Desde que a revolução iraniana derrubou o Xá, o controle do imperialismo sobre o Oriente Médio não é inquestionável. Apesar da vitória na guerra do Golfo, com Bush pai, a região continuou instável e ainda tendo que conviver com regimes não confiáveis no Irã e Iraque. Mas o fato mais importante que desestabilizou a área, se deu com a eclosão da segunda Intifada palestina, que ameaça o cão de guarda da ordem imperialista na região, o Estado de Israel.
A doutrina da guerra preventiva se une ao discurso da guerra global contra o terrorismo, eis o pretexto de Bush filho para impor o ordenamento regional que há dez anos os EUA estavam tentando impor infrutiferamente. Bush resolveu atacar de frente esse obstáculo à sua dominação e executar o projeto mais ambicioso do imperialismo norte-americano desde o século XX.
Controle direto e incondicional das riquezas
A proposta do imperialismo hoje passa por modificar todo o mapa político e impor um reordenamento que garanta o controle territorial efetivo e dos recursos energéticos de todo o Oriente Médio e da Ásia Central.
Por isso, está se alterando a política do ex-presidente Bill Clinton de isolamento e desestruturação sistemática do Iraque, expressa nas sanções e na guerra permanente de fustigamento. Agora trata-se de partir para a invasão, a derrubada do regime de Saddam Hussein e o controle direto e incondicional das riquezas.
É claro que Saddam Hussein atua como um ditador, além de oprimir o povo curdo. Mas são os povos iraquiano e curdo que têm o direito de derrubar Saddam e decidir seu destino. Uma invasão dos Estados Unidos não só não tem nada que ver com a defesa dos direitos desses povos como, ao contrario, só trará mais morte e sofrimento para todo o Oriente Médio. Haja visto o respaldo dos EUA ao governo turco que reprime violentamente os curdos e a Ariel Sharon, o açougueiro dos palestinos em Sabra e Chatila. Por outro lado, o fato de ser Saddam quem está à cabeça do Iraque é um grande obstáculo que deixa dúvidas sobre a força da resistência das massas iraquianas e da solidariedade regional.
A mentira dos planos de Paz
A política dos EUA sempre foi premiar com generosos subsídios os governos de Egito, Jordânia e Arábia Saudita, os tiranos amigos. Os planos de paz de Clinton não conseguiram estabilizar a região, em particular devido à Intifada e também pela permanência dos regimes iraquiano, sírio e iraniano, que não eram tiranos amigáveis, mas hostis. Bush filho, agora quer impor diretamente regimes dóceis em toda a região.
O que não foi possível resolver através dos planos de paz e da colaboração dos dirigentes corruptos, desta vez deve ser resolvido diretamente pela guerra.
Por isso, agora se deixa de lado o falso discurso da paz promovido na Conferencia de Madrid e nos Acordos de Oslo de 1993, dando a luz verde ao governo de Ariel Sharon para que resolva com repressão e massacres a questão palestina. E o regime de sanções aplicado por 11 anos ao Iraque, já não é suficiente. Agora é necessário passar por cima até mesmo das débeis resistências dos aliados ocidentais e da Rússia para depor militarmente um governo.
O projeto imperialista inclui uma nova ordem colonial que garanta o retorno da região a um sistema de protetorado sob o controle unilateral dos EUA.1 Pensam em dividir o Iraque em três partes, deixando o centro com Bagdá nas mãos de um general norte-americano (como já fizeram com o Japão no pós II Guerra). Uma das hipóteses em estudo é dividir de tal forma o Iraque, de forma que alguns territórios ricos em petróleo fiquem sob controle da Jordânia e que esta receba em troca boa parte da população da Cisjordânia, aliviando assim a preocupação de Israel quanto à bomba demográfica que significa o crescimento vegetativo maior da população palestina em comparação com a judia. Para garantir o sucesso da invasão ao Iraque, os militares norte-americanos estão estudando as táticas usadas por Israel na ocupação de Jenin, onde, como diz a própria Anistia Internacional, foram cometidos crimes de guerra.
A invasão do Iraque e a questão Palestina
Essa política criou uma situação explosiva em todo mundo árabe. Por mais dependentes que sejam dos EUA, governos de países como Arábia Saudita ou Egito tem tentado demover o governo Bush de uma invasão direta contra o Iraque. Temem a resposta que suas populações possam dar a tal imposição imperialista e aos massacres que vão acompanhar a mesma. Para piorar ainda mais a tensão, frente às reticências de seus tradicionais aliados no mundo árabe, os EUA deram carta branca a Israel e elogiaram Sharon como homem de paz. Chegaram à conclusão que seu único aliado incondicional na região está no Estado sionista.
Essa postura imperial e pró-sionista do governo Bush se materializa em que a única saída para a Autoridade Nacional Palestina (ANP) dentro da atual política de Washington, se quiser ser ainda relevante, seria formalizar em áreas da Cisjordânia e Gaza um Estado palestino tutelado, com sua segurança monitorada pela CIA e sob controle de Israel, o que não seria mais que um protetorado dos EUA.
Para culminar, Bush articula com Sharon a participação aberta de Israel na guerra contra Iraque, junto à efetivos de exércitos regionais árabes, como o jordaniano, de Oman e do Kuwait. Segundo o jornal Washington Post de 18 de outubro, mais de 1.000 tropas de operações especiais dos EUA realizaram manobras de treinamento em território jordaniano com tropas da Jordânia, Omã e Kuwait: denominadas Vitória Rápida estavam centradas em missões encobertas dentro da fronteira do inimigo. O incrível é que o governo Bush pretenda com isso evitar os protestos populares quando se produzam os ataques e a ocupação do Iraque. Ele está atiçando gasolina ao fogo que já é bem alto.
A ofensiva imperialista e a cumplicidade dos governos corruptos pode estender a instabilidade a outras áreas. A Jordânia já teve um atentado contra um diplomata norte-americano, no primeiro assassinato de um diplomata ocidental nesse reino.
Também não se pode esquecer que a exigência de aplicação dos planos neoliberais nos países aliados já levou a efeitos políticos indesejados por Washington e que tornam ainda mais volátil a região. Vide a Turquia, com uma aguda crise econômica expressa nas eleições: o governo Ecevit perdeu com 1% dos votos para uma coalizão dirigida por setores islâmicos.
Post author José Weil,
da revista Marxismo Vivo
Publication Date