'Exige-se que os trabalhadores trabalhem mais, num ritmo brutal'
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Nunca as empresas lucraram tanto no país como agora. No lado dos trabalhadores, porém, o salário não acompanha o crescimento dos lucros e ainda sofre com a inflação dos alimentos. Mais do que isso, exige-se que os trabalhadores trabalhem mais, num ritmo bO crescimento da economia, da produção e das vendas, vem acompanhado pela retirada de direitos e pela maior da carga de trabalho. Isso se expressa tanto no aumento da jornada como na intensidade do próprio ritmo exigido dos trabalhadores. Metas de produção, banco de horas, assédio moral já são realidade entre diferentes categorias, de metalúrgicos a servidores públicos, bancários e professores.

Mais produção, com menos trabalhadores
A crise econômica que desponta nos Estados Unidos ainda não chegou com toda sua força ao Brasil. Apesar de seus reflexos já serem sentidos por aqui, como na inflação dos alimentos, o conjunto da economia ainda apresenta crescimento. De acordo com levantamento do jornal “Valor Econômico”, no primeiro trimestre de 2008 o lucro das 151 principais empresas subiu 9% em relação ao mesmo período em 2007, chegando a R$ 20,4 bilhões.

A indústria é um dos setores que mais se expande nos últimos anos, com destaque para o setor automotivo. Em 2007, foram vendidos 2,4 milhões de veículos. Este resultado supera o recorde anterior, de em 1997, quando 1,9 milhões de veículos foram vendidos.

Os empregos, no entanto, não acompanharam tal crescimento. O número de empregados nas montadoras se mantém no mesmo nível de 1997, ou seja, de 104 mil operários. Isso significa que o mesmo número de trabalhadores que produziam 1,9 milhões de veículos em 1997 produz hoje 2,4 milhões.

Levantamento realizado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria revela que a produtividade do trabalhador em 2007 cresceu quase o dobro que no ano anterior. Enquanto que em 2006 o crescimento da produção por trabalhador nas fábricas foi de 2,5%, no ano seguinte essa taxa pulou para 4,2%.

Para acompanhar o grande aumento da produção, ao invés de realizar novas contratações, as empresas exigem um ritmo ainda maior de trabalho. Além disso, retiram direitos para poderem lucrar ainda mais. É mais barato para a empresa criar um banco de horas ou exigir horas-extras do que contratar mais trabalhadores e investir em equipamentos. Ou seja, utiliza-se a capacidade já instalada, tanto de máquinas como, e principalmente, de mão-de-obra.

Aumento do ritmo em outros setores
A pressão para o aumento do ritmo de trabalho não se dá somente na indústria. No campo, a superexploração é brutal e chega ao ponto extremo de causar a morte do trabalhador. No setor de serviços, tanto no comércio quanto nos bancos, a pressão sobre o trabalhador aumenta a cada dia. Além dos horários flexíveis e da retirada de direitos, há metas a serem cumpridas e uma tensão permanente sobre os funcionários, com assédio moral e sexual.

Entenda o banco de horas
O banco de horas foi instituído no país durante o governo FHC. Em uma conjuntura de crise econômica, usou a manutenção dos empregos como uma justificativa para flexibilizar os direitos dos trabalhadores. Uma chantagem para retirar direitos.

O banco de horas permite que os patrões imponham uma jornada maior sem pagar horas extras. Desta forma, num período de maior produção, o trabalhador é obrigado a trabalhar mais, compensando depois essas horas em folga. Ou seja, o trabalhador fica completamente à mercê do ritmo da empresa. É, na prática, um aumento da jornada de trabalho.

Hoje o banco virou regra. Na Volks do ABC, o trabalhador só pode começar a receber as horas trabalhadas a mais quando atinge 150 horas no banco, que não respeita nem os feriados. “No feriado de Corpus Christi, por exemplo, o sindicato fez um acordo com a empresa para que os operários trabalharem 100% nos três dias”, afirma um metalúrgico da montadora.

Um metalúrgico de São Paulo também reclama do banco. “O meu setor vai trabalhar direto esse mês, incluindo os domingos. Já outro que não tem tanta demanda, o pessoal está tendo folgas no meio da semana”. As folgas, é claro, são abatidas do banco.

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