O escândalo sobre a alegação fraudulenta de George W. Bush de que o Iraque desenvolvia armas nucleares revela uma das maiores mentiras de Washington: a de que sua guerra não tinha nada a ver com o petróleo e o império. Agora as críticas contra Bush estão crescendo, apesar dos esforços da Casa Branca para tirá-lo do fogo cruzado.
Os chefes militares de Washington se revelaram dispostos a dizer e fazer qualquer coisa para realizar seu impulso de dominar o mundo, chegando a um ponto no qual até mesmo os bem comportados meios de comunicação norte-americanos estão sendo obrigados a dar atenção ao tema das mentiras de Bush, que ultrajaram o mundo inteiro.
As armas de destruição em massa e os supostos programas nucleares sempre foram uma cobertura para os verdadeiros objetivos de Bush: reforçar o poder estadunidense para se apoderar da segunda maior reserva de petróleo mundial.
Mas o controle do petróleo não é um fim em si mesmo. Os falcões da administração Bush utilizam as reservas de petróleo do Iraque como um dos meios para alcançar os objetivos apresentados no documento intitulado A Estratégia de Segurança Nacional. O objetivo central deste documento é dotar os EUA dos meios que evitem o aparecimento de qualquer rival estratégico, seja na Europa ou na Ásia.
Em outras palavras, a guerra é uma conseqüência do sistema imperialista mundial: dominado pelos EUA, mas que também inclui os grandes poderes da Europa Ocidental e o Japão.
A concorrência entre os poderes imperialistas foi a principal razão das diferenças entre os EUA e Europa em relação à guerra do Iraque. E não o aparente rechaço do governo francês em sujar as mãos, como diziam os direitistas norte-americanos.
É um fato que soldados franceses, sob o manto da pacificação, impõem hoje a ordem imperialista mundial no leste do Congo e na Costa do Marfim, na África. Estas chamadas intervenções humanitárias escondem o que realmente está em jogo: o reforço da França para conservar seu papel como força dominante no seu antigo império colonial rico em recursos naturais.
Tampouco uma possível intervenção dos EUA na Libéria será motivada pela preocupação com o sofrimento causado pela guerra civil. Washington criou as condições para a matança na Libéria durante os anos 80, quando apoiou a ditadura do Sargento Samuel Doe. A ditadura de Samuel foi criada pela CIA, para tentar desestabilizar a Líbia e deter o movimento de libertação nacional na África do Sul.
Desde então, os EUA buscaram a estabilidade na região através de seu apoio a forças de pacificação lideradas por nigerianos, a ponto de dar sua benção ao golpe militar de Charles Taylor, na Libéria. Se agora os EUA se voltaram contra Taylor, é porque a guerra ameaça a estabilidade de uma região rica em petróleo, que a cada dia é mais importante para a economia dos EUA.
Por isso tudo, é um grande erro pedir a intervenção dos EUA na Libéria, inclusive alegando questões humanitárias. O Pentágono que intervirá na Libéria é o mesmo que destruiu de forma brutal o Iraque e que hoje mantém sua dominação neste país com mão de ferro. Apoiar a idéia de uma intervenção militar humanitária somente oferece a cobertura política aos EUA para seu próximo ataque preventivo.
A administração de Bush pode dizer que a África não é importante o bastante para uma intervenção de peso. Mas ninguém pode garantir que a mesma desculpa não seja usada contra o Irã, com sua composição estratégica e suas reservas de petróleo.
Por trás da guerra contra o terrorismo – que vai durar décadas segundo a Casa Branca – está a dinâmica do sistema capitalista mundial. O capitalismo baseia-se na concorrência (em uma economia global dominada por um pequeno número de multinacionais gigantescas) e na rivalidade econômica que produz a disputa política e, em última instância, também a disputa militar entre os Estados Nações.
Os capitalistas dos países avançados compartilham o mesmo interesse de explorar os Estados mais débeis e menores através dos empréstimos e dos programas de ajuste estrutural do FMI e do Banco Mundial. Mas os poderes imperialistas também competem entre si, tanto econômica como politicamente, apesar de não competirem ainda do ponto de vista militar.
A disputa entre os EUA e Europa sobre as tarifas do aço, por exemplo, e a guerra do Iraque são dois lados da mesma moeda: a luta entre uma quadrilha de irmãos, como Marx definiu a classe capitalista. Esta situação converteu o mundo em um lugar ainda mais instável, com ainda mais guerras, como resultado da ofensiva estadunidense para a dominação global.
Os ativistas do movimento anti-guerra nos EUA têm que usar o escândalo da guerra do Iraque para construir um movimento que se oponha ao conjunto do projeto imperialista norte-americano.
Post author da redação do Socialist Worker (EUA),
especial para o Opinião Socialista
Publication Date