Petróleo e armas: o motivo da guerra
O cheiro de petróleo era forte na guerra do Golfo, e ainda mais forte na guerra do Afeganistão. No Iraque, esse cheiro domina totalmente a cena.
Em meio à crise, as ações de guerra de Bush têm por objetivo, além de garantir lucros para suas empresas de energia com o controle das riquezas minerais de regiões estratégicas, dar uma saída para setores de peso da indústria de armamentos e tecnologia dos EUA. E têm obviamente o patrocínio das empresas de petróleo e suas fornecedoras. A imprensa noticiou um relatório do Deutsche Bank sobre as grandes companhias norte-americanas da área que já estão preparando sua participação no botim do Iraque, pensando ganhar bilhões de dólares com a exploração dos quase 4 milhões de barris diários produzidos pelos campos de petróleo iraquianos.
A exacerbação dessa tendência militarista a partir de Bush cai como uma luva também para os gigantescos grupos multinacionais da área de armamentos. A crise econômica e a queda da taxa de lucros fazem com que as exigências dos falcões por mais investimentos na área militar dos EUA venham em encontro aos pedidos das multinacionais do setor para estimular a economia norte-americana frente à recessão.
Mas depende também do resultado concreto da guerra que a invasão seja um êxito para a economia. Jeffrey Sachs, apóstolo e aplicador da receita neoliberal em vários países, como Polônia e Rússia, opina que é um desastre, a não ser que a guerra acabe em… 15 dias. Porque uma das características do funcionamento do capitalismo atual é manter a bicicleta financeira pedalando todo o tempo. Uma guerra, se por um lado abre boas perspectivas para as empresas diretamente interessadas em armas e energia, pode precipitar novas crises de empresas importantes e de países e acelerar um novo mergulho na recessão.
As eleições reforçaram o cacife de Bush
Bush acaba de ganhar as eleições, mantendo a maioria da Câmara e tomando o controle do Senado. Recebeu uma autorização para implementar suas resoluções e ir à guerra. Esta vitória tem a ver com sua popularidade, que cresceu após os atentados de 11 de setembro e está na casa dos 65%. E também com a falta de opção oferecida pelos democratas. Mas é bom lembrar que somente 38% dos eleitores compareceram às urnas. Embora os partidos Republicano e Democrata tenham se disciplinado à sua política de guerra, nem tudo são flores para Bush.
Ele enfrenta um momento de crise econômica e, ainda que tenha imposto uma certa unidade agora, isso potencializa as divisões no próprio imperialismo dos EUA. Há um grande acordo na cúpula sobre os objetivos estratégicos, mas existem dúvidas sobre os resultados de uma operação de guerra no Iraque hoje. Daí uma oposição no Congresso expressa nos pronunciamentos públicos de Albert Gore e Edward Kennedy, que não refletem uma postura pela paz, mas uma preocupação com os resultados da invasão.
O Congresso afinal aprovou a resolução, com a colaboração dos democratas, mas com sintomas de divisão. Hoje há uma opinião pública majoritária nos EUA que acredita em seu governo e apóia a guerra, devido ao medo gerado pelos atentados de 11 de setembro. Baseado nisso, Bush pressionou abertamente e o Congresso aprovou a autorização para a Guerra contra o Iraque. Mas há um processo de crise em curso que afeta cada vez mais os trabalhadores norte-americanos. A maioria da população dos EUA já começou a se preocupar mais com a questão econômica que com as ameaças do terror, segundo as pesquisas.
Os EUA e a ONU: manda quem pode, obedece quem tem juízo
A forma como o governo dos EUA extorquiu uma resolução de acordo com seu objetivo no Conselho de Segurança da ONU foi pública e notória. Para todos aqueles que acreditam no papel da ONU como parlamento mundial democrático, o comportamento submisso dos membros do Conselho de Segurança foi uma lição prática de que ela continua sendo um instrumento a serviço do imperialismo dominante.
Bush trata seus aliados como vassalos e eles aceitam, tanto os social-democratas como os conservadores. O primeiro-ministro alemão, Schroeder, cuja recondução ao posto foi beneficiada pelo sentimento antiguerra e anti-EUA, trata agora de retomar as boas graças de Bush. A França ainda ofereceu alguma resistência à resolução do Conselho de Segurança, mas negociou o tempo todo nos bastidores (assim como a Rússia) como ficaria o futuro do petróleo do Iraque em caso de invasão, visando assegurar seus investimentos no país. No final, aceitou a essência do que propunha desde o início o governo dos EUA.
Mas se os governos europeus aceitam uma condição secundária frente à hegemonia dos EUA, seus povos cada vez mais se indignam contra a política abertamente imperialista e as manifestações se sucedem e se ampliam em um ritmo não visto há muitos anos.
Post author José Weil,
da revista Marxismo Vivo
Publication Date