasileiro dão depoimentos tão lamentáveis sobre os protestos, essas posturas e atitudes  representam verdadeiros gols fora das quatro linhas.

Bem que poderiam inspirar os nossos jogadores.