Manifestante enfrenta polícia nas ruas de Atenas

Assassinato de adolescente pela polícia desencadeia uma série de protestos que faz balançar o governo gregoA Grécia está sendo sacudida por uma série de protestos radicalizados que já dura dias. Diariamente, os manifestantes estão enfrentando a polícia e a repressão nas ruas, transformadas em verdadeiras praças de guerra. O levante começou com uma onda de protestos contra o assassinato de um jovem pela polícia grega, mas logo evoluiu para um movimento contra o próprio governo neoliberal do país.

No sábado, dia 6 de novembro, uma viatura da polícia fazia uma incursão no bairro de Exarchia, em Atenas, quando foi cercado por um grupo de jovens. Segundo os policiais, os jovens ativaram paus e pedras contra a viatura, quando um policial saiu, sacou a arma e, segundo testemunhas, atirou a sangue frio contra um deles. Alexandros Grigoropoulo, de apenas 15 anos, morreu ao chegar ao hospital.

O bairro de Exarchia é conhecido por reunir jovens anarquistas e foi centro do movimento estudantil que eclodiu em 1973 e que ajudou a derrubar a ditadura instaurada no país em 1968. A região é conhecida também pelas recorrentes incursões policiais, que abusam da brutalidade contra os moradores.

O assassinato despertou a fúria da população, principalmente dos jovens, contra a polícia. A pressão foi tanta que os dois policiais envolvidos no crime foram presos. Um por assassinato e outro por cumplicidade. O governo foi obrigado a pedir desculpas pelo crime. A revolta, no entanto, canalizou o sentimento anti-governo da população, o que deflagrou a maior onda de protestos dos últimos 35 anos no país.

Concentrados nas cidades de Atenas e Salônica, as maiores cidades gregas, as manifestações se espalharam em pelo menos mais 12 cidades. Nesse dia 8, o enterro do adolescente morto pela polícia se transformou em mais uma grande manifestação que enfrentou as forças policias. Todos os dias, organizações de esquerda convocam protestos de rua. Viaturas policiais, carros, edifícios públicos e bancos são incendiados, lembrando a revolta da juventude da periferia de Paris, em 2006.

Protestos de solidariedade ao povo grego e em repúdio ao assassinato ocorrem em outros países. A embaixada da Grécia na Alemanha foi ocupada por jovens durante horas. Atos ocorreram também no consulado do país na Inglaterra.

Governo fragilizado
A revolta tem acuado o governo do direitista Partido Nova Democracia. Além dos casos de corrupção, o governo enfrenta o desgaste de anos de política neoliberal que provocou a privatização de estatais e ataques sobre as pensões. A crise econômica também atinge o país e o desemprego atinge 7%, recaindo principalmente sobre a juventude grega, que ainda enfrenta ataques ao sistema educacional.

A crise política forçou o primeiro-ministro, Costas Caramanlis, a fazer um pronunciamento em rede nacional, pedindo “calma” à população. Uma reunião da cúpula do governo foi convocada às pressas para tentar resolver a grave crise política em que o país está metido.

O governo, no entanto, segue fragilizado e balança em meio aos protestos que seguem cada vez mais fortes nas ruas. A revolta social tende a se expandir, já que os sindicatos marcaram uma greve geral para este dia 9, quarta-feira, contra as reformas trabalhistas e os ataques às pensões.

Veja reportagem da BBC com imagens dos protestos: