“Não tenho um caminho novo. O que eu tenho de novo é um jeito de caminhar.” (Thiago de Melo)

Os últimos dois anos e meio chegaram sob mim como um vendaval, intenso e cheio de profundas transformações. Consegui viver neste período o que nem imagina viver três anos atrás, por outro lado, também neste período, reafirmei sonhos e desejos que pensava ser impossível de se concretizar. Conheci pessoas que me mostraram que eu não estava sozinho, que minhas angústias eram compartilhadas com milhares de outras pessoas, e aprendi ainda que melhor do que compartilhar angustias, é transformá-las em ação. É com essa necessidade e convicção que escrevo esta carta, formalizando uma escolha que não precisa de formalidade e nem de palavras bonitas, necessita apenas de ações coerentes e organizadas. Mas preciso explicar os motivos que me levaram reivindicar entrada no Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU.

Nasci há cerca de 21 anos, em Teresina, com 5 me mudei pro interior do estado, pra cidade de Piripiri, por lá tive muitos amigos, amores e desamores. Cresci num mundo onde a televisão ditava o tom da minha voz e o assunto da minha conversa na escola. Onde mudar não era uma opção, mas sim um sonho impossível, utópico. Permanecer e aceitar era a ordem do dia, do mês, no ano, da vida. Sou filho de pai mecânico e mãe costureira, a necessidade material sempre rondou as portas de nossa casa, que na verdade não era nossa, mas eu não tinha outra coisa pra chamar de meu, por isso me apropriei daquele pedaço mal construído, de tijolo de barro e barro puro. É verdade que nunca me faltou o que comer, nem o que vestir, claro que não era uma fartura ou roupas de grife, eu nem gostava disso, mas a comida singela saciava minha fome, as roupas finas, ainda que pouco, me protegiam do sol e da chuva. Aquilo já me bastava.

A necessidade me fez buscar refúgio em locais que não podia pegar, nem ver. Todos os dias, como que fosse regra, sentado na calçada de casa, eu viajava para um mundo diferente, sem desigualdades, sem tantas leis, onde a liberdade era visível no olhar de cada pessoa. Eu não sabia dar nome a esse lugar, e naquele momento eu nem queria fazer isso.

Não me faltava nada, mas só meus pais sabiam o que isso custava. Dia e noite, sob sol e chuva, para meus pais, o trabalho era regra inquebrável. Mas tarde descobri que era assim não por vontade, mas por necessidade. O trabalho não era fonte vida, era um sacrifício. O sacrifício também passava por me deixar em casa, o dia inteiro, aos cuidados da televisão. Naquele tempo eu não percebia isso, mas hoje, bem mais crescido, percebo a necessidade de lutar por outra de forma de organização do trabalho, que só será possível com outra forma de organização social. Não sou mais aquela criança ditada pela tevê, hoje, sou um estudante de comunicação, que pretende mudar a forma como se faz televisão no Brasil, não sozinho claro; hoje sou um jovem socialista, revolucionário, internacionalista, militante do movimento estudantil e da Juventude do PSTU.

Aos 16 anos, me pediram pra tirar o título eleitoral. Eu não fiz. Só tirei o título aos 18, quando fui obrigado, não por preguiça ou por irresponsabilidade, mas por que eu não acreditava que o voto mudaria toda a sujeira que eu via pela tevê e as que a tevê não mostrava. Eu sabia bem o que aquilo significava, é tão tal que quando tirei o título continuei sem votar. Bom… Na verdade eu anulava meu voto, por que não queria legitimar uma eleição que iria contribuir para a destruição do meu país. Em 2010, plena campanha de eleição presidencial, eu comprei um jornal que apresentava um programa de sociedade totalmente diferente dos que já tinha visto. Um tal de Opinião Socialista, do PSTU. Resolvi conhecer mais esse partido, foi quando me disseram que o PSTU não via a eleição como algo estratégico, como seu objetivo final, mas apenas como um meio de dialogo com a população, como uma tática. Parece que encontrei meu lugar.

Mas eu estava tão calejado, tão sem esperança em partidos e políticos que não podia acreditar em poucas palavras bonitas. Foi quando comecei a militar de verdade no Movimento Estudantil, contribuindo com as greves dos professores, fazendo greve e saindo da universidade nas greves dos servidores municipais, fazendários, professores do estado, policiais civis. Em todas essas greves e lutas por direitos dos trabalhadores, eu via uma bandeirinha vermelha, tremulando constante nos céus, nas ruas e praças. Uma bandeira que não tinha medo de se mostrar, nem de colocar de que lado estava. A ação direta, a prática foi, pra mim, o espelho da verdade naquele momento e me mostrou que esse partido, que agora é o Meu Partido, realmente estava do lado dos trabalhadores e que não queria apenas eleger candidatos em campanhas eleitorais, isso era apenas uma tática, que não era descartado, mas que a luta concreta, a ação direta era principio básico.

Conhecer mais, me vez perceber mais. O PSTU é uma ruptura do PT, Partido dos Trabalhadores, que nos traiu ao assumir o poder. Para o meu partido, romper com PT não significou apenas romper com partido que abandou a luta dos trabalhadores, mas significou, sobretudo, manter acessa a chama da transformação social, manter viva a luta de classes, manter aberta a construção de um ambiente propício para a revolução socialista. É para essa construção que dedico minha vida, meu tempo, minha militância.

Eu sempre fui indignado com o mundo, com as desigualdades, com o preconceito, com a exploração, mas não sabia bem como fazer e/ou por onde fazer dessa indignação, ação direta. Por isso o caminho por outra sociedade não é novo, mas o jeito de caminhar é que mudou. Agora caminho organizado, com tática, lado a lado de camaradas que, assim como eu, anseiam por uma revolução mundial da classe trabalhadora, por isso reivindicamos a LIT-QI, Liga Internacional dos Trabalhadores, como ferramenta para a construção da IV Internacional.

Tudo isso foi pra dizer que decidi construir um partido, socialista e revolucionário. O PSTU. Que erra, por que não é perfeito; que é construído por pessoas, que também são imperfeitas e também erram; mas que aponta, em minha opinião, o caminho mais acertado para aquilo que é meu objetivo, transformar essa sociedade de desiguais em uma sociedade socialista, igualitária e comandada pelos trabalhadores.

Foram vários fatores que me fizeram tomar essa decisão, foram meses de reflexão, dúvidas, incertezas, medos. Foram anos de angustias que só eram externadas pelas minhas lágrimas. Mas hoje, as ruas de Teresina me deram a resposta que nenhum livro poderia me dar; mostram-me que é nas ruas que se constrói um partido da classe trabalhadora. E foi nas ruas e praças que eu conheci o PSTU, por isso tenho certeza que estou no caminho mais coerente de acordo com minhas convicções. É como diz Tiago de Melo, não tenho o sol escondido no meu bolso de palavras, sou apenas um homem para quem a primeira e desolada pessoa do singular foi deixando devagar e sofridamente de ser, para transformar-se muito mais devagar e sofridamente ainda na primeira e profunda pessoa do plural.

Por isso deixo junto a essa carta, o convite a conhecer o nosso partido. Um partido que não tem medo de se mostrar, um partido que pertence aos trabalhadores. Vamos juntos, construindo juntos um mundo novo, que já está pronto nos corações e mentes, só falta executar.

* Luan é estudante de Comunicação e integra a Coordenação Nacional da ENECOS (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social)